Habilitação de frigoríficos: e não é que carne brasileira pode chegar aos EUA “maquilada” de mexicana
Mais frigoríficos poderão ser habilitados pelo México, o que abre janela para reexportações aos EUA (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)
Frigoríficos brasileiros poderão ter uma nova janela de entrada nos Estados Unidos, a se confirmar a notícia de que o México vai habilitar novas plantas.
Conforme o tamanho das futuras novas exportações, além da carne bovina que ficará no país, não se despreza que haja uma reexportação para os americanos, que se tornaram os segundos compradores do Brasil, em ritmo de expansão.
Os mexicanos mais exportam sua produção para o vizinho ao Norte do que fornecem internamente. E se os embarques brasileiros caíram bastante nos últimos anos (veja mais abaixo), e o governo local pretende habilitar novos fornecedores, pode muito bem ser um movimento que visa aumentar as reexportações para os americanos, fonte garantida de recursos para o México.
Boa parte da economia mexicana se baseia nas “maquiladoras”, empresas que adquirem insumos no mundo todo, sobretudo na China, e remetem os produtos finais aos EUA, se aproveitando da ausência de tarifa pelo Nafta – o acordo comercial que inclui também o Canadá.
Inclusive, empresas americanas se instalaram no lado mexicano da fronteira especificamente para este fim.
Essa informação circulou esses dias no Valor Econômico, baseado em notícia do El Norte. De fato, o jornal de Monterrey reproduziu fonte da Senasica, o serviço sanitário do país que teria informado a liberação de frigoríficos brasileiros de 14 estados livre de febre aftosa, em ação a ser anunciada nesta semana ainda.
Embora as maquiadoras são cobertas de críticas por parte dos sindicatos de trabalhadores dos EUA e de empresas que não se aproveitam do esquema, porque elas não cumprem a meta de conteúdo nacional mexicano nas mercadorias, nunca foram barradas.
Servem, afinal, de atenuante à inflação dos EUA, já que os produtos entram mais barato, sem impostos, e fabricados por mão-de-obra que chega a 1/3 dos salários dos americanos.
Não é impossível imaginar essa triangulação possível da carne brasileira, até pelas características atuais do mercado local, segundo detalhou, em Relatório Especial, a consultoria Agrifatto.
As indústrias do país aumentaram em 172% as exportações de carne bovina em 10 anos, para 400 mil toneladas o ano passado, sendo obviamente quase toda ela destinada ao vizinho. Enquanto isso, a produção local só cresceu 21%, contra um aumento do consumo de 3,18%, mas com recuo no consumo per capita, explicou a consultoria.
Os poderosos importadores pagam muito mais pela proteína “vacuña” que o mercado doméstico mexicano.
Vale destacar que as importações de carne bovina brasileira pelo México caíram 26,67% nos últimos 10 anos. Ficaram em 165 mil toneladas em 2022.
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