Do futebol à política: presidente de Conselho do Santos vê torcida cansada com time e projeta eleição

Celso Jatene está acostumado com disputas políticas. Santista "de arquibancada", como se define, o atual presidente do Conselho Deliberativo do Santos foi vereador em São Paulo por 20 anos (eleito em 2001 e reeleito em 2004, 2008, 2012 e 2016, mas não concorreu em 2023). Agora, está cansado – mas não da política.

Num espaço com o Santos por todos os lados, nas paredes, nas estantes e na coleção de baleias de enfeite que comprou pelo mundo e exibe orgulhosamente, Celso Jatene recebeu o 💥️ge na última quinta-feira para uma entrevista que durou pouco mais de 30 minutos.

Em seu último ano como presidente do Conselho do Santos, o ex-vereador e Secretário Municipal de Esportes, Lazer e Recreação não esconde sua desmotivação com o time. Apoiador declarado do presidente Andres Rueda, ele acredita que é o elenco quem deve assumir a maior parcela de responsabilidade pelos últimos dois anos abaixo do esperado dentro de campo – e não a diretoria.

– Estamos cansados. Não é que ganhamos e perdemos. É que não enxergamos boas perspectivas. Eu acho que a responsabilidade disso não é da gestão, do Comitê de Gestão. Eu acho que a responsabilidade disso precisa ser cobrada dos jogadores. (...) Fazer discurso no vestiário e postar na rede social que a camisa do Santos é pesada, que tem de ganhar, ir para cima, é muito legal, muito bonito. Mas jogar dentro das quatro linhas o presidente do clube não joga, o diretor (Falcão) não joga – infelizmente, porque se tivesse no nosso meio de campo seria outra coisa –, os conselheiros não jogam... – disse Jatene, ao 💥️ge.

Celso Jatene recebe ge em escritório em São Paulo — Foto: Bruno Giufrida 1 de 3 Celso Jatene recebe ge em escritório em São Paulo — Foto: Bruno Giufrida

Celso Jatene recebe ge em escritório em São Paulo — Foto: Bruno Giufrida

Na véspera da entrevista, o Santos havia perdido por 2 a 0 para o Guarani, pela segunda rodada do Campeonato Paulista, fora de casa, sem conseguir sequer assustar o adversário, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro.

Enquanto o time briga para ter melhor desempenho em campo, o Santos se prepara para sua próxima eleição presidencial. Celso Jatene, cotado para disputar o pleito, já adianta: a vida política dele no clube acaba provavelmente no dia 10 de dezembro, quando deve ser realizada a Assembleia Geral para definição do novo presidente.

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Jatene, durante a entrevista com o 💥️ge, projetou a disputa eleitoral no fim de 2023 e isentou o presidente Andres Rueda de erros no futebol, mas acredita que o resultado da eleição será influenciado pelo desempenho do time em campo. Veja, abaixo, a conversa com o presidente do Conselho do Santos:

💥️GE: No fim do ano passado tivemos reuniões muito importantes para o clube. Uma reforma estatutária e as reuniões para aprovação do novo estádio. Queria que você fizesse um balanço da atuação do Conselho nesses casos, principalmente

💥️Celso Jatene: A reforma estatutária foi super importante, porque a última tinha sido em 2011. A de 2023 não foi uma reforma. Foi a inclusão do artigo obrigatório para o Santos poder participar do Profut. Só foi essa mudança. O estatuto do clube precisava respirar, precisava ser modernizado. Eu costumo dizer que a partir do momento em que aprovamos o novo estatuto, registramos o novo estatuto, já temos de começar a discutir o estatuto de novo.

O Estatuto tem de ser uma coisa dinâmica, que não pode parar de evoluir. Tem de evoluir. Não é mudar o estatuto para dar mais possibilidade para presidente ser reeleito por mais mandato, como fizeram várias vezes no clube. “Ah, vamos mudar o Estatuto”. O presidente podia ser reeleito uma vez só, depois podia ter reeleição para sempre. Não é esse tipo de mudança. É a mudança verdadeira, que visa modernizar o clube, fortalecer o clube. Proteger o clube. Exemplo disso é a SAF.

