De falta de combustível a menos dividendos: tudo o que pode dar errado na intervenção da Petrobras
Pela culatra: intervenção de Bolsonaro pode repercutir muito além do mercado de ações (Imagem: Reuters/Sergio Moraes)
💥️A decisão do presidente 💥️Jair Bolsonaro de trocar o comando da 💥️Petrobras (💥️PETR3; 💥️PETR4) pode ter consequências que vão muito além da forte queda das ações da companhia nesta segunda-feira (22). Uma eventual mudança na política de preços da estatal impactaria não apenas os investidores, mas também os consumidores.
A avaliação é do 💥️BTG Pactual (💥️BPAC11), que divulgou um extenso relatório sobre a indicação do 💥️general Joaquim de Silva e Luna para substituir 💥️Roberto Castello Branco na presidência da Petrobras.
Thiago Duarte, Pedro Soares, Daniel Guardiola e Ricardo Cavalieri, que assinam a análise, afirmam que, nos últimos anos, recomendaram a compra das ações da Petrobras, com base em três pilares: crescimento da produção sustentado pelo pré-sal; queda do endividamento, por meio da venda de ativos e de uma política racional de dividendos; e redução do risco político e independência para estabelecer seus preços de acordo com o mercado.
“Com os acontecimentos dos últimos dias culminando na decisão do acionista controlador de solicitar a substituição do Diretor Presidente, não temos mais a confiança de que esses pilares permanecerão”, afirmam os analistas.
Prognósticos
Diante de tantas incertezas, o BTG Pactual reduziu a recomendação para as ações de compra para neutra, com preço-alvo de R$ 29 para as preferenciais (PETR4).
Mas, tão importante quanto saber o que fazer com os papéis agora, é captar as possíveis consequências da interferência de Bolsonaro na Petrobras. Dispersos pelo relatório do BTG, estão cinco possíveis impactos que viriam de uma gestão mais alinhada ao Palácio do Planalto.
Veja o que pode acontecer com seu bolso, a economia e o Brasil, caso Silva e Luna adote uma política de preços ao gosto de Bolsonaro.
1. Perda de receita e caixa
Embora a Petrobras tenha colocado oito refinarias à venda, a estatal ainda deterá cerca de 50% da capacidade nacional de refino. Assim, ao vender combustíveis às distribuidoras por um preço menor que o de mercado, deixará de faturar o que poderia, e, mais dia, menos dia, isso vai bater no caixa.
Oficial de ordens? Silva e Luna colocará um cabresto na Petrobras, a pedido de Bolsonaro? (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O BTG Pactual ressalta que, hoje, o fluxo de caixa da estatal é mais dependente da exploração e produção de petróleo, o que restringe o impacto da venda de derivados por preços subsidiados. Ainda assim, se os subsídios ficassem próximos dos praticados entre 2011 e 2013, o banco estima que o ebitda deste ano seria reduzido em 20% sobre a atual estimativa.
2. Menos dividendos
Com o dinheiro curto, ficaria mais difícil distribuir bons dividendos para os acionistas – incluindo o próprio governo federal. O quarteto do BTG lembra que, pela atual política de dividendos, quando a dívida bruta da Petrobras cai abaixo de US$ 60 bilhões, a estatal pode elevar a distribuição de dividendos para 60% do fluxo de caixa livre.
“De acordo com nossas estimativas atuais, que assumem margens de downstream apenas ligeiramente menores, isso poderia ser alcançado em algum momento em 2022/23 (ou mesmo antes, dependendo do ritmo de vendas de novos ativos), gerando atraentes dividend yields de dois dígitos”, afirmam os analistas.
Eles acrescentam que, agora, a dúvida é “se o aumento das preocupações políticas com relação à política de preços e investimentos da PETR também não significará que a empresa também retornará à postura de favorecer o crescimento em detrimento de valor.”
3. Perda de valor das refinarias
A mudança no topo da Petrobras chega, justamente, quando a companhia está vendendo suas refinarias para se adequar às exigências do Cade. Para o BTG Pactual, o risco, agora, é que os potenciais interessados em comprá-las percam o interesse ou barganhem preços menores.
O motivo é simples: todo o esforço de Bolsonaro, ao colocar um cabresto na estatal, é conter o preço dos combustíveis na bomba. Para tanto, o passo fundamental é evitar que as refinarias da Petrobras aumentem seus preços de venda. A pergunta é se, uma vez privatizadas, essas refinarias também não seriam pressionadas a conter reajustes em prol dos interesses políticos do ex-capitão.
“Mesmo se a venda [das refinarias] continuar, também acreditamos que o valor de mercado dessas refinarias será muito menor”, dizem os analistas.
4. Falta de combustível
No limite, o BTG Pactual não descarta uma eventual escassez de combustíveis. Atualmente, ao vender derivados de petróleo pelos preços do mercado internacional, a Petrobras sinaliza para as redes de postos que elas não perderão nada, caso importem combustível para completar a demanda.
Tanque vazio: postos podem perder interesse em importar o necessário para atender à demanda doméstica (Imagem: Gustavo Kahil/Money Times)
Isso é importante, porque, de fato, o Brasil importava, antes da pandemia, entre 10% a 20% do volume de diesel e gasolina que consumia.
Mas, se a Petrobras começar a segurar os preços em suas refinarias (que representarão 50% da oferta, após a venda das demais), entrará em ação a velha lei de maximização dos lucros. No período de Dilma Rousseff, os subsídios permitiram que a estatal vendesse seus derivados por cerca de 80% do valor de mercado.
Se isso se repetir, as redes de postos não terão estímulo nenhum para comprar derivados das refinarias privatizadas, que, ao seguir a cotação internacional, oferecerão os produtos por um preço maior que os da Petrobras. Mas, mesmo que as refinarias privatizadas acompanhem a tabela da estatal, os postos podem não ser estimulados a importar os até 20% de combustíveis necessários para completar a oferta interna.
“A política de preços abaixo do IPP [Índice de Preços ao Produtor, apurado pelo IBGE] poderia levar a um problema ainda maior: a escassez de combustível”, adverte o BTG Pactual.
O banco acrescenta que “a Petrobras é forçada a buscar o IPP independentemente da vontade política para que o mercado seja incentivado a importar combustível para atender ao excesso de demanda de diesel e gasolina.”
Caso as redes de postos decidam que não vale a pena pagar mais caro pelo produto importado, a lei da oferta e da demanda elevaria automaticamente os preços na bomba. Justamente o que Bolsonaro quer evitar, ao “meter o dedo” na Petrobras.
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