Pré-Mercado: Meus heróis morreram de overdose

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A quinta-feira (6) amanheceu com um gosto amargo lá fora. Os mercados asiáticos seguem a performance de ontem em Wall Street, que fechou em baixa após o Fed indicar alta nas taxas.

Ontem, o índice S&P 500 teve sua maior queda diária em quatro meses. O mesmo pode ser visto nos ativos europeus hoje, que já não estavam operando quando a autoridade monetária americana publicou seu posicionamento.

Tudo isso porque o Fed se mostrou inclinado a considerar o mercado de trabalho dos EUA em níveis saudáveis, o que seria o suficiente para justificar um aperto monetário. A interpretação repercutiu de maneira bastante pesada ao redor do mundo, em especial em países emergentes, que prometem ter mais um dia difícil.

A ver…

Apesar do ambiente internacional complicado e um contexto doméstico ainda incerto, dominado pela dinâmica política e fiscal, a qual insiste em não nos abandonar, investidores esperam que os dados a serem apresentados hoje de produção industrial em novembro e IGP-DI de dezembro possam de alguma forma ajudar os ativos de risco.

Infelizmente, isso não necessariamente é verdade, uma vez que, apesar da expectativa de a indústria ter virado para o positivo em novembro, entende-se que a inflação tenha acelerado no último mês.

Tal fato, somado aos sinais de aperto monetário no exterior (Fed contracionista, ou “hawkish”), esvazia a possibilidade de um Copom menos agressivo em fevereiro. Sem falar nas commodities, que seguem em ritmo de alta, assim como fizeram ao longo do ano passado. O cenário favorece a ideia de uma alta de 1,5 p.p. no próximo encontro do BC, bem como eleva a expectativa para a Selic terminal, que já roda em 12,5%.

Enquanto isso, Brasília segue no radar. Esta quinta-feira é o prazo final para o presidente Jair Bolsonaro sancionar o projeto que institui um marco legal para a microgeração e a minigeração distribuída de energia, o que poderia eventualmente ajudar, ao menos marginalmente, o setor ligado ao segmento de energia listado em Bolsa.

A perspectiva de taxas de juros mais altas nos EUA tirou o brilho das ações mundo afora, que são descontadas a valor presente por um percentual maior e, portanto, valeriam menos no presente, em especial as de tecnologia, como falaremos no próximo tópico. Ontem, os formuladores de política monetária do Federal Reserve indicaram que essas taxas mais altas poderiam estar chegando mais cedo e em um ritmo mais agressivo do que muitos esperavam.

Não custa lembrar que o documento de ontem se refere à reunião de 14 e 15 de dezembro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), quando já se começou a precificar três aumentos de juros em 2022. Agora, porém, os membros da autoridade monetária deixaram claro que as perspectivas para a economia, o mercado de trabalho e a inflação (não mais considerada apenas “transitória”) justificam um aumento da taxa de fundos federais (Fed Funds Rate) mais cedo ou em um ritmo mais rápido do que se antecipava.

Com isso, não só se elevou a chance de termos uma alta de juros já em março, com o fim do tapering (redução do nível de compra de títulos), como também já se discute buscar a redução do tamanho do balanço patrimonial, movimento que já era traçado na segunda metade da década passada, após a alta nos juros. De fato, se a inflação se mostra realmente mais persistente, como parece ser o caso, e a economia por lá já não necessita mais de tamanho estímulo, um ajuste se faz necessário. O problema é que, caso tal ajuste seja feito de maneira muito abrupta, os mercados sofrem.

As ações de tecnologia caíram em maior amplitude no início de um ano desde a crise financeira de 2008. Isso porque o rendimento dos títulos do Tesouro americano, precificando um aperto monetário, subiu por três dias consecutivos, com bastante velocidade, o que “desestabilizou” o crescimento e as ações de tecnologia. O rendimento do título com vencimento em dois anos subiu para 0,828%, seu nível mais alto, alcançado antes em 28 de fevereiro de 2023, enquanto o de dez anos ficou em 1,703% hoje.

Consequentemente, o Nasdaq teve queda feia de mais de 3% na quarta-feira, formando o pior início de ano em mais de uma década, quando caiu 5,6% nas três primeiras sessões de 2008. Não tem muito jeito, enquanto a inflação estiver aí, impactada ainda pelas cadeias de abastecimento globais disfuncionais, que se normalizam muito lentamente, o Fed terá margem para acelerar seu ciclo de aperto para combater os preços fora de controle, hoje bem acima da meta anual de 2%.

O Brasil conta com alguns indicadores econômicos a serem digeridos hoje, como o IPC-Fipe, que subiu 0,57% em dezembro (uma desaceleração frente ao dado de novembro), e a produção industrial de novembro. Ainda em terras brasileiras, a Fenabrave divulga o resultado das vendas de veículos novos em 2023 e contamos também com o IGP-DI de dezembro. No exterior, podemos esperar pela inflação ao produtor na Zona do Euro e mais dados de empregos nos EUA.

Na China, a Samsung e a Micron, duas das maiores fabricantes de chips do mundo, estão alertando que os surtos de Covid-19 no país e as severas restrições (vide política chinesa de Covid zero) no importante polo industrial de Xi’an, no noroeste da China, estão prejudicando as operações.

Xi’an, uma antiga cidade na província de Shaanxi, colocou seus 13 milhões de residentes sob uma rígida restrição na semana passada, fechando escolas, locais públicos e transporte. É o maior bloqueio generalizado da China desde que 11 milhões de pessoas foram isoladas em Wuhan, em janeiro de 2023.

Isso é relevante porque qualquer desaceleração na produção da cidade pode piorar a escassez global de chips, uma crise contínua que limitou o fornecimento em vários outros itens, de smartphones a automóveis.

Claro, a escassez global de chips deve durar até 2023, já que a demanda continua elevada, colocando ainda mais pressão sobre os fornecedores para manter a produção, mas choques adicionais como este geram ainda mais problemas. Restrições novas ou mais rígidas que afetam tais operações em Xi’an podem ser cada vez mais difíceis de mitigar, prolongando a disrupção na cadeia de suprimentos.

Um abraço,
Equipe Vitreo

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