OpiniãoOrlando Costa: Pepe dá o mote para uma missão cumprida com distinçã
Num confronto que se previa mais complicado para a nossa Seleção, Portugal conseguiu uma vitória confortável (0-3) frente à Turquia, em Dortmund, com uma excelente exibição no que diz respeito aos cinco momentos do jogo.
Perante um encontro que determinaria o primeiro lugar do grupo, para quem vencesse a partida, Portugal tinha de ter mais posse de bola e ser mais forte no momento de transição defensiva relativamente ao adversário.
Contrariamente ao primeiro jogo do grupo F, cujo sistema adotado foi o sistema tático de 1x3x4x3, neste jogo o selecionador nacional, Roberto Martínez, utilizou o sistema 1x4x3x3, com uma alteração no onze comparativamente ao primeiro jogo (tirou o Diogo Dalot e iniciou com Palhinha).
Desta forma, alinhou com Rúben Dias (DCD), Pepe (DCE), João Cancelo (DLD) e Nuno Mendes (DLE), fruto desta alteração passou de uma linha de três defesas para uma linha de quatro defesas. Como tal, os corredores estiveram ao serviço de Nuno Mendes e João Cancelo, enquanto o meio-campo esteve preenchido por Palhinha (como médio mais defensivo), Vitinha e Bruno Fernandes. Como trio atacante manteve Rafael Leão, Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva.
Por outro lado, tínhamos uma Turquia motivada pela vitória expressiva (3-1 frente à Geórgia) do primeiro jogo. Esta manteve o sistema tático de 1x4x2x3x1, mas com quatro alterações no seu onze inicial, nomeadamente no guarda-redes, no lateral direito e nos seus dois extremos.
Neste sentido, com estas alterações suponho que o objetivo do selecionador, Vincenzo Montella, fosse fechar os corredores laterais e, ao mesmo tempo, refrescar os dois extremos. Esta seleção da Turquia tem um misto de juventude, aliado a jogadores muito experientes, com grande talento individual, destacando-se, nomeadamente, Kökçü (SL Benfica), Arda Güler (Real Madrid) e Kenan Yildiz (Juventus), os dois últimos com 19 anos.
Desta forma, Portugal entrou bem no jogo procurando a construção da 1.ª para a 2.ª fase a três. Ou seja, João Palhinha procurava receber a bola no meio dos dois centrais, dando maior liberdade e profundidade aos laterais. Por outro lado, existia outra ‘nuance’ de posicionar-se mais caído para o corredor lateral direito, permitindo a João Cancelo projetar-se mais por esse flanco. Através deste movimento, ‘obrigava’ Bernardo Silva a fazer movimentos de fora para dentro visando explorar espaços entre linhas.
Contudo, tínhamos uma Turquia a pressionar em bloco alto até ao primeiro golo de Portugal, tendo aberto espaços entre linhas, nomeadamente, entre a sua linha média e defensiva. Além disso, registou-se apenas um momento de perigo para a baliza portuguesa, defendida por Diogo Costa.
O primeiro golo de Portugal surgiu aos 21’ por Bernardo Silva, após uma excelente jogada desenvolvida pelo nosso corredor esquerdo com cruzamento de Nuno Mendes para Bernardo finalizar. Com o decorrer do jogo, a Turquia demonstrou algumas debilidades, especificamente na sua organização defensiva, nomeadamente, nos centrais, o que acabou por originar o segundo golo de Portugal, por meio de um autogolo aos 28’ por Samet Akaydin.
Assim, observou-se uma ‘nuance’ tática observada da 1.ª para a 2.ª fase, designadamente, com João Cancelo a entrar no corredor central como médio e Bernardo Silva a manter-se aberto junto à linha lateral e, ao mesmo tempo, a recuar, criando assim superioridade no meio-campo (quatro contra três).
Ao intervalo, Portugal encontrava-se a ganhar por 0-2, com vantagem confortável e o jogo sob controlo, pelo que com dois jogadores amarelados o selecionador entendeu por bem a sua substituição. Então, no início da segunda parte, Palhinha e Rafael Leão foram substituídos por Rúben Neves e por Pedro Neto, respetivamente. Com as substituições na segunda parte, Portugal sofreu com uma nova pressão alta pela Turquia no seu momento de organização defensiva, e passamos a construir da 1.ª para a 2.ª fase com uma linha de 4+2 (linha de quatro mais dois médios interiores).
A Turquia, ao longo do jogo, procurou sair a jogar pelo seu guarda-redes pelo corredor direito, quando conseguiam passar pela 1.ª linha de pressão alta de Portugal. E, num momento em que esta está em organização ofensiva, balanceada para o ataque, surge o terceiro golo de Portugal, com uma recuperação de bola no meio-campo. Com esta recuperação, Rúben Neves executa um excelente passe de rotura após ver a desmarcação de Cristiano Ronaldo que procurou a profundidade, tendo ganho a frente ao seu oponente direto, e apenas com o guarda-redes turco pela frente, demonstrou ser um grande jogador de equipa porque não tentou marcar o golo, mas deu a oportunidade a Bruno Fernandes de executar.
Com o jogo controlado, o nosso selecionador decidiu dar oportunidade a outros jogadores que ainda não se tinham estreado neste europeu, nomeadamente, António Silva para o lugar de Pepe e, João Neves para o lugar de Vitinha.
Para a UEFA, o melhor jogador em campo foi Bernardo Silva, talvez por marcar o primeiro golo.
Mas na minha opinião, o homem do jogo deveria ter sido Pepe que, com 41 anos, durante a sua permanência em campo demonstrou uma qualidade de jogo defensiva e ofensiva sempre com critério, podendo destacar dois momentos da partida, durante a primeira parte, em que a sua intervenção defensiva foi decisiva ao anular o ataque do adversário.
Fruto deste resultado, um dos primeiros objetivos da Seleção foi alcançado, sendo garantida a presença nos oitavos de final e em primeiro lugar no grupo F. Estando nesta posição iremos defrontar o terceiro melhor classificado do grupo A, B ou C.
Um dado muito curioso é que, num estádio com capacidade para cerca de 62.000 espectadores, em que maioritariamente estavam adeptos turcos (pois são a comunidade imigrante em maior número na Alemanha) com cerca de 45.000 em oposição aos 12.000 portugueses, foi Portugal que mais se fez ouvir no final da partida pela sua vitória inequívoca.
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