O Brasil vai perder a revolução da mobilidade?

Segundo recente relatório do Forum Econômico Mundial, o Brasil está entre os países com pouco preparo para realizar uma transformação econômica & (Imagem: Arquivo/Agência Brasil)

O desafio brasileiro na questão da infraestrutura há muito deixou de ser apenas urgente. Ele será, em poucas palavras, o fator decisivo para o país embarcar no futuro com a construção de uma economia mais sustentável e pautada pela inovação ou seguir na lanterna e ficar de fora de um mercado global que não para de acelerar a transformação dos negócios em todos os setores.

Segundo recente relatório do Forum Econômico Mundial, o Brasil está entre os países com pouco preparo para realizar uma transformação econômica capaz de promover melhorias nos serviços públicos, investimentos verdes e digitalização, três pilares fundamentais para garantir nossa competitividade no novo mercado.

Não tem conversa. Se quiser participar da nova economia global em rápida construção, o País precisa se apressar em resolver seus gargalos.

Um dos principais é o Transporte, que segue represando nosso desenvolvimento econômico e aumentando nosso custo logístico com um modal rodoviário que permanece o mesmo há 1 século, tanto para o transporte de passageiros como de cargas. Afora a concentração neste modal, o panorama das nossas estradas continua pouco animador.

O retrato das nossas rodovias está em pesquisa realizada pela 💥️CNT (Confederação Nacional dos Transportes), que analisou 108.863 km de estradas brasileiras. Alguns números:

& 78,5% das rodovias não são pavimentadas considerando toda malha rodoviária nacional;

& 59% da malha pavimentada apresenta algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima;

& as condições da pavimentação tiveram um impacto de 28,5% de aumento no custo operacional do transporte;

& o prejuízo ocasionado por acidentes foi de R$ 9,73 bilhões em 2018, ano em que o governo investiu R$ 7,48 bilhões na infra de transporte rodoviário;

& em 2023 foram consumidos desnecessariamente 931,8 milhões de litros de diesel por conta da má qualidade das estradas.

Entre 18 países, o Brasil ocupa o 17º lugar em ranking da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que mede a qualidade da infraestrutura de transportes.

Enquanto seguimos tapando buracos, acumulando desperdícios, prejudicando o ambiente e falando em ampliação de rodovias, acompanhamos com um misto de admiração e a esperança de um mundo melhor o desenvolvimento tecnológico global no setor de transportes.

Sustentabilidade, velocidade e ROI são os 3 fundamentos do transporte do futuro.

A aceleração desta transformação já começou e irá incluir desde o fim do uso de combustíveis fósseis com a saída das garagens de empresas como 💥️Tesla, 💥️Mercedes-Benz, 💥️Volvo, Byd e 💥️Apple (a 💥️maçã acaba de anunciar que irá entrar na corrida) de carros e caminhões elétricos até veículos autônomos e, imaginem só, táxis voadores e dispositivos que irão permitir ao homem realizar o sonho de voar como um pássaro ou viajar em uma cabine suspensa por tubos, como já previam os The Jetsons.

Nas estradas, o atrito dos pneus com painéis solares no asfalto irá gerar energia renovável e carregar os carros elétricos durante a viagem, enquanto sensores de temperatura indicarão aos motoristas se há riscos de nevar e a mesma energia é utilizada para derreter o gelo e a neve.

Nosso carro nunca mais será o mesmo. A proliferação global dos veículos autônomos está prevista para 2040, gerando economia direta e indireta que pode chegar a US$ 7 trilhões em 2050.

A Inteligência Artificial e os algoritmos farão uma grande revolução e terão enorme impacto no desenvolvimento de cidades inteligentes, aumentando a segurança, diminuindo o tráfego e a emissão de poluentes.

Mas, para toda esta tecnologia funcionar e transformar os transportes será preciso uma infraestrutura de primeira e muito investimento em inovação.

Carro voador da Embraer eVTOL EmbraerX Eve

Carros voadores e drones que carregam passageiros (isso mesmo!) precisarão de aeroportos (Imagem: Divulgação/ Eve)

Não à toa que as empresas de transporte do futuro estão concentradas em países desenvolvidos. Carros, caminhões e ônibus autônomos só poderão circular em ruas muito bem mapeadas, sinalizadas, asfaltadas.

Carros voadores e drones que carregam passageiros (isso mesmo!) precisarão de aeroportos. Será preciso seguir investindo em pontos de abastecimento e energias renováveis para popularizar o carro elétrico.

💥️Personalização

A incorporação de novas tecnologias, como Inteligência Artificial, Machine Learning e Internet das Coisas, estará por trás de toda esta transformação e invenção de novos meios de locomoção.

Passaremos da era do transporte analógico, com pouco ou nenhum recurso tecnológico, para era da Mobilidade como Serviço (MaaS), conceito que viabilizará a personalização dos serviços combinando transporte público e privado.

Na ponta dos dedos, em um app o usuário poderá chamar um táxi autônomo elétrico, que está estacionado carregando na estação movida à energia solar mais próxima, e embarcar em uma viagem para um destino surpresa escolhido pelo próprio veículo a partir do perfil do viajante, como um restaurante que tem a sua cara e ele ainda nem mesmo conhece. Detalhe: o próprio app já se encarregou de fazer a reserva.

A finlandesa MaaS Global é uma das que está com os dois pés no acelerador rumo ao futuro do transporte.