Falaram que estávamos mudando o estatuto para fazer a SAF. Pelo contrário. Estou mudando o Estatuto para proteger o clube para o caso de ter uma proposta de SAF. Estamos estabelecendo regras. E as regras são claras e rígidas. Aprovação do Conselho por dois terços, aprovação na Assembleia Geral também por dois terços. O Estatuto passado não tinha nenhuma previsão.

Eu falei muitas vezes. Um presidente esperto, e o Santos teve vários presidentes espertos, com um advogado competente do lado, podia fazer uma SAF na sala dele, porque o Estatuto não tinha nenhuma previsão. Foi muito importante esse momento que tivemos. O associado respondeu.

Tivemos a consolidação da votação virtual, à distância, para dar oportunidade a todos os sócios do clube a votar. Uma votação de dois terços não é uma votação simples. Se fizer uma conta rápida, o sim precisa ter o dobro de votos do não. Foi um momento histórico para o clube. Fico feliz de, como presidente do Conselho, ter atingido essa meta, que não é minha, é do clube.

Fiquei tão feliz que já avançamos para a discussão da nova arena. Conversei com o presidente Rueda, os membros do Comitê e os membros da Comissão formada no Conselho para acompanhar as negociações para fazermos essa apresentação e submeter à aprovação do Conselho ainda no ano passado. Falaram que era possível. Tivemos apresentação e aprovação no Conselho. Estamos acostumadíssimos com a Vila Belmiro, mas está na hora de modernizar.

Celso Jatene mexe em coleção de itens do Santos — Foto: Bruno Giufrida 2 de 3 Celso Jatene mexe em coleção de itens do Santos — Foto: Bruno Giufrida

Celso Jatene mexe em coleção de itens do Santos — Foto: Bruno Giufrida

💥️GE: Um outro ponto que merece destaque na reforma estatutária é a diminuição nos membros do Conselho Deliberativo. Qual sua opinião sobre isso?

💥️Celso Jatene: Eu vou te dizer uma coisa sobre eleição no Conselho. Tem uma mudança que eu gostaria não de fazer, mas gostaria de discutir este tema. É que não deu tempo nesta reforma. Acho que a diminuição no número de conselheiros foi importante, mas acho que tem uma coisa mais importante ainda que precisamos fazer: a votação individual para conselheiros.

É importante que o conselheiro se apresente para o sócio antes de ser eleito. Que o sócio saiba por que o cara quer ser conselheiro do Santos, quem ele é. Claro que todos vão ter que fazer parte de uma chapa X ou Y.

Eu vivi muitos momentos da política do Santos. Sou conselheiro desde 1986. Vivi momentos em que o Santos tinha chapa única para o Conselho. Vivi momentos em que era o Conselho que elegia o presidente. Hoje a gente discute muito o Comitê. Antigamente, era previsto no Estatuto a eleição de um presidente eleito e sete vices eleitos, também. O cara era vice-presidente eleito e não podia tirar. Eleito. E eleito indiretamente pelo Conselho.

O que precisamos é modernizar. Essa coisa da chapa do Conselho, uma chapa que vai junto, o sócio não sabe em quem ele está votando para o Conselho. Mas isso é uma discussão para a frente. Neste ano não vamos mexer no Estatuto, até porque é ano eleitoral. Não podemos mexer na regra. A regra está lá, estabelecida. Será tudo preservado. Mas a partir do ano que vem temos de abrir novas discussões.

Celso Jatene exibe "bola Pelé" — Foto: Bruno Giufrida 3 de 3 Celso Jatene exibe "bola Pelé" — Foto: Bruno Giufrida

Celso Jatene exibe "bola Pelé" — Foto: Bruno Giufrida

💥️GE: E há algo mais no novo Estatuto, além da questão do número de membros do Comitê de Gestão, que já tem de ser colocado em prática?

💥️Celso Jatene: Na verdade, tivemos uma decisão neste Estatuto que não tem disposições transitórias, porque queríamos que tivesse aplicabilidade imediata. O primeiro problema já aconteceu. Não acho que seja um problema, na verdade. O Comitê perdeu o timing de indicar os nomes, porque o sexto membro que está lá vai ficar. Foi uma questão de timing. Eu fui buscar um parecer da comissão de estatuto, ela entendeu que era possível a gente abrir a discussão, o plenário aprovou por maioria esmagadora, mas no momento do registro o cartório não aceitou fazer.

