Corinthians acertou camarote com Vai de Bet apesar de compliance ver risco

Vista da Neo Química Arena antes do jogo entre Corinthians e Flamengo, pela semifinal da Copa do Brasil

Vista da Neo Química Arena antes do jogo entre Corinthians e Flamengo, pela semifinal da Copa do Brasil Imagem: Anderson Romao/Anderson Romão/AGIF

O camarote 503 da Neo Química Arena está mergulhado numa história que envolve Corinthians, Vai de Bet, uma empresa de intermediação, um acordo feito sem contrato e inadimplência. A operação foi feita apesar de o departamento jurídico e a área de compliance do clube alertarem para os riscos financeiros trazidos por ela.

E-mails obtidos pela coluna indicam que, antes de rescindir unilateralmente seu contrato de patrocínio com o Corinthians, a Vai de Bet negociou o aluguel de um camarote para que ele fosse usado pela GCS Intermediação de Negócios, Consultoria Veicular e Alimentícia. Inicialmente, o valor seria inferior ao de tabela, mas o preço subiu.

A negociação foi analisada pelo departamento jurídico do clube, que estranhou a triangulação. O Corinthians alugaria o espaço para a GCS, mas quem pagaria seria a Vai de Bet.

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Após ouvir o setor de compliance, o departamento jurídico alvinegro alertou que a negociação era arriscada para o clube. A conclusão foi de que, se a Vai de Bet não pagasse, a GCS provavelmente não teria condições de honrar o compromisso.

O contrato não foi assinado, mas a GCS usou o camarote até o penúltimo jogo do Corinthians em casa no Brasileirão, contra o Vasco.

Segundo fonte no clube, a Vai de Bet pagou em julho pelo uso do espaço de abril até o sétimo mês do ano. A partir disso, a quitação passou a ser de responsabilidade da GCS, mas os aluguéis de agosto a novembro ainda não foram pagos. Este camarote não tem relação com o que foi negociado com a casa de apostas no contrato de patrocínio.

Mensagem de Bruno Radaelli Brandespim, do marketing da Neo Química Arena, para Sérgio Moura, ex-superintendente de marketing do clube, detalha o início das tratativas.

Em 11 de abril, Brandespim escreveu: "Conversei com o André da Vai de Bet conforme solicitado por você. O contrato será feito em nome do Guilherme Carvalho da Silva (dono da GCS), ok?".

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Ele queria saber se estava correto o valor de R$ 50 mil para um camarote com 15 lugares, sem serviço de catering (fornecimento de alimentação) para o período de 14 de abril a 31 de dezembro de 2024. No dia seguinte, Moura respondeu: "Boa noite, Bruno. Está correto".

Em 19 de abril, Brandespim enviou e-mail para membros do departamento jurídico e de outras áreas encaminhando informações para o início do processo de formalização do contrato.

Ao lado do preço de R$ 50 mil, com pagamento à vista, consta esta observação: "esse valor está abaixo da nossa tabela por conta de outros investimentos feitos pela Vai de Bet, que fez o pedido por esse camarote e foi aprovado pelo Sérgio Moura".

Vale lembrar que o ex-superintendente se afastou do cargo em maio. Conselheiros pediam a sua saída, após a polícia instaurar um inquérito baseado nos desdobramentos do pagamento de comissão pela intermediação do acordo de patrocínio com a casa de apostas.

Os detalhes do aluguel chamaram atenção do departamento jurídico do Corinthians. Em 24 de abril, Rui Fernando Almeida Dias dos Santos Júnior, que era um dos advogados do Alvinegro, respondeu à mensagem de Bruno.

"Quem utilizará o camarote 503, Betpix (empresa do grupo que detém a marca Vai de Bet) ou GCS Intermediação de Negócios? Se for a Betpix, por qual motivo o contrato seria assinado em nome da GCS? Qual a relação entre a Betpix e a GCS? O que na relação entre as empresas justificaria a cessão do camarote pelo valor proposto?", escreveu Rui.

