Ferrari 2023: novo ano, novo chefe, novo carro. E os velhos problemas

Sempre digo que no automobilismo o que temos mais próximo de uma relação de torcedor com seu time de futebol é a relação dos com a Ferrari. Para o bem e para o mal. A festa pelas vitórias é sempre maior, mas as crises ocasionadas pelas derrotas também são muito amplificadas. Ainda mais quando a equipe italiana, a mais tradicional da Fórmula 1, vive o segundo maior jejum de sua história na categoria: já são 15 anos sem um título do Mundial de Construtores - último em 2008 - e 16 sem um de pilotos - o finlandês Kimi Raikkonen em 2007. Período que só perde para o notório intervalo de 21 anos entre as conquistas do sul-africano Jody Scheckter em 1979 e do alemão Michael Schumacher em 2000.

O carro de Charles Leclerc após o abandono na 39ª volta do GP do Bahrein com problemas em sua Ferrari — Foto: Eric Alonso/Getty Images 2 de 6 O carro de Charles Leclerc após o abandono na 39ª volta do GP do Bahrein com problemas em sua Ferrari — Foto: Eric Alonso/Getty Images

O carro de Charles Leclerc após o abandono na 39ª volta do GP do Bahrein com problemas em sua Ferrari — Foto: Eric Alonso/Getty Images

O jejum atual é bastante doloroso para o torcedor ferrarista. A equipe italiana se especializou em dar esperanças aos fãs e conseguir estragar tudo de maneiras sempre inacreditáveis. Falhas crassas de estratégia, pit stops desastrados, desenvolvimento ineficiente dos carros, erros de seus pilotos dentro da pista. Tudo isso aconteceu pelo menos uma vez com a Ferrari nos últimos 16 anos. Por causa disso, a posição do italiano Mattia Binotto como chefe de equipe ficou insustentável após o fiasco da temporada passada. Conhecido por ser o responsável pelos motores na sequência de títulos de Michael Schumacher entre 2000 e 2004, o engenheiro sempre foi reconhecido pela extrema capacidade técnica. Mas sua escolha para assumir a chefia da equipe, em 2023, se mostrou um completo equívoco. O que Binotto tinha de capacidade técnica não tinha para gerir pessoas. Após três anos, a Ferrari resolveu demitir o engenheiro e trazer alguém de fora para reestruturar a equipe.

O nome escolhido foi o do francês Frédéric Vasseur, ex-chefe da Alfa Romeo na Fórmula 1, mas mais conhecido pelo belo trabalho no período de dominância da ART Grand Prix nas categorias de base. Outro ponto a favor: o dirigente trabalhou com a grande estrela da Ferrari atualmente, o monegasco Charles Leclerc, na ART e na Alfa Romeo. O novo chefe começou a reestruturação pela parte que deixou mais a desejar nos últimos anos na equipe: a estratégia. Mandou o espanhol Iñaki Rueda de volta para a fábrica e efetivou o inglês com ascendência indiana Ravin Jain, ex-engenheiro de corridas. Outro ponto trabalhado foram os pit stops, que funcionaram muito bem no GP do Bahrein, por sinal.

Charles Leclerc volta aos boxes o após abandonar o GP do Bahrein na 39ª volta com problemas em sua Ferrari — Foto: Michael Potts/BSR Agency/Getty Images 3 de 6 Charles Leclerc volta aos boxes o após abandonar o GP do Bahrein na 39ª volta com problemas em sua Ferrari — Foto: Michael Potts/BSR Agency/Getty Images

Charles Leclerc volta aos boxes o após abandonar o GP do Bahrein na 39ª volta com problemas em sua Ferrari — Foto: Michael Potts/BSR Agency/Getty Images