💥️GE: Como você vê a participação do Conselho Deliberativo, como órgão fiscalizador, na gestão do presidente Rueda? Quando ele foi eleito, se tinha a impressão de que o Conselho estaria na mão dele, mas acho que isso não se provou...

💥️Celso Jatene: Eu acho que o termo “Conselho na mão” é pejorativo. Não é um termo legal. Eu acho que o Conselho, quando foi eleito, não tivemos aquela questão do percentual. Pela votação que o Rueda teve, ele acabou fazendo 100% do Conselho. Aqueles 100% do Conselho era um movimento de união, então tinha vários segmentos diferentes.

O que trouxe um pouco de amargura na relação entre o Conselho e o executivo do clube é a nossa razão, a razão da nossa existência. É o futebol. O futebol não foi bem nesses dois anos. Não acho que o responsável direto disso é o Rueda.

Em alguns momentos, o Rueda teve de trocar o pneu com o carro em movimento. Eu costumo dizer que a única oportunidade que o Rueda teve de trocar o pneu do carro com o carro parado foi agora no fim do ano. Eu estou até um pouco tenso com o resultado de ontem, mas acho que a perspectiva (é boa)...

Ele trouxe para o Santos dois caras muito sérios e conhecedores do futebol, o Odair e o Falcão. Espero que eles consigam exercer a função em relação ao elenco de jogadores para que a gente possa ter melhores resultados. Foi a primeira oportunidade que o Rueda teve de trocar o pneu com o carro parado.

💥️GE: Você acha que o resultado da eleição do fim do ano depende muito do resultado esportivo do 💥️Santos💥️ na temporada?

💥️Celso Jatene: Não sei se depende muito. O torcedor do Santos está cansado. A palavra é essa. Eu, presidente do Conselho, estou cansado. É difícil assistir a um jogo. A gente vai, a gente torce. Como te disse: tenho quatro filhos santistas, um caçula que ainda não fez 12 anos e está sempre acompanhando.

Estamos cansados. Não é que ganhamos e perdemos. É que não enxergamos boas perspectivas. Eu acho que a responsabilidade disso não é da gestão, do Comitê de Gestão. Eu acho que a responsabilidade disso precisa ser cobrada dos jogadores. É responsabilidade dos jogadores ganhar o jogo dentro das quatro linhas. Fazer discurso no vestiário e postar na rede social que a camisa do Santos é pesada, que tem de ganhar, ir para cima, é muito legal, muito bonito, mas jogar dentro das quatro linhas o presidente do clube não joga, o diretor não joga – infelizmente, porque se tivesse no nosso meio de campo seria outra coisa –, os conselheiros não jogam...

Está na hora de os profissionais de futebol do Santos responderem para a torcida o que a torcida quer ouvir. É garra, determinação, voluntariedade, respeito à camisa do Santos, união entre eles. É isso que estamos esperando este ano. Não é por causa do resultado da eleição que esperamos isso, é porque o Santos merece.

Se o futebol vai afetar? Se for campeão, o Rueda fica muito forte, caso ele pleiteie. Eu não falo em queda por que não existe possibilidade de o Santos cair. Eu não sou dessa turma. Mas se impuser mais um ano de sofrimento para o associado, na hora de votar com certeza ele vai avaliar se realmente esse grupo merece continuar.

Da minha parte, vou dizer o seguinte: vou concluir o compromisso organizando a próxima eleição. Se tiver três, cinco ou oito candidatos, quero organizar da melhor forma. Já estamos organizando um calendário ao contrário na mesa do Conselho, a partir do dia da eleição. Provavelmente a eleição vai ser no dia 10 de dezembro.

Quero entregar isso ao associado do Santos, uma eleição muito bem organizada, em que os candidatos possam se respeitar. Vou cumprir minha missão de ser presidente do Conselho do Santos e voltar para a minha cadeira para ficar quieto.

💥️GE: Eu tenho a impressão de que este processo eleitoral ainda está muito frio. Você tem essa impressão, também?

💥️Celso Jatene: Então, mas na verdade eu tenho dito isso para quem quer falar de eleição. Primeiro que tenho explicado que minha posição hoje como presidente de Conselho é menos de falar de política e mais de tentar organizar a próxima eleição.

