Pré-Mercado: E o petróleo vai às alturas
O Ocidente mandou a economia russa de volta para a época dos dinossauros | Jurassic Park & Parque dos Dinossauros (1993)
💥️Bom dia, pessoal!
O mercado sofre bastante internacionalmente, ainda repercutindo a guerra na Ucrânia. As ações asiáticas fecharam em forte queda nesta segunda-feira (7), ainda com muita incerteza na atuação dos investidores. As Bolsas europeias acompanham o movimento negativo com bastante amplitude, caindo mais de 3% em diversos casos. No mesmo tom mal humorado, os futuros americanos começam a semana em queda.
A Rússia e a Ucrânia devem realizar hoje mais uma rodada de negociações, mas sem que haja esperanças de um cessar-fogo, já que o último acordo para abrir corredores humanitários não foi respeitado. Na Rússia, a situação é bem calamitosa. A bolsa de valores ainda está suspensa, o rublo continua enfraquecendo e a Visa, a Mastercard e a American Express suspenderam suas operações no país — em questões de dias, o Ocidente jogou a Rússia para a era pré-globalização com suas sanções.
O efeito cascata imprevisível sobre o mercado de commodities da invasão da Ucrânia pela Rússia dominará a discussão do mercado novamente nos próximos dias, mesmo quando os investidores se preparam para a reunião do Fed na semana que vem.
A ver…
Há saída para os ativos brasileiros?
Nesta semana, o governo pode anunciar medidas de estímulo à economia, pensando na estagflação que devemos enfrentar em 2022. Enquanto isso, a guerra na Ucrânia aumentou a pressão em favor da análise dos projetos que tratam de combustíveis, que voltam a ser discutidos no Congresso — a expectativa é pelo lançamento de um programa de subsídios com validade de três a seis meses.
Além dos combustíveis, como falamos na última sexta-feira (4), os alimentos também são preocupações. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, deverá viajar ao Canadá para tratar da questão dos fertilizantes.
O receio de que a alta das commodities internacionalmente possa prejudicar a inflação no Brasil cresce, ao passo que o petróleo continua superando máximas anteriores. Os ativos brasileiros até poderiam se beneficiar disso, em especial por meio da Petrobras, mas a troca de presidente do conselho na companhia poderá ser entendida como uma sinalização negativa pelo mercado.
Sequência de quedas
As ações dos EUA caíram nos últimos dias, apesar de um relatório de empregos melhor do que o esperado na sexta-feira passada. O ambiente continua a ser dominado pela guerra na Ucrânia, o aumento dos custos das commodities e as condições geopolíticas cada vez piores, com casas respeitadas no exterior já começando a estabelecer probabilidades de uma guerra nuclear — a BCA Research indicou 10% de chance, o que nos parece o suficiente para estresse.
Na semana passada, o Dow Jones Industrial Average caiu 1,3% — há quatro semanas verificamos recuo, estando 8,7% abaixo do recorde de 4 de janeiro. O índice S&P 500, por sua vez, caiu 9,8% em relação ao recorde de 3 de janeiro. Por fim, o Nasdaq tem uma queda acumulada no ano de quase 15%.
As quedas na semana passada ocorreram mesmo depois da divulgação de 678 mil novos empregos gerados em fevereiro, bem acima das expectativas, com taxa de desemprego também caindo de 4% para 3,8%. O aquecimento do mercado de trabalho deixa o Fed mal posicionado para a próxima reunião da semana que vem, quando a autoridade deverá aumentar em 25 pontos-base a taxa de juros.
Ao infinito e além
Além disso, a tensão da guerra piorou muito após o ataque à usina nuclear na Ucrânia, levando EUA e aliados a discutirem o embargo ao petróleo russo, o que levou o Brent a ultrapassar a marca de US$ 130 neste domingo. Agora, o petróleo ainda está acima de US$ 125 o barril — teme-se necessidade de intervenção na Petrobras caso os preços fujam demais do controle.
De qualquer forma, as exportações de energia russas diminuíram drasticamente desde o início da guerra. Por causa das sanções às instituições financeiras, cerca de 70% das exportações russas de petróleo bruto já não podem ser realizadas. Voltamos a ter comparações com a década de 1970, quando a Opep cortou suas exportações de petróleo para os EUA pelo fato de os americanos terem ajudado Israel na guerra árabe-israelense de 1973, o que levou à disparada dos preços e à estagflação.
Não somente o petróleo, mas os preços do gás natural na Europa também atingiram novos recordes nos últimos dias. Embora o gás continue a fluir da Rússia, os clientes estão preocupados que o presidente Vladimir Putin possa interromper o fornecimento de energia ao bloco em retaliação às duras sanções, ou que os combates possam interromper importantes infraestruturas na Ucrânia — a Europa importa cerca de 40% do seu gás natural da Rússia (na Alemanha, o percentual é maior do que 50%).
À medida que os preços da energia disparam, os lucros das empresas serão atingidos, e o aumento da inflação pode afetar os gastos do consumidor. Neste caso, um conflito prolongado significa crescimento mais fraco e maior incerteza. E, ao contrário dos EUA, que poderiam substituir o gás russo perdido por suprimentos do México e do Canadá, a Europa não tem muitos planos alternativos.
Anote aí!
Lá fora, a semana conta com as reuniões anuais com investidores da Qualcomm, Walt Disney, eBay, General Electric e AT&T. Nos EUA, o destaque dos próximos dias fica por conta da divulgação do índice de preços ao consumidor de fevereiro na quinta-feira (10). A previsão do mercado é que haja um aumento de 7,8% ano a ano para o IPC principal e 6,3% para o núcleo. Os preços da energia e dos alimentos serão observados de perto.
No Brasil, a agenda é um pouco menos emocionante. Hoje (7), teremos o tradicional Boletim Focus, enquanto esperamos algumas participações em eventos do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que poderá nos dar algumas pistas sobre as próximas movimentações de nossa autoridade monetária. Adicionalmente, para a semana, está prevista a divulgação de pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas sobre sucessão presidencial.
Muda o que na minha vida?
Outra preocupação fica por conta das commodities agrícolas, que poderão atingir os consumidores das economias desenvolvidas e emergentes. Isso porque a guerra levou a aumentos acentuados nos preços dessas commodities — em 2023, a Rússia e a Ucrânia exportaram juntas mais de um quarto (25,4%) do trigo do mundo.
Nas economias desenvolvidas, os preços das commodities agrícolas são uma parte muito pequena dos preços dos alimentos ao consumidor — apenas 20% no caso dos EUA, uma vez que os custos trabalhistas acabam sendo muito mais importantes. Ainda assim, os preços dos alimentos aumentarão, prejudicando a disponibilidade de renda.
Ou seja, como os alimentos são uma necessidade, os preços mais altos desses itens levarão a mudanças nos padrões de consumo das economias. Mais dinheiro gasto em comida, dentro de um orçamento limitado, significa menos dinheiro para gastar em outros bens e serviços.
Dessa forma, é provável que tenhamos certa desaceleração da demanda por bens. Outra questão é a falta de insumos para fertilizantes (potássio, por exemplo), que têm a Rússia como um dos seus principais exportadores. A pressão de preço dos fertilizantes é repassada do produtor ao consumidor em um segundo momento também. O governo brasileiro está especialmente preocupado com esta faceta.
Um abraço,
Jojo Wachsmann
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