Se a parte administrativa da equipe já deu mostras de avanço na primeira corrida, não dá para dizer o mesmo do SF-23, monoposto da Ferrari para a temporada 2023. A equipe italiana começou 2022 com o melhor carro do grid, fazendo boas corridas. Mas uma série de problemas acabou minando a luta pelo título da equipe italiana. Além dos erros de estratégia e nos pit stops, o carro tinha um sério problema com o desgaste excessivo dos pneus, além, é claro, da falta de confiabilidade - foram inúmeras quebras no ano passado. Com isso tudo, a RBR minimizou os danos nas primeiras corridas, enquanto não tinha o melhor carro, e dominou o campeonato quando o trabalho de Adrian Newey, o mago da aerodinâmica, deu uma vantagem confortável dentro da pista.

A expectativa era que os problemas enfrentados no ano passado fossem mitigados no projeto para 2023. Não foi o que aconteceu. Pelo que vimos nos testes de pré-temporada e na primeira corrida do ano, ambos no Circuito Internacional do Bahrein, as falhas continuam lá. Pior, contra uma Red Bull ainda mais forte e mais rápida que no ano passado. O SF-23 segue com os problemas graves do antecessor. Conhecido por seu estilo suave e gentil com os pneus (lembram do ?), Carlos Sainz teve de tirar o pé na parte final da corrida por causa do desgaste excessivo. Com Charles Leclerc foi ainda pior: a Ferrari teve de trocar o controle eletrônico e as baterias antes mesmo da primeira corrida do ano. Mesmo assim, ele teve de abandonar na 39ª volta na terceira posição com problemas elétricos na unidade de potência. Tudo isso logo na abertura do campeonato. E para piorar, a Aston Martin chegou para a briga e enfrentou a Ferrari de igual para igual em ritmo de corrida.

Carlos Sainz chegou na quarta posição do GP do Bahrein, mas sofreu com o desgaste excessivo dos pneus — Foto: Ferrari 4 de 6 Carlos Sainz chegou na quarta posição do GP do Bahrein, mas sofreu com o desgaste excessivo dos pneus — Foto: Ferrari

Carlos Sainz chegou na quarta posição do GP do Bahrein, mas sofreu com o desgaste excessivo dos pneus — Foto: Ferrari

Em ritmo de classificação, a Ferrari até demonstrou capacidade de enfrentar a Red Bull. Mas na corrida a diferença ficou entre meio e um segundo por volta. É verdade que a velocidade de reta, um dos pontos fracos do carro do ano passado, melhorou em 2023. Mas o consumo excessivo dos pneus piorou. O plano de Vasseur é trazer atualizações de forma contínua, de acordo com o cronograma planejado antes da temporada. O problema é que, de 2022 para 2023, a RBR aumentou quase meio segundo a vantagem estimada em relação à Ferrari. Tudo porque o RB19 funciona melhor em curvas de baixa e média velocidade. Os carros vermelhos só andam bem nas retas e nas curvas de alta.

Se há uma notícia boa para a Ferrari é que as peças levadas para o Bahrein tiveram a correlação perfeita após serem testadas no túnel de vento e na pista. Isso pode adiantar a recuperação da equipe italiana. O problema é que as falhas continuam lá e não parecem ser de fácil resolução. Para completar, a montanha para chegar na Red Bull ficou ainda mais íngreme. Tudo isso com Aston Martin e Mercedes nos seus calcanhares. Se estamos em um novo ano e a Ferrari tem um novo chefe que promoveu mudanças internas, os problemas continuam os mesmos. Após uma corrida, a Ferrari já está em crise novamente. E Vasseur já encontrou seu primeiro abacaxi para descascar na equipe italiana.

O carro de Charles Leclerc após o abandono na 39ª volta do GP do Bahrein — Foto: Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images 5 de 6 O carro de Charles Leclerc após o abandono na 39ª volta do GP do Bahrein — Foto: Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images

O carro de Charles Leclerc após o abandono na 39ª volta do GP do Bahrein — Foto: Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com 6 de 6 Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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