Problemas em El Salvador vão além da implementação da “lei bitcoin”
Os protestos aconteceram no 200º aniversário do dia em que El Salvador e vários outros países da América Central declararam independência da Espanha (Imagem: Reuters/Jose Cabezas)
Cidadãos de El Salvador tomaram as ruas em 15 de setembro, dia da independência do país, para protestar contra a administração de Nayib Bukele – incluindo a iniciativa de tornar o bitcoin (BTC) uma moeda corrente. Milhares de pessoas protestaram, segundo vários portais de notícias, incluindo a BBC.
Um vídeo compartilhado no Twitter pelo jornal La Prensa Gráfica mostra uma estrutura que supostamente continha um caixa eletrônico de bitcoin pegando fogo, no centro da capital São Salvador, levantando questões sobre quem teria posto fogo à estrutura.
Os protestos aconteceram no 200º aniversário do dia em que El Salvador e vários outros países da América Central declararam independência da Espanha.
Apesar disso, María Ramírez, moradora de São Salvador que foi aos protestos, disse ao The Block que a atmosfera geral na cidade era pacífica. Segundo ela, pessoas de todas as idades e classes sociais atenderam aos protestos, incluindo muitos jovens.
O protesto aconteceu após eventos menores contra a nova “lei bitcoin” de El Salvador, que foi implementada no dia 7 de setembro e que tornou a criptomoeda uma moeda corrente no país, além do dólar. Segundo um artigo no jornal El País, Bukele acusou a “comunidade internacional” de estar por trás dos recentes protestos.
Muito além do Bitcoin
Embora a nova lei sobre bitcoin de El Salvador tenha dominado a cobertura da mídia internacional, esse não é o único motivo pelo qual os salvadorenhos têm protestado.
Apesar de Bukele, de 40 anos de idade, ser um presidente popular, seus opositores o acusam de autoritarismo. Eles demonstram preocupação quanto à falta de transparência em relação aos planos do presidente de aumentar o poder militar e modificar a constituição.
Essas preocupações somente se intensificaram, após a demissão de importantes juízes e a substituição desses por novos juízes, que determinaram que presidentes do país podem governar por dois mandatos consecutivos.
Segundo Ramírez, os protestos também tiveram relação com a insatisfação dos cidadãos, devido ao grande foco na adesão ao bitcoin, ao invés de outros temas relevantes, como educação e saúde.
Apesar de o governo ter dito que os cidadãos não são obrigados a usar bitcoin caso não queiram, alguns compreenderam que a lei torna o uso da criptomoeda uma imposição.
Alguns cidadãos também estão preocupados quanto à possibilidade de corrupção e lavagem de dinheiro, disse Ramírez, já que o país foi o primeiro do mundo a tornar a criptomoeda uma moeda sonante.
Se o bitcoin não é obrigatório para os cidadãos, o mesmo não pode ser dito para as empresas. Segundo a “lei bitcoin”, estabelecimentos que tiverem acesso à devida tecnologia precisam aceitar a criptomoeda como forma de pagamento.
Companhias devem ser capazes de liquidar os fundos automaticamente, usando a carteira digital Chivo, mas alguns donos de empresas ainda estão preocupados com a possibilidade de perderem dinheiro com pagamentos em bitcoin, devido à volatilidade da criptomoeda.
Desde que Bukele anunciou o plano de implementar o bitcoin, em uma conferência em Miami, três meses atrás, muitos salvadorenhos ainda têm perguntas sobre o que é bitcoin e como usá-lo. Essas dúvidas tornaram-se ainda maiores com os problemas técnicos apresentados no lançamento da carteira Chivo.
“Nada é claro em relação ao bitcoin”, disse Ramírez.
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