Esquecemos de falar de João Gomes...
Antes do duelo gigante de sábado entre Flamengo e Palmeiras, os programas esportivos quase só falavam sobre o que seria do Verdão sem Danilo e Gustavo Scarpa, os protestos da torcida palmeirense pela não reposição das duas perdas, e qual a mágica que Abel Ferreira faria para suprir a saída de seus dois importantes comandados. Pouco ou nada se falou em como ficaria o Flamengo sem seu cão de guarda, João Gomes, também vendido - afinal, o clube repatriara Gérson, e aí, como diz a propaganda, seus problemas acabaram. Mas... quem levou a taça foi o Palmeiras, por dois motivos principais: primeiro porque tem um time mais do que pronto, enquanto o Flamengo recomeça mais um trabalho - claro, baseado em jogadores que se conhecem de memória e com uma reserva siderúrgica de talento. Segundo porque a montagem de Abel fez com que ninguém se lembrasse de Danilo e Scarpa, enquanto Gérson (muito bem com a bola nos pés) não marcou ninguém, ficou olhando o desfile de Raphael Veiga e deixou Thiago Maia na maior roubada dos últimos tempos. Ou seja: imprescindível mesmo, na real, era João Gomes para o Flamengo.
O substituto de Scarpa chama-se Raphael Veiga. Recuperado da grave lesão que sofreu no ano passado, ele pode fazer tudo o que seu ex-companheiro fazia: arma, passa, chuta, bate pênalti, infiltra... Abel só precisará dar rodagem a uma engrenagem que passa a funcionar com três atacantes - Rony, Endrick e Dudu. Os substitutos de Danilo são: se Abel quiser atacar, Gabriel Menino. Se precisar defender, Jaílson. Óbvio ululante que o Palmeiras precisa ir ao mercado. É numérico, matemático. Por que? Porque Veiga não vai jogar todas - e no dia que não jogar não haverá NEM Scarpa, NEM Veiga, e aí vai ter problema. Haverá um dia em que uma das opções para Danilo pode não ter condições junto com algum outro desfalque. Aí haverá problema. Mas são situações que, passada e ganha a Supercopa, deixam de ter urgência "para ontem".
No caso do Flamengo sem João Gomes, o tempo urge - porque o time perdeu a primeira decisão, porque a decisão mais importante é em duas semanas e porque, se não vencer o Mundial, a Recopa passa a ser obrigação e coloca Vitor Pereira nas cordas. E por que acho que a luz amarela acesa na derrota em Brasília tem um quê de vermelha? Porque não há tempo de contratar um marcador novo, do nível de João, e colocá-lo em ação em Marrocos. E no elenco não há outro volante que marque como João. Arturo Vidal tem experiência, não sentiria o Mundial, e tem talento. Mas o Flamengo não precisa nem de talento nem de experiência, o Flamengo precisa parar o Real Madrid. E, em havendo esse jogo, se atuar como jogou contra o Palmeiras pode até achar uns dois gols, mas vai tomar cinco.
Esquecemos de João Gomes - e eu me incluo entre os "esquecidos" - porque a dupla Gérson e Arão funcionava em 2023. Mas Gérson era quatro anos mais jovem, Felipe Luís era quatro anos mais jovem, Rafinha era melhor do que os dois laterais-direitos de hoje somados, Arão e Gérson tinham um encaixe que Thiago Maia ainda não tem, a letalidade e intensidade de Gabigol, Arrascaeta, Ribeiro e o possuído Bruno Henrique faziam com que os rivais, por melhores que fossem, pensassem cinco vezes antes de atacar o Flamengo. O Real Madrid, ao contrário, periga esquecer-se de defender.
O time que enfrentou o Palmeiras - e fez frente, podia ter vencido, porque tem um talento impressionante -, essa mesmíssima formação, com Gerson e Maia, pode ganhar de 97% dos times que enfrentará no nosso continente até o fim do ano. Porque tem grande poderio ofensivo, porque será atacado com cautela e porque a proposta de jogo de VP estará mais consolidada. Mas quando tiver que encarar uma decisão, um mata-mata, um adversário capaz de, por qualquer motivo, atacar o Flamengo com ímpeto, subir a marcação até em cima do goleiro Santos (como fez o Palmeiras), aí o desconforto pode levar a fracassos. O Flamengo, que não tem mais João Gomes, não é time nem elenco para apenas "chegar à final". O Flamengo, que não tem mais João Gomes, tem investimento para ter compromisso firmado, com firma reconhecida, com taça, com volta olímpica, com faixa de campeão... E hoje, no Brasil, só quem consegue isso sem um João Gomes é o Palmeiras.
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