Amor à distância, conheça a história do professor da Unir que é torcedor apaixonado pelo Baraúnas, clube de Mossoró

Carlos Guerra no vestiário do Real Madrid — Foto: Reprodução 1 de 6 Carlos Guerra no vestiário do Real Madrid — Foto: Reprodução

Carlos Guerra no vestiário do Real Madrid — Foto: Reprodução

O que você faria ao vivenciar um amor à distância? Que loucura cometeria para assistir a um jogo histórico do seu clube do coração? O que é mais importante no momento, ver Messi jogar presencialmente ou tentar acompanhar a partida do seu time no campeonato estadual?

O professor de jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Carlos Guerra Júnior, é natural de Mossoró, cidade do Rio Grande do Norte e está na capital rondoniense há oito meses, após passar para o concurso para a vaga na universidade. Em entrevista ao ge.globo/ro, o professor aborda a sua história com o clube, as loucuras e o seu amor pelo Tricolor de Mossoró.

Ele nos conta que o amor pelo clube foi passado por gerações. O Baraúnas sempre foi o clube de sua família. O seu bisavô, avô, pai, tios, primos, entre outros, são torcedores do clube de Mossoró.

Mas a paixão de Carlos Guerra passou dos limites das quatros linhas. Para ele, o clube sempre teve uma questão familiar, mas destaca ter contribuído mais com o time.

– Acho que em vários aspectos eu superei e me tornei o mais apaixonado ou pelo menos o que mais passou a contribuir no dia a dia do clube. [...] Meu irmão ajudava às vezes com remédios. Mas eu ajudei indicando jogadores, como assessor de imprensa, fazendo cota para custos do clube. Eu tento de toda forma ajudar o clube – disse Carlos Guerra.

Ele reitera que apesar de alguns resultados negativos, já pensou em parar de ajudar o clube, mas que o amor pelo clube sempre o traz de volta.

– Às vezes tem um desgaste, uma desilusão e a gente diz que é a última vez que vai ajudar, mas não tem jeito, a gente sempre ajuda o clube no início do campeonato – comenta.

Segundo ele, as questões sociopolíticas entre as cidades de Mossoró e Natal impedem os moradores mossoroenses de torcerem para os grandes clubes da capital potiguar. Carlos conta que enquanto a capital é marcada pelo turismo, a cidade em que nasceu tem forte apelo histórico. Ele destaca que foi a primeira cidade a expulsar Lampião e a cidade que teve a primeira mulher votante no país.

– Na cidade de Mossoró poucas pessoas torcem para os clubes de Natal, pois a rivalidade entre as duas cidades vai além das quatro linhas. A cidade sempre teve vários aspectos históricos e políticos importantes, então algumas pessoas consideram injusta a cidade não ser a capital do estado. Então não tem como pensar num mossoroense torcer para o ABC ou América. Ele pode torcer para alguém do eixo Rio-SP, mas se gostar do futebol de RN, vai torcer para o Potiguar ou Baraúnas – salienta.

Mas para Carlos essa rivalidade não é tão forte assim. Formado em jornalismo, atuou como jornalista esportivo em muitos jogos dos clubes de Natal. Segundo ele, era mais fácil cobrir o América e o ABC, pois não tinha a paixão que o Baraúnas carrega em seu coração.

– Eu não sou tão contra ou tão rival do ABC ou América, pelo aspecto particular. Eu comecei a fazer matérias cobrindo os dois principais clubes de Natal e eu acho que seria mais difícil cobrir o Baraúnas porque seria difícil esconder essa paixão. Então eu fiz as principais matérias esportivas na minha carreira ali em Natal.

O professor está em Porto Velho desde maio do ano passado. Ele conta ao ge.globo/ro qual o seu time no futebol rondoniense.

Jogo do Porto Velho registrado por Guerra — Foto: Reprodução 2 de 6 Jogo do Porto Velho registrado por Guerra — Foto: Reprodução

Jogo do Porto Velho registrado por Guerra — Foto: Reprodução

– Aqui em Rondônia é tudo muito recente, quando eu cheguei eu fui logo para os jogos do Porto Velho, pois era a Série D e eu moro aqui há oito meses. Mas confesso que o Rondoniense demonstrou parecer com o Baraúnas na estrutura, no campo e na formação social. Mas eu sou Baraúnas! – destaca Carlos Guerra, o Mossoró.

Qual a maior loucura que você cometeria pelo seu time? No livro de Nick Hornby, Febre de Bola, o escritor conta a sua história de quando passou a torcer para o Arsenal, clube de Londres da Inglaterra. E como passou a vivenciar momentos históricos, sejam felizes ou tristes, mas também quando passou a acompanhar um clube menos tradicional do país, o Cambridge United.

No livro, Hornby também conta as loucuras que fez para poder assistir ao clube de Londres. O que se assemelha bastante às loucuras que Carlos Guerra cometeu para assistir aos jogos do Baraúnas.

Em 2005, durante a Copa do Brasil, o professor da Universidade Federal de Rondônia, morava em Fortaleza (CE), quando estava no último ano do ensino médio. A sua mãe liberava sair mais cedo das aulas em dias de jogos da competição. Mas no jogo contra o Vasco, o imprevisto para ver o jogo aconteceu.

