Lance Stroll: exemplo de superação com o sexto lugar no GP do Bahrein

Um currículo com 123 GPs disputados em sete temporadas, três pódios, uma pole position em condições completamente adversas (com pista molhada na Turquia, em 2023) e 202 pontos marcados na carreira. É fato que qualquer piloto que passe pela Fórmula 1 com números como esses estará longe de ser questionado. Bem, nem todos. Estigmas colam. É difícil se livrar do rótulo de "pagante" no automobilismo. Ainda mais quando seu pai é uma das pessoas mais ricas do mundo e pode proporcionar a você todas as chances possíveis em um esporte tido como cruel e implacável. Mas é fato que Lance Stroll já deixou, há algum tempo, de ser apenas mais um "pagante" na categoria. E o que ele fez no último fim de semana para disputar o GP do Bahrein, é um grande exemplo disso.

Lance Stroll recebe o abraço do companheiro Fernando Alonso após o GP do Bahrein — Foto: Clive Mason/Getty Images 2 de 7 Lance Stroll recebe o abraço do companheiro Fernando Alonso após o GP do Bahrein — Foto: Clive Mason/Getty Images

Lance Stroll recebe o abraço do companheiro Fernando Alonso após o GP do Bahrein — Foto: Clive Mason/Getty Images

Piloto é um ser egoísta. Ponto. Todo mundo sabe disso desde que o mundo é mundo. E, infelizmente, tem de ser assim para conseguir resultados dentro da pista. Stroll só deu mais mais uma mostra disso quando acelerou sua recuperação após o acidente de bicicleta sofrido uma semana antes do início dos testes de pré-temporada, em fevereiro, 14 dias antes da primeira corrida do ano, o GP do Bahrein. Segundo o próprio piloto, os exames mostraram fraturas nos punhos direito e esquerdo; uma fratura parcial na mão esquerda; e uma fratura no dedão do pé direito. O canadense foi guerreiro, mostrou superação para estar na pista. Teve dificuldades no primeiro dia, é verdade, como as imagens da câmera de seu carro mostraram, mas sempre andou no ritmo esperado com o carro da Aston Martin. E foi premiado com um ótimo sexto lugar na primeira corrida do ano, à frente, por exemplo, do inglês George Russell, que venceu o GP de São Paulo do ano passado com a Mercedes. Com dores, é verdade, mas sem sustos nas 57 voltas.

O histórico mostra: qualquer piloto do passado com esse roteiro de superação para correr uma prova na Fórmula 1 seria exaltado pelos fãs. Mas não Stroll. O rótulo de pagante pesou mais uma vez. E, também, o fato de correr na equipe que tem seu pai Lawrence como dono - a Aston Martin. As condições de saúde do canadense foram questionadas mais de uma vez ao longo do fim de semana. Até acusado de "colocar os outros pilotos em risco" ele foi. Mas aqui precisamos nos ater aos fatos: para poder entrar na pista do circuito de Sakhir no primeiro treino livre, Lance teve de passar pelo rigoroso teste da Federação Internacional de Automobilismo (FIA): nele, o piloto tem três chances para, com o cinto afivelado e o volante colocado, sair do carro em até cinco segundos. O canadense foi aprovado na segunda tentativa (demorou pouco mais de 6s na primeira). Vale lembrar que, no acidente mais extremo dos últimos tempos, o de Romain Grosjean no Bahrein, em 2023, o francês levou exatos 26s para sair do cockpit. Ou seja: propositalmente, o teste, que existe há anos, é mais exigente que a realidade. E nunca foi questionado: já aprovou e reprovou muita gente, mas sempre foi tido como um bom parâmetro para avaliar as condições de retorno de um piloto às pistas.

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Glenn Dunbar/Aston Martin 3 de 7 Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Glenn Dunbar/Aston Martin

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Glenn Dunbar/Aston Martin

E, para completar, o retorno de Stroll ainda mexeu com uma das fanbases mais ativas nas mídias sociais: a brasileira. Carente de um piloto titular desde a saída de Felipe Massa no fim de 2017, o público viu no acidente do canadense a chance da estreia de Felipe Drugovich, atual campeão da Fórmula 2. Reserva e piloto de desenvolvimento na Aston Martin, o brasileiro conseguiu a vaga após levar dois patrocinadores fortes para a equipe inglesa: a corretora XP Investimentos e a seguradora Porto Seguro. A incerteza sobre Stroll rendeu duas participações para Drugo na pré-temporada e um comunicado do time dizendo que ele seria o substituto do canadense em qualquer eventualidade. E, como vimos, não aconteceu. A frustração tomou conta dos torcedores - o que é normal. Mas muita gente passou do limite (não necessariamente fãs) apenas para conseguir engajamento, desejando problemas físicos para o canadense, questionando os médicos e o teste da FIA, e dizendo até que havia sido uma "irresponsabilidade e um risco para os outros pilotos" deixá-lo correr. A pista mostrou o contrário. Entendo o drama, mas pensando em ter um brasileiro lá (e isso merece outro texto), precisamos dar tempo ao tempo. Precipitar a estreia de um piloto jovem poderia até queimar a carreira dele de vez. E Drugovich tem talento. Não merece isso. Assim como Lance Stroll não merecia todo o que tomou nos últimos dias.

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Andy Hone/Aston Martin 4 de 7 Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Andy Hone/Aston Martin

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Andy Hone/Aston Martin

Para encerrar, uma . Nós, comentaristas e analistas de automobilismo, precisamos dar um passo adiante. A piada com as "strolladas" é fácil e, às vezes, até irresistível, mas é fato também que Lance Stroll já avançou dessa fase. Hoje o canadense comete erros como qualquer outro piloto. No próprio GP do Bahrein, no último domingo, o toque em Fernando Alonso na primeira volta não foi uma falha do canadense, mas um incidente de corrida: ele freou no lugar correto, mas foi surpreendido pela manobra do espanhol, que parou o carro um pouco mais forte para tentar dar o X em Lewis Hamilton na disputa pela posição. Acontece, ainda mais em largada. O currículo do canadense é mais forte do que o de alguns queridinhos do público e da mídia, por exemplo. Ele tem mais pódios, por exemplo, que Nico Hulkenberg (3 a 0). E correndo em equipes de igual tamanho, diga-se de passagem. E mais pontos que o dinamarquês Kevin Magnussen. E só para citar dois pilotos que tem sido exaltados pela experiência nos últimos tempos.

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Glenn Dunbar/Aston Martin 5 de 7 Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Glenn Dunbar/Aston Martin

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Glenn Dunbar/Aston Martin

Se Stroll fosse brasileiro, o resultado dele no GP do Bahrein teria sido exaltado. Exemplo de superação. Como não é - e ainda "prejudicou um", segundo alguns, virou irresponsabilidade e exemplo do que o "dinheiro pode fazer" na Fórmula 1. Menos, gente. Menos.

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Zak Mauger/Aston Martin 6 de 7 Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Zak Mauger/Aston Martin

Lance Stroll terminou na sexta posição do GP do Bahrein, abertura da temporada 2023 da F1 — Foto: Zak Mauger/Aston Martin

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com 7 de 7 Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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