Bolsonaro luta contra isolamento ideológico; eleições nos países vizinhos preocupam presidente brasileiro
O resultado das 💥️eleições que acontecem em outubro ninguém pode prever, mas a disputa representa não apenas a escolha do nome que chefiará o país nos próximos quatro anos, mas como será a posição do Brasil dentro do contexto ideológico global e, principalmente, da América Latina.
Se em 2018 💥️Bolsonaro foi eleito dentro de uma onda, em 2022 o presidente brasileiro luta para não sair derrotado das eleições assim como em outros países na América. Foram os casos de Andrés Manuel López Obrador no México, de Alberto Fernandez na Argentina, de Pedro Castillo no Peru, de Gabriel Boric no Chile e de Gustavo Preto na Colômbia. Isso sem contar os EUA e o Canadá, que também mudaram as administrações ou mantiveram no poder aqueles com uma ideologia mais a esquerda.
Eleições de 2018 e o fim da onda rosa
Onda rosa foi como ficou conhecido o movimento no início dos anos 2000 que levou ao poder políticos de esquerda, que já não mais eram tão associados a temida União Soviética, tinham forte apelo popular, discurso social e de igualdade. O termo rosa surgiu por “não ser tão vermelho”.
Essa mesma onda que trouxe esses presidentes para o poder acabou os afastando da população. Depois de anos de controle, esses políticos viram cair sua popularidade com casos de corrupção e crises econômicas com o inchaço das máquinas públicas.
O que se viu foi crescer o discurso de anti-política, com seu maior exemplo na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Em comum, ganhou força o discurso nacionalista, que em cada país vinha com uma especificidade, de proteção às fronteiras, o uso das redes sociais como maior arma de divulgação, além do ataque às instituições.
O cientista político Magno Karl pondera que a visão do outsider ganhou muito espaço em todos os países americanos.
“Havia alguns pontos que eram vistos como necessários para alguém ser eleito como presidente, e o Bolsonaro, como outros, romperam. Nunca alguém havia sido eleito sem um partido minimamente forte, sem uma boa articulação politica, sem apoio de uma coligação grande, sem uma campanha sem grandes e sem grandes gastos financeiros. Bolsonaro rompeu isso. O suporte institucional era zero. Não havia apoio público. Era um movimento inédito. Bolsonaro teve essa inovação”, explica Karl.
Problemas enfrentados pelos novos líderes
O maior problema enfrentado por esses novos líderes eleitos nessa corrente mais à direita foi obviamente a crise econômica e sanitária causadas pela covid-19. Bruno Soller, cientista político, explica que isso favoreceu o discurso social dos políticos de esquerda.
“A gente tem uma mudança clara e eu acho que isso esta muito associado com o processo de empobrecimento da população decorrente de uma crise econômica mundial. Esse aumento da pobreza faz com que os discursos dos que são orientados mais por um politica social a esquerda tenha maior visibilidade”.
Outro problema enfrentado foi o de manter o discurso, baseado em enfrentamento, a busca por um inimigo e a negação da política. Como agora eles eram o governo não bastava negar a si, era preciso estimular as bases.
“O Bolsonaro não tem organização, não tem organicidade em seu movimento. Não tem ligação com sindicatos, não tem ligação com organizações da sociedade civil, não tem um partido politico que o abrigue de fato. Então sua militância acaba ficando um pouco dispersa, desorganizada e muito dependente da figura pessoal de Jair Bolsonaro”, explica Magno Karl, que ainda levanta uma segunda questão, a do perfil do eleitor de 2018.
O “cidadão comum” que levou Bolsonaro ao poder não se mostrou uma base fiel. “Não há dúvida que aquele movimento popular espontâneo, descentralizado gerado unicamente ou majoritariamente pelas forças das redes sociais parece ter se enfraquecido. Nos últimos quatro anos houve bastante dificuldade para mobilização política, um reflexo do cansaço do brasileiro com a constante politização do dia a dia . A politica ficou mais presente na vida dos brasileiros nos últimos 8 anos, mas os brasileiros estão um pouco cansados disso tudo”, pondera Magno.
Bolsonaro esta enfraquecido?
Mesmo com menos apoio popular e pontuando menos nas pesquisas eleitorais, os pesquisadores apontam que não é possível dizer que Bolsonaro e sua linha estão enfraquecidos. Ainda que sem conseguir uma reeleição, Bolsonaro não deve ser derrotado nessas eleições.
Aline Burni, doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais, destaca que, independentemente do resultado das urnas, a extrema direita vem obtendo êxito por influenciar o debate político.
“Esses partidos têm ganhado apoio eleitoral em termos de adesão à sua plataforma. Eles foram aumentando o seu apelo aos seus projeto políticos. Não é por causa de perdas pontuais de candidatos ou partidos que pode-se falar que a corrente ideológica em si está enfraquecida ou condenada ao fracasso. Ao longo do tempo, houve adesão ao projeto, mas o maior ganho da extrema direita foi ter contaminado a plataforma de outros partidos – inclusive da esquerda – e o debate público”, avalia.
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