Lais Costa: Não deixe de ler o manual
“Vivemos um momento histórico de acesso rápido e relativamente fácil a uma quantidade de informações sem precedentes. Mas surpreendentemente o interesse em aprofundar o conhecimento revela-se cada dia menor” diz a colunista.
Assim como são inegáveis os benefícios da leitura, é assustadoramente comum encontrar pessoas que simplesmente não leem. Não me refiro apenas a livros excessivamente eruditos, extensos, muito técnicos ou de difícil compreensão. Na minha experiência, destaco a recorrência com que encontro pessoas que não leem pequenos textos, instruções e manuais com um conteúdo extremamente prático e de impacto relevante.
Você também já deve ter ouvido ou presenciado situações em que alguém pagou por uma visita técnica de poucos minutos para instalar ou consertar algum aparelho eletrônico, simplesmente porque a solução para o “problema” estava em uma etiqueta que nunca foi lida.
Quando a compra do produto é feita de forma impulsiva e estimulada por irresistíveis apelos publicitários, é ainda mais comum que se presuma que o produto adquirido seja de simplíssimo manuseio e, claro, dispense a leitura atenta de quaisquer orientações fornecidas pelo fabricante. A negligência pode resultar em incômodas dores de cabeça, indesejadas frustrações e, invariavelmente, em perda de dinheiro.
Vivemos um momento histórico de acesso rápido e relativamente fácil a uma quantidade de informações sem precedentes. Mas surpreendentemente o interesse em aprofundar o conhecimento revela-se cada dia menor.
No universo de investimentos em fundos globais não é diferente. Nunca houve tanto conhecimento à disposição do investidor. Este, contudo, parece ter cada vez mais contato com um verdadeiro oceano de informações com pouco mais de um centímetro de profundidade.
Destaco aqui a classe de hedge funds, que se tornou especialmente popular depois dos anos 1990 e tem adentrado as fronteiras brasileiras nos últimos anos.
Sabe-se que os hedge funds são pouco regulados, mas pouco se sabe sobre o que isso representa na prática.
Primeiramente, é importante entender que a regulação (ou ausência desta) varia de acordo com a geografia em que o fundo é sediado e comercializado.
As Ilhas Cayman, por exemplo, são um destino comum para gestoras que procuram liberdade para implementação de estratégias mais sofisticadas. Contudo, quando o assunto é diversificação do passivo e distribuição para o público europeu, os fundos recebem uma roupagem regulatória mais robusta e passam a comercializar a versão denominada Ucits (Organismo de Investimento Coletivo em Valores Mobiliários, em tradução livre), uma espécie de selo de qualidade de gestão de risco.
Aqui, atenta-se muito para as restrições de ativos (commodities físicas, por exemplo) e limite de concentração do portfólio, o que muitas vezes leva o investidor a achar que a versão Ucits é uma estratégia diluída e pouco eficiente. Contudo, aqueles que se propõem a ler instruções e manuais percebem que o tema crítico do arcabouço regulatório europeu é a liquidez. Os fundos Ucits seguem uma espécie de manual de boas práticas de gestão de liquidez que protege o acionista de decisões arbitrárias dos gestores.
Ressalto algumas diferenças importantes entre as versões irrestritas, ou Cayman, como são comumente chamadas, e os veículos Ucits:
Em momentos de estresse do mercado, a liberdade pode se tornar uma prisão dos recursos e o paraíso pode virar pesadelo. A solução, porém, não é ficar de fora e perder de vista os benefícios de diversificação e elevados retornos potenciais, mas dimensionar corretamente o tamanho da posição (sizing) em relação ao seu perfil de investimento.
Na semana passada, nós aqui da série Os Melhores Fundos de Investimento publicamos um relatório sobre as diferenças entre as versões Ucits e Cayman dos hedge funds e os principais conceitos que permeiam o universo dos hedge funds em que o investidor deveria se aprofundar.
O nosso intuito é trazer mais profundidade de conhecimento e evitar as dores de cabeça, as frustrações e, principalmente, a perda de dinheiro.
Este é um dos “manuais” que o investidor global deveria ler.
Um abraço,
Laís
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