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Em 14 de maio, Brandespim enviou outro e-mail informando que nova negociação foi feita com Vai de Bet e GCS, alterando o preço do camarote. O espaço já estava sendo usado.

Segundo a mensagem, foi acertado o pagamento de R$ 200 mil mais R$ 38 mil por serviço de catering pelo uso entre abril e agosto de 2024 por um espaço para até 12 pessoas. O pagamento seria em quatro parcelas, entre junho e setembro.

Fernando Perino, que era diretor adjunto do departamento jurídico corintiano, perguntou para Brandespim quem pagaria a conta. "O contrato será feito em nome da GCS e o pagamento pela Vai de Bet [Betpix]", foi a resposta.

No dia seguinte, Perino respondeu que seria seria preciso incluir a Betpix [Vai de Bet] como interveniente no contrato.

O advogado afirmou também existir a necessidade de "inserir cláusulas estipulando a responsabilidade pelos pagamentos".

Em 21 de maio, um dia após reportagem de Juca Kfouri, colunista do , detonar o "caso Vai de Bet", Rui escreveu para Sérgio e Brandespim, com outros envolvidos na discussão copiados, informando que a área de compliance avaliou a GCS.

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A análise apontou que a empresa "tem capital social baixo [R$ 150 mil], um faturamento estimado também baixo [entre R$ 81.000,01 e R$ 360 mil] e um nível de atividade muito baixo". No relatório também está escrito que o dono da GCS recebeu auxílio emergencial durante a pandemia de Covid-19.

Rui informou que mesmo que a GCS e a empresa responsável pela Vai de Bet assumissem solidariamente as responsabilidades relativas ao acordo, o departamento jurídico entendeu que havia risco financeiro para o Corinthians.

"Caso haja inadimplemento da Betpix (não sanado amigavelmente), o SCCP teria que se socorrer da GCS, empresa esta que, conforme destacado pelo compliance, não possuiria recursos financeiros compatíveis com o valor do camarote".

O advogado encerrou a mensagem perguntando como Sérgio e Brandespim queriam prosseguir com a negociação.

O departamento jurídico não teve mais informações, até o começo de agosto, já com outra diretoria no setor, quando soube que o camarote ainda estava sendo usado pela GCS, sem contrato e mesmo com a Vai de Bet fora da camisa corintiana. A casa de apostas rescindiu o seu contrato em 6 de junho e usou como justificativa o escândalo policial.

Os valores referentes ao uso do camarote entre abril e julho não tinham sido pagos. A solução encontrada foi assinar um termo de quitação com a Vai de Bet, assim que a pendência fosse resolvida e firmar um contrato para o restante do período com a GCS.

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De acordo com fonte no clube, foi feito em julho um acordo para a Vai de Bet pagar R$ 106 mil, incluindo um gasto com catering, pelo uso do camarote desde abril, e o valor foi pago. De acordo com a essa versão, foi usado como base um aluguel anual de R$ 270 mil.

A mesma fonte afirma que os valores de agosto a novembro deveriam ser pagos pela GCS, mas ainda estão em aberto. E que existe segurança na diretoria de que a quantia será paga.

Corinthians e Vai de Bet foram procurados por meio de suas assessorias de imprensa, mas não responderam até a conclusão deste post.

A coluna enviou e-mail para Guilherme de Carvalho da Silva, dono da GCS, mas também não obteve resposta. Rui não atendeu aos telefonemas nem respondeu às mensagens.

Moura, ex-superintendente de marketing do Corinthians, afirmou que por ter se afastado do clube não se sente confortável para falar sobre assunto relacionado à agremiação.

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Por sua vez, Perino, ex-adjunto no departamento jurídico declarou: "Agi como mostram os e-mails que você mencionou, protegendo o clube, tomando todas as cautelas. Todos os questionamentos que deveriam ser feitos foram feitos". Perino deixou o cargo em 24 de maio.

A reportagem tentou contato com Brandespim por meio do Instagram, mas não houve retorno até a reporta reportagem ser concluída. O espaço segue aberto para todos os citados se manifestarem.

Reportagem

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