Eu acho que a última eleição, por tudo o que aconteceu na eleição, pela postura do Peres, da postura do Rollo, a discussão começou muito mais cedo. Nesta época, no meio de janeiro, já estava um visitando o outro, buscando apoio.

E foi muito desgastante, porque ficou o ano inteiro de discussão. Eu acho que isso desgasta o clube, também. Eu, quando estava na política, fui vereador por 20 anos, costumava dizer que Papai Noel não aparece na Páscoa. Não adianta esperar o Papai Noel aparecer na Páscoa. Quem é candidato em janeiro não costuma chegar até dezembro ou chega rachado, enfraquecido. Eu acho que é muito prematuro falar sobre isso. Já tem candidato se colocando, mas acho muito cedo para falar sobre isso.

💥️GE: Mas acho que ainda se fala muito pouco de política nesse ano. Nas outras eleições...

💥️Celso Jatene: Vou falar uma verdade aqui que pode doer um pouco para alguns, mas não vou citar nomes. É que tem gente que vive disso no Santos. Tem gente que vive de falar de política, vive de criticar.

💥️GE: Você acha que o desempenho do futebol pode atrapalhar a avaliação futura da gestão do presidente Rueda?

💥️Celso Jatene: O Santos é futebol. Minha origem é a arquibancada. Eu também estou incomodado com o futebol, mas eu acho que a cobrança hoje tem que ser em cima dos profissionais do futebol, dos jogadores de futebol. Eles têm de ter noção que eles estão jogando no Santos. Isso está incomodando bastante. Não dá para pôr o Rueda para jogar.

Ele podia ter contratado para disputar com os melhores times do Brasil. E não tinha dinheiro para isso. Tudo bem. Mas para disputar com time de Série B, de Série C... No Paulista, Copa do Brasil no começo da temporada, Sul-Americana. Neste tipo de torneio o Santos não pode sofrer. Pode não ganhar, mas não pode sofrer. E a responsabilidade disso é dos jogadores que entram em campo.

Se você pensar nos seis primeiros lugares do Brasileiro, não sei se termos força para chegar. Mas chegar lá na frente na Sul-Americana, na Copa do Brasil, no mata-mata do Campeonato Paulista... Isso é obrigação do atleta de futebol que joga no Santos. Ele tem obrigação de chegar, sim, porque tem qualidade, infraestrutura, bons salários. Está na hora de cobrarmos os jogadores de futebol. O Rueda não entra em campo. Quando o time está no Campeonato Paulista e vai jogar contra um time padrão Série B, C, com todo o respeito, tem obrigação de ganhar ou de chutar pelo menos oito, nove, 10 bolas no gol. Não dá para ficar desse jeito.

💥️GE: E como você vê o seu futuro político no clube?

💥️Celso Jatene: Não tem. Não tem futuro político. O meu futuro no clube é ser sócio remido, que já sou há muito tempo. Se conseguir concluir meu mandato de presidente do Conselho, vou virar conselheiro nato, porque são os ex-presidentes do clube e do Conselho, e vou ser um torcedor fervoroso como sempre fui.

O meu tempo de contribuição para por aí. Eu tenho filho pequeno, tenho de criar meus filhos. Não posso ter mais pretensões maiores.

💥️GE: Para finalizar, o que você falaria para a torcida do 💥️Santos💥️ no início de um ano eleitoral, que tende a ser mais quente do que os demais?

💥️Celso Jatene: Eu fui criado como torcedor de arquibancada do Santos. E a torcida do Santos continua igual. Continua forte, guerreira, leal ao clube. Eu sempre disse isso, inclusive para os meus filhos: não somos a maioria, mas somos aqueles que têm personalidade. O santista é aquele que tem personalidade, porque desde pequeno você não tem a maioria de santistas na classe, na escola, no clube, na rua, na escola de samba, no bairro... Mas quem é santista tem personalidade.

E eu tenho muito orgulho de fazer parte desta torcida do Santos. Eu nunca vou deixar de ser torcedor. Às vezes o pessoal me pergunta por que não vou a camarote. É porque eu quero torcer, vibrar junto com o time.

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