Ana Westphalen: Comprar ou vender Petro?

“Antes que você ache isso uma tremenda viagem, vou direto ao ponto: não há, a priori, uma resposta certa sobre comprar ou vender Petrobras”, afirma

Sou uma pessoa muito mais “humanas” do que “exatas”. Na escola, tinha especial curiosidade sobre como seria ter aulas de Filosofia, o que só foi acontecer no segundo ano do colegial.

Lembro bem da minha ansiedade ao abrir o livro “Convite à Filosofia”, de Marilena Chaui, aquele que seria meu passaporte para finalmente descobrir do que se tratava aquela matéria. Caneta grifa-texto em punho, comecei a ler. E foi muito frustrante.

Virava páginas e mais páginas à procura de uma frase pronta, daquelas que imploram para serem grifadas. Sem chance. Era mais fácil a ponta da caneta secar (ou eu pegar no sono) do que aparecer um conceito pronto, uma verdade absoluta. Estranhamente, o texto só trazia perguntas. Perturbador.

A autora falava sobre a importância da tal “atitude filosófica”, que consiste em basicamente negar tudo o que faz parte do senso comum, e, posteriormente, questionar por que cada coisa é como é. Enfim, desenvolver uma postura crítica sobre absolutamente tudo.

Antes que você ache isso uma tremenda viagem, vou direto ao ponto: não há, a priori, uma resposta certa sobre comprar ou vender 💥️Petrobras (💥️PETR3;💥️PETR4) neste momento. Porque as decisões de investimento estão mais para o livro da Marilena Chaui — cheio de perguntas —, do que para os manuais de Matemática, que trazem as soluções para os problemas nas páginas finais.

O gestor 💥️Luis Stuhlberger, do renomado fundo 💥️Verde, tem um posicionamento famoso sobre investimento em estatais.

Ele disse certa vez que prefere fugir desses papéis, pois, em sua visão, não faz sentido investir em uma empresa cujo objetivo é servir ao Estado.

A frase foi muito lembrada na última segunda-feira (22), dia em que as ações da Petrobras caíram mais de 20% após interferência do presidente 💥️Jair Bolsonaro no comando da estatal.

Passado o pregão sangrento, foi ganhando espaço a percepção de que a indisposição do presidente com 💥️Roberto Castello Branco havia sido circunstancial, e não representaria uma guinada intervencionista à lá Dilma.

“Hora de comprar Petro?” A essa altura, a companhia reportava o maior lucro trimestral já registrado por uma empresa listada na Bolsa, de R$ 59,9 bilhões no quarto trimestre de 2023 — saideira de Castello Branco. Ao mesmo tempo, Bolsonaro amenizou o discurso, prometendo não intervir na política de preços da companhia…

Henrique Bredda, da Alaska, aumentou levemente a posição após a sangria de segunda-feira. Além dos múltiplos baixos, ele destaca a perspectiva de crescimento das exportações (Imagem: Reprodução/LinkedIn Henrique Bredda)

“Vende Petro.” Nem 24 horas depois, o presidente falava em alto e bom som que as empresas estatais devem desempenhar função social e que o general Silva e Luna dará uma nova dinâmica à companhia… Como era mesmo a frase do Stuhlberger?

Entre as idas e vindas que couberam nesta semana insana, a maioria dos gestores de ações indicados aqui na série  Os Melhores Fundos de Investimento preferiram manter as posições em Petrobras na carteira. A principal motivação tem sido o preço considerado baixo ante à perspectiva de crescimento da companhia. Mas está longe de ser uma decisão simples.

“É um ativo muito barato, em um momento em que tudo o que é tema de crescimento testa múltiplos bem altos, eu diria nunca vistos”, explicou o gestor Luis Felipe Amaral, da Equitas. O valuation é especialmente atrativo quando comparado às pares da petrolífera. A Petrobras representa atualmente 9% da carteira do fundo e a ideia é manter a posição nesse tamanho.

O gestor da Equitas confessa que chegou a discutir com a equipe a hipótese de comprar um pouco mais de Petrobras após a queda de 20%, mas não houve consenso pela pouca visibilidade. “A decisão nunca é fácil. Ser gestor é encarar o fato de que você vai conviver com o erro o tempo todo.”

💥️Henrique Bredda, da 💥️Alaska, aumentou levemente a posição após a sangria de segunda-feira. Além dos múltiplos baixos, ele destaca a perspectiva de crescimento das exportações, a valorização do preço do petróleo e a agenda de venda de subsidiárias.

Antes de me despedir, quero ressaltar algumas lições práticas desta semana:

– Dado que só saberemos no futuro quem estava certo e quem estava errado sobre investir em Petrobras hoje, é bom reforçar a ideia de ter um conjunto de fundos não correlacionados na sua carteira. Assim, você não ficará concentrado nas mesmas teses.

– Para quem teve dor de barriga com as ações em queda, sempre vale lembrar a importância de ter uma parte do seu portfólio protegida em dólar. Fundos cambiais funcionaram como um bom amortecedor para os piores momentos.

Um abraço,
Ana Luísa Westphalen

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