"Quem não fosse um jogador à FC Porto poderia ficar ali durante um ano, mas a seguir ia embora&am
O FC Porto encheu-se de controlo emocional para vencer o Celtic numa “final de nervos” e conquistar pela primeira vez a Taça UEFA, em 2002/03, enaltece o antigo futebolista António André, que era treinador-adjunto de José Mourinho.
“Eles tinham jogadores muito altos e criavam-nos muitas dificuldades nas bolas paradas, mas, ao fazermos o 3-2 no prolongamento, trancámos o jogo e acabou. Quando o José Mourinho fazia isso, o adversário apenas cruzava diretamente e não tinha hipóteses [de desequilibrar] nas alas. Era tudo trabalhado ao mais ínfimo detalhe e é também por isso que se ganha”, lembrou à agência Lusa o ex-médio internacional português, de 65 anos.
Dois golos do brasileiro Derlei (45+1 e 115 minutos) e um do russo Dmitri Alenitchev (54), contra um ‘bis’ do sueco Henrik Larsson (47 e 57), ditaram o êxito do FC Porto (3-2, após prolongamento) em 21 de maio de 2003, no Estádio Olímpico de La Cartuja, em Sevilha.
“O clima era um pouco diferente e estava um calor assim meio desaustinado naquele dia [risos]. O Celtic não tinha um plantel forte, mas sim uma belíssima equipa, com 12, 13 ou 14 nomes de grande capacidade e que já tinham competido em outros países europeus. Sabíamos que não se podia dar folga ao Henrik Larsson e os nossos jogadores estavam avisados. Foi um jogo emotivo, mas correu bem e nós dominámos sempre”, enquadrou.
Os ‘dragões’ arrebatavam o seu quarto troféu internacional, sendo que António André já havia sido preponderante como jogador no ‘ano dourado’ de 1987, marcado pelos êxitos sucessivos na Taça dos Campeões, na Taça Intercontinental e na Supertaça Europeia.
“Eu estava muitas vezes no banco e via a vontade deles na hora de meter as caneleiras, puxar as meias e ir para o jogo. Quem não fosse um jogador à FC Porto poderia ficar ali durante um ano, mas a seguir ia embora. Não tinha qualquer hipótese. Tínhamos atletas desse calibre e uma equipa técnica que ia passando a mística do clube àqueles que iam chegando. Existia sempre uma estrutura muito forte e os atletas que vinham era mesmo para ganhar”, partilhou o vencedor de mais sete campeonatos, três taças de Portugal e seis supertaças Cândido de Oliveira pelos ‘azuis e brancos’ em 11 épocas (1984 a 1995).
Durante a caminhada até à final de Sevilha, o ex-médio admite que a eliminatória “mais complicada” aconteceu ante os gregos do Panathinaikos nos ‘quartos’, com um ‘bis’ de Derlei em Atenas (2-0, após prolongamento) a corrigir a derrota sofrida nas Antas (0-1), na primeira mão.
O FC Porto seguiu para as meias-finais e começou por golear casa os italianos da Lazio (4-1), numa ‘serenata à chuva' em que José Mourinho foi expulso, tendo sido rendido no banco pelos adjuntos Aloísio, André, Baltemar Brito e Rui Faria no ‘nulo’ em Roma (0-0).
“O [também adjunto] Rui Faria era o braço-direito do José Mourinho, deixava o esquema preparado e estava por dentro de tudo. Se o treinador principal quisesse mudar algo ou trocar um jogador durante a partida, todos os adjuntos estavam sempre em comunicação para tornar as coisas operacionais. No fundo, havia muito trabalho de casa feito”, referiu.
Com 20 jogos e um golo pela seleção principal de Portugal, que representou no Mundial 1986, António André experienciou ainda ao lado do técnico setubalense a vitória na final da edição 2003/04 da Liga dos Campeões (3-0 face ao Mónaco, em Gelsenkirchen), 17 anos após o primeiro cetro continental do FC Porto (2-1 ao Bayern Munique, em Viena).
“A final era para ganhar. Não havia outro remédio. Os treinadores repetem sempre isso e nós íamos ao quarto conversar com os jogadores, lembrando-lhes de que estávamos ali depois de já termos passado tanto tempo em estágio, apanhado imenso frio e disputado muitos jogos. Procurávamos sensibilizá-los para aquilo que tinham de fazer”, concluiu o antigo médio, que deixou o cargo de treinador-adjunto depois da saída de José Mourinho para os ingleses do Chelsea, em 2004, e ainda trabalhou como observador no FC Porto.
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