Turbulência nas bolsas globais provoca cancelamentos de IPOs

Gráfico com vários IPOs em primeiro plano. Ao fundo, uma cidade com vários arranha-céus

Em Nova York, a turbulência provocou pelo menos nove cancelamentos de IPOs, incluindo a plataforma de gestão de recursos humanos em nuvem Justwork (Imagem: Shutterstock)

Este começo de ano foi difícil para aberturas de capital nas bolsas do mundo inteiro.

Globalmente, US$ 26,7 bilhões em ofertas públicas iniciais de ações (💥️IPO, na sigla em inglês) foram precificadas, representando queda de 60% em relação ao mesmo período do ano passado. E mais transações estão sendo suspensas por causa da turbulência nos mercados.

A conjuntura que combina juros maiores, desaceleração do crescimento econômico e tensões geopolíticas colocou as bolsas globais a caminho do pior mês desde o início da pandemia.

Ações de tecnologia e outras empresas com perfil de crescimento (avaliadas pela perspectiva de resultados futuros), incluindo IPOs recentes, se mostraram particularmente vulneráveis à onda de vendas, à medida que os investidores migram para ações mais baratas.

“É um ambiente muito difícil para novas listagens no momento”, disse Andreas Bernstorff, responsável pela área de mercados de capitais da Europa do BNP Paribas.

“Muitos investidores se deparam com carteiras de resultado negativo e a rotação na direção de ações com perfil de valor está diminuindo o apetite pelas ações com perfil de crescimento que dominaram o mercado de IPOs no ano passado.”

O Cboe Volatility Index — indicador das oscilações esperadas do mercado, também conhecido como VIX — subiu 60% este mês, dando sinal vermelho para novas vendas de ações.

Em Nova York, a turbulência provocou pelo menos nove cancelamentos de IPOs, incluindo a plataforma de gestão de recursos humanos em nuvem Justworks e a gestora de ativos imobiliários Four Springs Capital Trust. Paralelamente, a abundância de cheques em branco que atingiu seu auge no início de 2023 se inverteu: US$ 4 bilhões em listagens de empresas de aquisição de propósito específico (SPAC, na sigla em inglês) foram canceladas em janeiro.

Na Europa, a startup WeTransfer suspendeu uma oferta inicial de ações em Amsterdã na quinta-feira, diante da demanda insuficiente por parte de investidores.

No dia seguinte, a farmacêutica alemã Cheplapharm Arzneimittel suspendeu planos de listagem. A Mishcon de Reya, do Reino Unido, adiou pela segunda vez o que seria a maior IPO já vista para um escritório de advocacia, conforme noticiado pela Bloomberg News.

A queda na demanda dos investidores e a turbulência nos mercados fizeram com que o valor das IPOs descartadas no mundo todo seja quase o dobro do observado há um ano, totalizando US$ 6,2 bilhões até agora.

Outra vítima recente foi a sul-coreana Hyundai Engineering, que suspendeu uma listagem de US$ 1 bilhão na sexta-feira por não conseguir atrair demanda no múltiplo que desejava.

“Embora a desvalorização remova parte dos exageros do mercado e provavelmente crie muitas oportunidades em ações de perfil de crescimento a longo prazo, uma empresa precisaria de coragem para avançar com uma IPO no clima atual”, disse Virginie Maisonneuve, diretora global de investimentos em renda variável de Allianz Global Investors.

Em Hong Kong, a bolsa mais movimentada da Ásia para aberturas de capital, os recursos levantados nessas operações caíram mais de 40% este ano, com a repressão regulatória da China forçando empresas a congelar planos de IPO.

Os gestores de fundos “começaram a ver saídas, o que significa que estão mais focados em reposicionar suas carteiras em vez de comprar papéis em novas emissões”, disse Fabian De Smet, responsável global pela área de renda variável sindicalizada da Berenberg. “As IPOs passaram rapidamente do topo para o pé da lista de prioridades deles.”

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