"Crise" do Palmeiras é fake

Acompanhando o futebol brasileiro desde 1974, fiz uma previsão semana passada no Redação Sportv, em cima de um cenário desfavorável ao Palmeias: se o time perdesse o clássico contra o São Paulo e a Supercopa para o Flamengo (resultados normais, nenhuma zebra), a chiadeira de parte da torcida viria pesada em cima da presidente Leila Pereira - jamais sobre o técnico Abel Pereira, cuja excelência lhe dá crédito de uns três anos de jejum. Nem precisou tudo isso. Bastou um empate em casa diante do Tricolor de Rogério Ceni (impressionante como ele consegue quase sempre dificultar a vida do Verdão...) para o ouvido de Leila ficar cheio. Mas essa é uma crise fake. O barulho vem da turma do samba palmeirense, que viu a torneira do clube se fechar. E quem, na arquibancada, não tem motivações financeiras, reclama porque a presidente, e aí é um fato, deixou algumas pontinhas desamarradas e agora precisa correr.

Com Abel Ferreira o time ganhou Paulista, Copa do Brasil, Brasileiro e duas Libertadores - além de um vice Mundial. Ou seja, passou muito o carro. Não tomou gol em 2023 e vai decidir uma Supercopa do Brasil diante do rival Flamengo. Em 2022, ganhou quase tudo no sub-20 e sub-17, unificando, inclusive, os título nacionais. De quebra, garantiu uns três orçamentos ao vender a joia Endrick ao Real Madrid. Ora, que diabos de crise é essa? A questão, escola de samba à parte, é que a torcida está bem acostumada - até pela quase perfeição de Abel - a não ver erros. E Leila, que obviamente tem importância em tudo o que foi conquistado, cometeu, sim, alguns erros.

Começo pela gestão do futebol feminino, a quem a presidente não deu ainda a atenção e importância devida - e que, de resto, apesar disso, ganhou uma Libertadores de maneira invicta e o Campeonato Paulista. Outro ponto em que a diretoria pecou foi em algumas contratações. Várias deram certo, ressalte-se, mas outras, como Luiz Adriano, não funcionaram e o pior foi o gasto exagerado em jogadores que não valem o que custaram - tipo R$ 70 milhões ao Lanús por Flaco Lopez. E a terceira ponta que precisa urgentemente ser amarrada por Leila é a reposição no elenco de Danilo e Gustavo Scarpa.

Até porque, no caso de Scarpa, era uma perda conhecida há meses. Certamente Leila acreditou que poderia ganhar tempo e guardar dinheiro com a efetivação de Endrick na "vaga" de Scarpa (enquanto ele não for para o Real Madrid) e, principalmente, confiou na mágica varinha de condão de Abel Ferreira para fazer um time continuar jogando no mesmo nível sem os dois. Impossível. Especialmente Scarpa é um estilo único. Abel pode - e vai - fazer o time render e funcionar de um novo modo com Endrick na referência e Veiga retomando o protagonismo no meio-campo. Mas sem Danilo, com o que há no elenco, o nível cai. Assim, Leila e seu departamento financeiro precisam ouvir o líder Abel Ferreira e contratar bem - no caso, jogadores prontos para levar o Palmeiras a novas conquistas.

Tudo isso não configura crise. Crise no Palmeiras é fake. Eu não tenho qualquer dúvida de que o time estará no mata-mata do Paulista - e se o time jogar no limita chega ao bi. Tampouco tenho dúvidas de que o time fará jogo duríssimo contra o Flamengo, por que Abel Ferreira é capaz de fazer qualquer time competir com quaisquer jogadores. Pode perder para o timaço de Vitor Pereira? Pode. Também pode ganhar. Crise haveria se o time decidisse e perdesse a Supercopa para o... Ceilândia, com todo o respeito ao time de Brasília. Perder do Flamengo, sem Danilo e Scarpa, é chato mas é normal.

Sugiro que o pessoal da fake crise deixe o Palmeiras trabalhar em paz e, se puder, ajude a resolver as outras crises reais à nossa volta...

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