– Ela ligava para a escola para liberar nos dias de jogos da Copa do Brasil, quando o clube fez uma campanha histórica na sua estreia. No dia de jogo de ida contra o Vasco, eu tive que sair correndo até a parada de ônibus para pegar o transporte até Mossoró. E naquele dia, o ônibus saiu mais cedo e eu saí correndo atrás do ônibus para assistir aquele jogo. Quando eu cheguei lá tinha uma van e ela quebrou no meio do caminho. O motorista só devolveu o dinheiro e eu fiquei no meio da estrada pedindo carona, então entramos dentro de um caminhão, que disse que deixaria na parte externa de Mossoró. Ao chegar, liguei para o meu irmão, que veio me buscar na cidade para assistirmos ao jogo – conta a história.

Ele também comenta sobre a vez que ofereceu a sua passagem, que era destinada para Porto Velho, quando iria realizar o concurso para a Unir, para o clube conseguir trazer um atacante para o município.

– Ano passado tinha um concurso para professor aqui na Unir, o concurso era em dezembro e quando foi adiado o concurso, eu fiquei com créditos de milhas na empresa. Aí o Baraúnas precisava de dinheiro para contratar um atacante e eu ofereci a minha passagem para o jogador – disse.

Ainda em conversa, o professor fala sobre as vezes que esteve vestindo o “manto” durante os jogos na Champions League e Campeonato Espanhol. Ele ainda mostra para o globoesporte/ro, que a camisa esteve presente em outros estádios conhecidos do futebol. Além da cidade do Vaticano, que ele levou para “abençoar”.

Jornalista esportivo Carlos no Vaticano — Foto: Reprodução 3 de 6 Jornalista esportivo Carlos no Vaticano — Foto: Reprodução

Jornalista esportivo Carlos no Vaticano — Foto: Reprodução

– Eu viajei para Barcelona sem muita grana. Eu morava em Coimbra, em Portugal, mas lá você encontra passagem de 30 a 35 euros, aí eu comprei. O meu falecido amigo, Paulo Júnior, ex-jogador do clube, me perguntou se eu não iria para o jogo do Barcelona e me mandou o dinheiro de presente. Aí fui para o jogo, estava empolgado, mas estava pensando no Baraúnas. Aí comecei a olhar pela internet, celular, então assisti ao jogo sem saber como estava o Baraúnas. Acabou o jogo e eu saí correndo para saber e vi que o time perdeu – relembra Carlos.

O professor Carlos Guerra e o ex-goleiro Taffarel — Foto: Reprodução 4 de 6 O professor Carlos Guerra e o ex-goleiro Taffarel — Foto: Reprodução

O professor Carlos Guerra e o ex-goleiro Taffarel — Foto: Reprodução

Até famoso vestiu a camisa do Baraúnas. O jornalista e professor da universidade entregou uma camisa para o humorista Gregório Duvivier quando esteve em Portugal.

Professor da Unir e Duvivier — Foto: Reprodução 5 de 6 Professor da Unir e Duvivier — Foto: Reprodução

Professor da Unir e Duvivier — Foto: Reprodução

– Conheci Duvivier em junho de 2016. Ele abriu o espaço para quem quisesse tirar foto com ele, depois de um show em Coimbra. Eu aproveitei a fila e não liguei muito pra foto. Disse: eu tenho dois convites. Um para hoje e outro para depois. O para depois é para fazer um convite para você participar de um evento na Universidade de Coimbra, quando você retornar. O para hoje é ir para uma festa com comida e bebida tudo de graça. Ele chegou depois com a sua produção. Uma mulher foi abraçá-lo e bateu no meu braço sem querer, fazendo com que ele ficasse com a camisa manchada de vinho. Eu estava com a camisa do Baraúnas guardada, porque ia para uma praia de manhã e dei aquela camisa pra ele – comenta.

O professor ainda nos conta sobre a vez em que substituiu o Romário, o Baixinho. Numa ocasião, o tetracampeão da Seleção jogou um amistoso. Segundo Carlos, ele substituiu o camisa 11 na partida. Carlos brincou com o Baixinho dizendo que quem o substituiu era o clone do carrasco do Vasco na Copa do Brasil de 2005, Cícero Ramalho. Carlos ainda chegou a dividir o quarto posteriormente com Cícero, quando o ex-atacante se tornou dirigente de futebol da equipe.

Partida festiva com a presença de Romário — Foto: Reprodução 6 de 6 Partida festiva com a presença de Romário — Foto: Reprodução

Partida festiva com a presença de Romário — Foto: Reprodução

– Na hora de entrar, eu estava com a camisa do Baraúnas e olhei para ele e disse: olha aqui, tu lembra? Tirei onda com ele, mas não lembro o que ele respondeu. Eu não tinha futebol nenhum e fui substituído – conta a história ao ge.globo/ro.

Nessa temporada, Carlos destaca que irá acompanhar o Campeonato Rondoniense. Ele ainda salienta que está produzindo um podcast, em parceria com estudantes da Unir, sobre o estadual. Segundo ele, a expectativa é de poder indicar algum jogador para o seu clube do coração.

– Não sou um profundo conhecedor do futebol rondoniense ainda, mas acho que está sendo criado um monopólio entre Real Ariquemes e Porto Velho, por serem os times com maior poder aquisitivo. Quem sabe posso indicar alguns jogadores para o Baraúnas – finaliza.

O Campeonato Rondoniense estreia no dia 25 de fevereiro.

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