Da popularidade ao 'sumiço': o que aconteceu com os poodles no Brasil?
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A rotina de Brisa e Belinha ilustra a atual situação da raça que, nos anos 1990 e início dos anos 2000, foi uma das mais populares do Brasil: a maioria que ainda está viva já é idosa, e poucas pessoas buscam por ela.
No país, não há um censo oficial que detalhe raças dos animais de estimação, mas alguns dados dão um panorama sobre o "sumiço" dos poodles.
A Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), que estabelece padrões para criação e emite ✅pedigrees (certificado de origem de cães de raça) no Brasil, aponta o auge dos poodles em 1997, quando 3.193 foram registrados por pessoas que procuraram a organização.
Em 2022, a despeito do aumento do mercado pet nos últimos anos, o número de poodles registrados foi de apenas 501, uma queda de quase 85%.
Já o "censo" anual que as empresas DogHero (de hospedagens para pets) e Petlove (comércio eletrônico) fazem entre clientes cadastrados nas plataformas mostra que 62% dos poodles tinham mais de 15 anos em 2023. Ou seja, estão no fim da vida.
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No mesmo levantamento, a raça representava 5% dos cães cadastrados nas plataformas em 2023 - menos que os 6,1% identificados em 2017, no primeiro levantamento, e atrás de vira-latas (sem raça definida), shih-tzus e yorkshires.
Mas o que aconteceu para esses cães saírem de moda no Brasil?
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"Foram cruzando os menores com os menores, pai com filha, para atender o desejo de clientes que queriam 'cão de bolso', um bibelô", diz Giovana Bião, criadora de poodles e dona de um canil de poodles em Salvador.
"O resultado dessa busca muitas vezes são animais com deficiências, problemas. Os muito pequenos só deviam ser de companhia, não para ficar reproduzindo."
Entre os problemas que mais se tornaram comuns entre os poodles no Brasil, estão a fragilidade óssea, convulsões, deficiências na arcada dental e as chamadas "lágrimas ácidas", que deixam a região perto do olho escura.
No fim dos anos 1990, quando a criadora fundou o Poodle Clube Paulista, famílias apareciam com reclamações constantes em exposições que, na época, reuniam dezenas de animais: "Cansei de ser abordada nos eventos por pessoas que se sentiam verdadeiramente enganadas por canis que reproduziam sem preocupações com a raça".
O clube durou até 2003, quando quase nenhum animal aparecia mais para os eventos.
"Cachorro agora tem que ser 'instagramável', tem que ser bonito, e o poodle é uma raça que necessita de muitos cuidados. Quando envelhece, ele não fica tão bonito. Então, as pessoas querem animais que valham a pena no social", diz.
Lucas Woltmann concorda que as redes influenciam em "apresentar raças até então desconhecidas, ajudando a construir desejos e expectativas sobre elas". Para o pesquisador, essa relação entre raças caninas e "status" começa na história com as ideias de cães "nobres".
Segundo sua pesquisa, a literatura sobre caça no período medieval, por exemplo, fazia distinções entre cães "nobres" e "não nobres".
"Isso estimulou analogias entre pessoas e cães e amparou ideias sobre uma possível dimensão biológica e hereditária da nobreza, cuja marca mais clara foi o aparecimento do conceito de 'sangue nobre' entre os séculos 13 e 14", explica.
O investimento em raças caninas ganhou corpo na Grã-Bretanha da segunda metade do século 19, quando houve uma popularização da criação organizada em clubes de canis.
Esses locais passaram a estabelecer padrões morfológicos e comportamentais e a fazer registro genealógico dos animais ? algo que hoje é perpetuado pelas confederações como CBKC no Brasil e Kennels Clubes pelo mundo.
No caso do poodle, segundo o Kennel Club da Inglaterra, ele tem origem na Alemanha, onde foi criado para ser um caçador aquático, especialmente de patos, há mais de 400 anos. O primeiro registro de poodle foi em 1874, na Inglaterra.
"Eu até agradeço por a raça ter perdido popularidade, porque quem cria hoje em dia é criterioso", avalia Romero.
Segundo os dados da CBKC, que tem 56 criadores de poodle cadastrados no Brasil hoje, o ano com menos registros da raça foi 2016 (450). De lá pra cá, o número vem registrando leve alta (em 2022, foram 501).
Naturalmente, segundo os especialistas, o que aconteceu com o poodle também pode acontecer com outras raças na moda hoje no Brasil.
✅Originalmente publicada em - https://www.bbc.com/portuguese/geral-64407900
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