Com investidores como BP Ventures, Mitsubishi Corporation e o fundo japonês Nordic Ninja, a startup quer lançar internacionalmente um sistema de assinatura de transportes multimodal já acessível pelo seu app Whim, que, basicamente, oferece diversos planos de assinatura que permitem aos passageiros reservar e pagar para utilizar ônibus, trens, bikes, carros e muito mais, tudo em um só app.

Quanto mais dados a startup acessar sobre o sistema de transporte das cidades, mais terá condições de aprimorar os serviços dando recomendações aos usuários em tempo real.

💥️Em alta velocidade

Os projetos de revolucionários sistemas inteligentes de conexão entre cidades seguem em alta velocidade em vários cantos do planeta.

Um deles pretende interligar Pittsburgh, Cleveland e Chicago por um 💥️hyperloop, um sistema para transportar passageiros e cargas em um trem que atinge mais de 500 mph (cerca de 800km/h) viajando em tubos de baixa pressão.

Nesta velocidade, o trajeto total de 489 milhas entre Pittsburgh e Chicago será realizado em menos de 1 hora enquanto um voo direto entre as duas cidades leva em torno de 1h40m.

Um estudo realizado pela Northeast Ohio Areawide Coordinating Agency e a Hyperloop Transportation Technologies Inc. confirmou a viabilidade econômica e o potencial de geração de um alto ROI do projeto, que se mostrou autossustentável e independente de subsídios governamentais.

O custo previsto para construção de todo sistema é de US$ 40 bilhões e a expectativa dos investidores é que gere um lucro operacional de US$ 30 bilhões durante os primeiros 25 anos.

Aqui no Brasil, o Governo do Rio Grande do Sul e a HyperloopTT irão fazer um estudo de viabilidade para implantar o primeiro sistema na América Latina na rota Porto Alegre – Serra Gaúcha, oferecendo viagens de passageiros e cargas em uma velocidade de até 1.200 km/h.

💥️Voos autônomos e carros voadores

💥️ O transporte terrestre não será, claro, o único a passar por grandes transformações nas próximas décadas. O que dizer do projeto de 💥️carro voador apresentado pela EmbraerX, subsidiária da 💥️Embraer (💥️EMBR3) para negócios disruptivos? Já pensou pegar um Uber, empresa parceira do projeto, e sair voando pela cidade para driblar o trânsito?

Pois é uma realidade que pode estar bem mais perto do que você imagina. O protótipo do eVTOL (veículo elétrico de decolagem e aterrissagem vertical) é um tipo de drone-helicóptero-SUV e a missão da Embraer, que ainda parece impossível, é torná-lo acessível a todos.

A empresa garante que o sistema será altamente confiável, terá baixos custos operacionais e, melhor ainda para o meio ambiente, será 100% elétrico e com baixa produção de ruídos. No final de 2023, a Embraer lançou a startup 💥️Eve, uma subsidiária dedicada ao mercado de mobilidade área urbana que estará à frente do projeto do eVTOL.

Outra empresa que planeja decolar no mercado de táxis voadores autônomos com modelos eVTOL é a alemã Volocopter. Teria coragem de embarcar em um destes sem piloto?

O Volocity, um modelo elétrico carregado por nove baterias, terá assento para um único passageiro, inicialmente, mas só terá autonomia depois que a empresa ganhar a confiança dos usuários. Os primeiros voos comerciais estão previstos para 2022.

Quer voar um pouquinho mais longe? Que tal então embarcar na primeira missão de turismo espacial da SpaceX, a empresa de 💥️Elon Musk, que será lançada ainda no quarto trimestre deste ano? Batizada de Inspiration4, a missão usará o Falcon 9, foguete reutilizável da SpaceX.

O lançamento será no Centro Espacial Kennedy, na Flórida. Se for residentes nos EUA e tiver mais de 18 anos você pode concorrer a um assento no site Inspiration4.com.

Renato Franklin, CEO da 💥️Movida (💥️MOVI3), deixa seu recado: “A Transformação da mobilidade é um caminho sem volta. Tendências como a personalização, eletrificação, digitalização e automação estão ainda mais fortes e foram aceleradas pela pandemia.

Em um país como o Brasil, temos muitos desafios, desde culturais até a infraestrutura e a falta de competitividade para desenvolvimento de novas tecnologias. Cabe a nós, brasileiros, empresários e executivos contribuirmos para viabilizar essa transformação e a construção de um país melhor”.

Há muitas grandes transformações em curso no transporte mundial de hoje e do futuro. Para embarcar na inovação e não perder a revolução da mobilidade, o Brasil precisa se apressar e começar a investir ontem em infraestrutura.

É isso ou ficaremos para trás, perdendo turistas que irão buscar mais conforto em suas viagens e empresas que irão preferir mercados mais eficientes e com melhores custos logísticos.

Orlando Cintra é Membro do Conselho de empresas como SMARTIe (Solvi Ambiental), Solstic Advisors e HyperloopTT, além de Founder & CEO do BR Angels, grupo de investimento-anjo formado por CEOs e empreendedores. Como Executivo de grandes corporações como SAP, HP e Informatica Corp, atuou em diversas posições como Presidente e Vice-Presidente Sênior para América Latina

Ricardo Penzin é Diretor da Hyperloop Transportation Technologies na América Latina

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