Análise: ataques de Bolsonaro no 7 de Setembro elevam patamar de debate sobre impeachment
Bolsonaro apostava suas fichas em uma demonstração de força nos atos da terça e afirmou, por mais de uma vez, que ela seria um “ultimato” a Moraes e Barroso (Imagem: Flickr/Edu Andrade/Ascom/ ME)
Os ataques desferidos pelo presidente 💥️Jair Bolsonaro em seus discursos no 7 de Setembro elevaram o patamar das discussões na classe política sobre um eventual impedimento e deterioram as chances de o governo obter junto ao 💥️Congresso aprovação de pautas relevantes, especialmente na área econômica.
Após convocação e intensa mobilização feitas pelo presidente, milhares de pessoas foram às ruas de várias capitais do país em apoio a Bolsonaro e com bandeiras contrárias ao 💥️Supremo Tribunal Federal (STF).
Em discursos diante de mais de 100 mil pessoas tanto em 💥️Brasília quanto em 💥️São Paulo, segundo estimativas das Polícias Militares locais, Bolsonaro subiu o tom dos ataques, especialmente aos ministros 💥️Alexandre de Moraes e 💥️Luís Roberto Barroso, e ameaçou descumprir ordens judiciais.
Afirmou ainda que o presidente do STF, 💥️Luiz Fux, deveria “enquadrar” os colegas e ameaçou a corte com uma ruptura caso isso não ocorra.
Embora significativa, a presença de apoiadores ficou abaixo das expectativas anunciadas pelo próprio presidente, que esperava discursar para 2 milhões de pessoas na Avenida Paulista, mostrando que a mobilização que bolsonaristas fizeram por dois meses não atingiu o objetivo esperado, o que levou lideranças políticas importantes a colocar o impeachment na pauta de discussões.
“Foi muito aquém do que se esperava”, disse o cientista político e professor do Insper Carlos Melo. “Se esperava o caos, policial militar nos protestos, caminhoneiros, barbarizando mesmo. Hoje nós estaríamos discutindo um golpe. E hoje nós estamos discutindo impeachment, porque nada disso foi para a rua.”
Bolsonaro apostava suas fichas em uma demonstração de força nos atos da terça e afirmou, por mais de uma vez, que ela seria um “ultimato” a Moraes e Barroso.
E de fato a retórica do presidente foi de um ultimato, mas o tom inflamado parece não ter surtido o efeito desejado.
“Os discursos de Bolsonaro em Brasília e São Paulo principalmente em São Paulo levaram a crise para um patamar bem maior de radicalização… Isso produz uma deterioração irreversível do relacionamento entre as instituições”, disse o cientista político e professor da 💥️FGV, Claudio Couto.
“A crise subiu tanto de patamar que hoje o impeachment se tornou mais provável e necessário do que ontem. Não quer dizer que ocorrerá”, ressaltou.
Os discursos de Bolsonaro em Brasília e São Paulo principalmente em São Paulo levaram a crise para um patamar bem maior de radicalização (Imagem: Reprodução/ CNN Brasil)
Na avaliação do analista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez, as manifestações do 7 de Setembro alteraram o cenário, não sendo mais possível apontar que não há ambiente político para um impedimento.
Entretanto, lembra ele, um processo de impeachment não se limita somente a retirar um presidente do cargo.
“A questão agora é de construção de alternativas. Não é trivial fazer essa construção, porque não necessariamente tem neste momento os dois terços (de votos necessários para o impeachment) construídos e o 💥️impeachment não é simplesmente tirar um presidente, mas é tirar um presidente e colocar outro”, acrescentou.
“A primeira parte, que é tirar um presidente, me parece que já está no radar. A segunda, que é colocar um outro é que ainda precisa ser construída e é isso que vai determinar o destino final”, disse.
Neste cenário, passa a ser importante acompanhar as movimentações do vice-presidente 💥️Hamilton Mourão e das principais lideranças políticas.
Mourão disse mais cedo nesta quarta que o governo tem base na 💥️Câmara dos Deputados para barrar um impeachment. Ao mesmo tempo, vários partidos se reunirão a partir desta quarta para definir seu posicionamento sobre a abertura de um processo de impedimento.
Preços em Alta
Os ataques e ameaças de Bolsonaro também devem ter reflexos no Congresso, com um aumento da dificuldade de aprovação de pautas, como a reforma administrativa e uma solução para o pagamento dos precatórios, que vinha sendo tratada em conjunto com Legislativo e Judiciário.
“Não há como fazer uma estratégia de recuperação econômica, de reformas, uma agenda econômica, um marco para a agenda social com essa instabilidade política crônica”, disse Leonardo Barreto, cientista político e diretor da Vector Análise, para quem o 7 de Setembro aumentou o isolamento político do presidente e levou seu governo a uma espécie de “ocaso”.
Para Cortez, da Tendências, a situação atual pode permitir a aprovação pelo Congresso de uma articulação orçamentária que garanta uma elevação dos benefícios pagos pelos programas sociais do governo, já que esta é uma vontade tanto do Executivo quanto dos parlamentares, mas ele vê um cenário complicado para medidas econômicas estruturantes e um fechamento da janela para as reformas.
Para Melo, do Insper, um dos efeitos das manifestações de terça será uma elevação dos custos para o governo Bolsonaro, seja para aprovar pautas legislativas, seja para evitar um impedimento, caso seja de fato deflagrado.
“Ficará tudo mais difícil. O presidente que dizia que era forte, não é tanto. Os preços, digamos assim, sobem no mercado político. Os apoios ficam mais caros.”
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