Estádios, dinheiro e ideias: o que reaproxima São Paulo e Palmeiras após década de polêmicas

O acordo entre São Paulo e Palmeiras para que um utilize o estádio do outro quando necessário mostrou uma reaproximação notável dos clubes após uma década de polêmicas e provocações nos bastidores, principalmente entre os ex-presidentes Carlos Miguel Aidar, do Tricolor, e Paulo Nobre, do Verdão.

A explicação para a relação mais cordial entre as instituições passa muito pela proximidade entre Julio Casares, presidente do São Paulo, e Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Desde que a dirigente do Verdão assumiu o cargo, há articulação conjunta entre as partes.

O maior exemplo é a criação da Liga de Futebol Brasileiro. Casares e Leila Pereira estão entre os principais articuladores e estiveram na maior parte do tempo unidos para conseguir o maior número de adesões para o projeto.

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Leila Pereira, presidente do Palmeiras, ao lado de Julio Casares, presidente do São Paulo, em reunião sobre criação da liga — Foto: Thiago Ferri 1 de 4 Leila Pereira, presidente do Palmeiras, ao lado de Julio Casares, presidente do São Paulo, em reunião sobre criação da liga — Foto: Thiago Ferri

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, ao lado de Julio Casares, presidente do São Paulo, em reunião sobre criação da liga — Foto: Thiago Ferri

Além disso, ambos enxergam o futebol como negócio de uma maneira muito semelhante. Segundo apuração da reportagem, a reciprocidade nos aluguéis de seus estádios está atrelada também ao lado financeiro.

Tanto São Paulo quanto Palmeiras entendem que podem faturar mais dinheiro mandando seus jogos na casa do rival do que em outro estádio. Quando o Palmeiras for jogar no Morumbi, no próximo dia 4, diante do Santos, por exemplo, poderá ganhar mais com a bilheteria do que em Barueri, já que o estádio comporta mais de 60 mil pessoas.

Já o São Paulo terá shows da banda Coldplay em seu estádio nos dias 10, 11, 13, 14, 17 e 18 de março e pode jogar partidas da fase final do Campeonato Paulista na arena do rival como mandante. A bilheteria, portanto, seria um ativo importante.

Em campo, o técnico Rogério Ceni, do São Paulo, já se mostrou simpático à ideia.

– Sem problemas de jogar (no Allianz Parque). Se for necessário, sempre nos recebem bem. A gente estranha um pouco o campo sintético, porque não é corriqueiro. Mas assim como o São Paulo pode ceder para o Palmeiras, tem que existir uma boa relação. Ela deve prevalecer – disse.

Outro ponto importante que motivou essa ação dos clubes é a tentativa de mandar um recado de que São Paulo e Palmeiras são rivais dentro de campo, mas que fora dele é possível haver uma união para melhorar algumas questões do futebol brasileiro.

Palmeiras x São Paulo, no Allianz Parque — Foto: Marcos Ribolli 2 de 4 Palmeiras x São Paulo, no Allianz Parque — Foto: Marcos Ribolli

Palmeiras x São Paulo, no Allianz Parque — Foto: Marcos Ribolli

Por trás disso também há uma motivação financeira. Julio Casares e Leila Pereira são entusiastas de mudanças mais radicais no futebol brasileiro para que ele seja melhor visto como um produto comercial. Com as equipes atuando nos melhores estádios do país, melhor para o espetáculo e, consequentemente, mais gente estará consumindo os torneios.

Com o fechamento do Pacaembu, sobraram poucos estádios na cidade de São Paulo com boa iluminação, gramado adequado e uma estrutura de ponta. Canindé e Arena Barueri não suprem todas as necessidades analisadas pelos clubes.

Jogar no interior saiu de cogitação pelo excesso de jogos durante a temporada. Escolher qualquer estádio fora da capital paulista acarreta em longos deslocamentos, logística e gastos extras.

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Morumbi para São Paulo x Portuguesa — Foto: Marcos Ribolli 3 de 4 Morumbi para São Paulo x Portuguesa — Foto: Marcos Ribolli

Morumbi para São Paulo x Portuguesa — Foto: Marcos Ribolli

Para o clássico entre Palmeiras e Santos, no dia 4 de fevereiro, o São Paulo pretende fazer um esquema de segurança reforçado em algumas áreas do Morumbi com objetivo de evitar qualquer tipo de depredação do seu estádio.

Dentro e fora de campo, a relação entre São Paulo e Palmeiras não foi das melhores na década passada. A tensão foi realçada durante as gestões dos ex-presidentes Carlos Miguel Aidar (abril de 2014 a outubro de 2015, interrompida pela renúncia) e Paulo Nobre (janeiro de 2013 a dezembro de 2016).

Era fim de abril de 2014 quando Aidar, então presidente do São Paulo, convocou entrevista coletiva para falar sobre a contratação de Alan Kardec, à época saindo do Palmeiras. Ali, além de tirar um dos principais jogadores do rival, o dirigente aproveitou o momento de sucesso para provocar e iniciar uma guerra nos bastidores com Paulo Nobre.

– A manifestação do presidente Paulo Nobre chega a ser patética. Demonstra, infelizmente, o atual tamanho da Sociedade Esportiva Palmeiras, que, ano após ano, se apequena com manifestações dessa natureza.

Carlos Miguel Aidar e Paulo Nobre São Paulo x Palmeiras — Foto: Editoria de Arte 4 de 4 Carlos Miguel Aidar e Paulo Nobre São Paulo x Palmeiras — Foto: Editoria de Arte

Carlos Miguel Aidar e Paulo Nobre São Paulo x Palmeiras — Foto: Editoria de Arte

A declaração do mandatário são-paulino só colocou fogo em uma relação que sempre teve conflitos históricos entre os dois rivais, que são vizinhos de muro nos centros de treinamento na Barra Funda.

– A relação entre Palmeiras e São Paulo é péssima desde os anos 40 e com essa administração não será diferente. Somos éticos e não bonzinhos, e continuaremos com nossa política – respondeu Paulo Nobre, que chegou a dizer que o rival tentou roubar o estádio Palestra Italia.

Em 2015, os ânimos voltaram a se acirrar quando o Palmeiras deu um "chapéu" no São Paulo e acertou com Dudu. O atacante chegou a negociar com o Tricolor, mas fechou com o Verdão e desagradou muitos são-paulinos.

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