Um ano de invasão russa: Para onde estamos indo?
Podemos enumerar diversos motivos para a escalada da guerra, mas talvez um dos mais relevantes seja a influência da 💥️Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Leste Europeu.
Ainda mais profundo do que isso, é possível pontuar a resistência da atual liderança russa à expansão democrática que o mundo passou ao longo dos últimos 20 anos (Geórgia, em 2003, Ucrânia, em 2004, e a Primavera Árabe, em 2011).
A questão é polêmica é complexa.
Independentemente de qual tenha sido o objetivo inicial, invadir a Ucrânia não só revigorou a aliança militar do Ocidente, a qual todos entendiam como cada vez mais escanteada desde a Queda do Muro de Berlim, como também promoveu a sua expansão para o norte – a Suécia e a Finlândia devem começar a integrar a Otan ainda em 2023, o que seria um golpe avassalador sobre Putin.
Como disse o presidente norte-americano, 💥️Joe Biden, que visitou inesperadamente a capital ucraniana recentemente, quando Putin lançou seu ataque, ele imaginou lidar com uma Ucrânia fraca e um Ocidente dividido, mas o presidente russo estava redondamente enganado.
No final, acabou colocando-se em uma posição de desvantagem, sangrou a economia de seu próprio país e se tornou refém (dependente) da 💥️China.
Aliás, permita-me ir além.
Durante décadas, países ao redor do mundo reduziram seus exércitos terrestres e cortaram gastos com armamento, certos de que outra grande guerra terrestre era improvável na era moderna. A ideia central era de que qualquer conflito seria de alta tecnologia e direcionado.
Com isso, os soldados estariam, ao invés de armados, debruçados sobre teclados a milhares de quilômetros de distância.
A invasão da 💥️Ucrânia por Vladimir Putin, porém, mudou rapidamente esse pensamento; afinal, se trata da primeira guerra tradicional em território europeu desde a Segunda Guerra.
Agora, o que estamos vendo é uma rápida reavaliação não apenas da necessidade de aumentar os gastos com defesa, mas de qual armamento é necessário (diferentes tipos de armas, projéteis e drones).
Além das armas, deu aos exércitos globalmente muito o que refletir sobre o que deu certo para a 💥️Ucrânia e o que deu errado para a 💥️Rússia – hoje, os ucranianos passam a desfrutar das conquistas de seu aprendizado bem-sucedido em tempo real, enquanto a 💥️Rússia começa a evitar alguns dos erros inicialmente cometidos. Isso inclui linhas de abastecimento, estruturas de comando e controle, coleta e entrega de inteligência.
Aconteça o que acontecer, o incidente abalou o cenário de segurança tanto para os vizinhos próximos da 💥️Ucrânia quanto para os países mais distantes, de uma forma que teremos reverberações por muitos anos, aprofundando provavelmente o processo de desglobalização parcial e regionalização do mundo, com os países se juntando em novas alianças e se alinhando em prol de segurança, não mais eficiente das cadeias, como foi nas últimas décadas.
Inclusive, os membros da Otan precisam aumentar seus gastos com defesa urgentemente. Essa foi a mensagem que a cúpula com os ministros da Defesa dos Estados membros quis passar para o mundo em seu último encontro.
Para ilustrar a origem dessa preocupação, basta avaliar a época da invasão da Crimeia pela Rússia, em 2014, quando os países da Otan se comprometeram a aumentar seus respectivos gastos com defesa para 2% do produto interno bruto.
Mesmo com o compromisso, embora muitos tenham aumentado seus gastos com equipamento militar e treinamento, a maioria dos estados da 💥️Otan ainda fica aquém do limite de 2% – isso incluía 💥️Alemanha, 💥️França, 💥️Itália e 💥️Canadá (lembre-se que Trump tinha o hábito de criticar os membros da organização, principalmente a Alemanha, por não pagarem sua parte devida, conforme acordado).
Os EUA, por outro lado, gastam 3,47% do PIB em defesa.
Podemos comparar como as coisas estavam em 2014 e como elas evoluíram até aqui por meio dos gráficos a seguir. Note como os EUA destoam muito dos demais players que compõem a aliança militar.
Enquanto isso, a Finlândia e a Suécia, ambas competindo pela entrada no bloco, gastam respectivamente 2% e 1,3% do PIB em defesa (Finlândia está mais próxima de entrar).
Dessa forma, enquanto a guerra devasta mais uma vez parte do território europeu e as tensões com a China aumentam (clique aqui para conferir o que escrevi sobre o tema recentemente), a meta anteriormente estipulada de 2% da Otan deve ser vista como o piso e não mais como o teto.
Adicionalmente, não custa lembrar que isso tudo acontece enquanto estamos vivendo o momento no qual as taxas de juros e a inflação são extremamente relevantes.
Por exemplo, há mais de um ano, estávamos com uma taxa zero nos EUA, sendo que terminamos o ano passado caminhando para 5% de juro, enquanto pensávamos inicialmente que seria de apenas 1%.
Todo o mundo passa hoje por uma política contracionista dura, diferente dos últimos 10 anos.
O momento é paradigmático. Depois de muito tempo com juros negativos, se acumularam pressões inflacionárias completamente inesperadas: a pandemia, o pós-pandemia e a guerra na Ucrânia.
Os choques que vivemos recentemente devem moldar um pouco a forma como vemos o mundo daqui para a frente, com mais inflação e, consequentemente, mais juros – um boom de Capex por conta de novas cadeias de suprimentos. Um novo equilíbrio macroeconômico.
Dito de outra maneira, meu entendimento é que as novas questões geopolíticas vão gerar inflação persistente e forte por muito tempo, resultado do processo de “reshoring” do Ocidente, em especial dos EUA, que não querem mais depender da China e de seus aliados (a Rússia, por exemplo) — o “reshoring” traz de volta a produção para o país de origem, assim como também a posiciona em países mais próximos e considerados amigos, como o Brasil e o México.
Breve parêntese um rápido comentário. O processo coloca a nossa nação em uma posição peculiar, uma vez que China e EUA são nossos dois principais parceiros econômicos. Em suma, o Brasil surge como uma potência neutra para servir de pivô nessa relação, ao menos no que nos cabe.
Voltando ao assunto, a continuidade da guerra rompe cada vez mais as relações do Oriente com o Ocidente, que vai gerar pressão inflacionária persistente, mesmo que diluída no tempo, ao passo em que constrói suas novas estruturas regionalizadas. Bem-vindos à nova realidade do mundo dos investimentos.
Os vencedores em breve serão revelados, se afastando possivelmente dos vencedores da última década.
O que você está lendo é [Um ano de invasão russa: Para onde estamos indo?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
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