Rodolfo Amstalden: Nado em água doce, sonhando com o mar

Rodolfo Amstalden

“Em certos (errados?) trechos, parece que o curso da água está correndo rumo a outras direções, divergentes do oceano”, diz o colunista. (Imagem: Murilo Constantino/Empiricus)

O rio corre para o mar.

Em toda sua sabedoria interiorana, os filósofos João Mineiro e Marciano entendiam que essa é a frase que, com apenas seis palavras delineadas, resume a vida.

“Você pode até não gostar, mas o rio corre para o mar…”.

Se me permitem, se ainda dá tempo, eu adicionaria apenas duas palavras:

O rio, em curvas, corre para o mar.

Em certos (errados?) trechos, parece que o curso da água está correndo rumo a outras direções, divergentes do oceano.

#JoesleyDay.

#GameStop.

#BolsoDilma.

Mas então, de repente, a topologia do terreno se rende à gravidade soberana, devolvendo o rio ao seu percurso natural.

Na história da Filosofia, essa frase foi muitas vezes confundida com o determinismo — o que considero uma leitura pobre da obra de João Mineiro e Marciano.

Não pretendo descartar por completo o papel do determinismo, mas a causalidade e a sincronicidade também desempenham funções importantes para explicar por que o rio corre para o mar.

No nosso caso, entretanto — no caso de nós, 💥️investidores que nadam em água doce em busca da água salgada —, não faz tanta diferença tentar decompor os reais motivos.

O que importa, no fim das contas, é a teimosia de um rio que sabe exatamente onde deve desaguar.

Se não tivéssemos a fé empírica (o empirismo sem fé é espúrio, a fé sem empirismo é manipulável) de que o rio, eventually (desculpe, tem que ser inglês aqui), corre para o mar, o investimento seria, puramente, um ato de sorte e de azar.

Mas não é o caso. Para a nossa sorte, não depende só da sorte.

Até mesmo o rio Pinheiros, por tanto tempo asfixiado, ainda reúne forças para correr para o mar.

VALE corre para RIO que, por sua vez, corre para a disputada área no mar da China.

Nossa única razão de ser é enriquecer, acumular fôlego, nadar e nadar na água doce, até alcançar a desejosa água salgada.

A rigor, porém, cuidado antes de mergulhar: um rio pode ter como foz outro rio, um lago, uma lagoa, um mar ou o oceano.

Nem todo rio corre, de fato, para o mar. Essa é a verdade que, antes, eu não quis falar.

Assim se resumem as vidas dentro da vida.

O que você está lendo é [Rodolfo Amstalden: Nado em água doce, sonhando com o mar].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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