Fornecimento de oxigênio a cidades do interior pode colapsar, alerta ministério
O alerta foi feito pelo diretor de Logística do Ministério da Saúde, general Ridauto Fernandes, em audiência da Comissão Temporária da Covid-19 (Imagem: Reprodução/Tv Senado)
O 💥️Congresso e o 💥️Ministério da Saúde precisam negociar uma mudança legislativa com urgência, para que as grandes empresas produtoras de oxigênio medicinal não se recusem a abastecer carretas de envasadores que atendem principalmente cidades do interior.
O alerta foi feito pelo diretor de Logística do Ministério da Saúde, general Ridauto Fernandes, em audiência da Comissão Temporária da 💥️Covid-19 nesta quinta-feira (18). O cenário atual é “perigoso”, disse Fernandes, podendo levar ao desabastecimento de oxigênio medicinal na ponta, especialmente em pequenos hospitais e municípios do interior.
— A expectativa da falta perigosa desse produto na ponta da linha, nos pequenos hospitais, é de poucos dias. Temos carretas de produtores da Amazônia que estão esperando numa planta [de produção de oxigênio] do interior do Maranhão. Já está com a carreta parada lá há dias, e não é abastecida. Temos envasadores do Paraná que chegam às plantas também e não conseguem abastecer. As de Curitiba são obrigadas a se deslocar para São Paulo e Rio, um percurso muito mais oneroso, com perdas do produto, porque à medida que abastece e desloca, o produto se esvai, uma parte perde. E com perda de tempo, principalmente. Na hora que chega para envasar os cilindros, há muito mais cilindros para envasar, e ele não dá conta de envasar o que precisava. Aí o pequeno hospital fica com problemas — detalhou o general.
Fernandes propôs ao presidente da comissão do Senado, senador Confúcio Moura (MDB-RO), iniciar já as negociações na busca de uma solução para o gargalo legislativo.
— A solução é criamos um dispositivo, que pode ser legislativo, inclusive podemos discutir isso com mais calma privadamente. Que permita às empresas, que dê ferramenta para que as grandes produtoras recebam as carretas, e não as recusem. Temos de criar uma ferramenta para que a indústria não possa recusar a carreta que chega para ser enchida. Embora seja um concorrente, embora seja alguém que vá receber aquele oxigênio e revendê-lo, no momento não temos estrutura, o grande não consegue chegar à ponta da linha. Então dependemos das carretas que estão na mão dos pequenos, dos envasadores, para poder fazer chegar à ponta da linha. Se não chegar à ponta, nas UPAs e pequenos hospitais, teremos mais mortes — acrescentou Fernandes.
Um relato semelhante foi feito por Newton Oliveira, da Indústria Brasileira de Gases (IBG) (Imagem: REUTERS/Sebastian Castaneda)
💥️Desafio logístico
Representantes das maiores empresas produtoras de oxigênio medicinal também participaram da reunião. Rafael Montagner, da Air Products, resumiu o desafio estrutural que o setor vem passando, devido ao agravamento da pandemia.
— Uma das grandes dificuldades que existe é a falta de previsibilidade ou programação para que a empresa possa se planejar. Há desafios de produção, distribuição e estocagem local. As estocagens são projetadas com o consumo esperado de cada um dos hospitais, mas quando o consumo aumenta abruptamente, há uma pressão descomunal em toda a cadeia distributiva. Há hospitais que multiplicaram em 7, 8, 10 vezes o consumo contratado, e isso pressiona toda a cadeia logística — explicou.
Um relato semelhante foi feito por Newton Oliveira, da Indústria Brasileira de Gases (IBG).
— Encontramos muitas dificuldades, porque hospitais que consumiam um determinado volume hoje consomem 5, 6, até 10 vezes mais do que consumiam. O que gera uma série de dificuldades, como a evaporação do produto. Temos mandado carta aos clientes para que se atentem e planejem o aumento [de demanda], porque uma série de alterações têm que ser feitas para manter o fornecimento em dia. Os tanques são dimensionados para terem uma frequência de abastecimento, então a vazão dos equipamentos é restrita — detalhou.
💥️Gestão centralizada
Para Ciro Marino, da Associação Brasileira de Indústria Química (Abiquim), o Ministério da Saúde precisa centralizar de fato esta logística, para que o setor produtivo se concentre apenas na produção.
Isso porque as empresas do ramo têm sido sobrecarregadas burocraticamente pelo assédio de secretarias, prefeituras, agências e órgãos em diversos níveis da administração pública, diante do quadro de incertezas.
— Temos pedido com veemência que o governo federal assuma o controle e centralização dessas informações perante autarquias, municípios, entidades e tudo, de forma que as empresas possam se concentrar nos seus negócios novamente. Que é produzir, organizar, expandir capacidades, de forma que o governo federal possa alimentar essas entidades e municípios com informações adequadas — apelou Marino.
Diretora da 💥️Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze Freitas detalhou que mecanismos de centralização da gestão da logística relacionada ao oxigênio medicinal devem estar prontos em breve. Isso porque a Anvisa já busca esses dados, que depois serão totalmente repassados ao Ministério da Saúde.
— Passamos a exigir que as empresas informem a Anvisa sobre a capacidade de produção e estoques, isso relacionado até 60 dias atrás. As empresas começaram a levantar essas informações a partir do dia de ontem. Foram notificadas 47 empresas, e até hoje de manhã, 32 responderam. Estamos compilando os dados de forma a disponibilizar diretamente ao ministério, para favorecer as discussões e o manejo com estados e municípios — informou Meiruze Freitas.
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