Thiago Galhardo ironiza rótulo de rachador de elenco e elogia Vojvoda: "É um paizão"; veja entrevista exclusiva

Thiago Galhardo chegou ao Fortaleza em fase difícil, quando o time brigava contra a zona de rebaixamento na Série A de 2022. O jogador encaixou rapidamente no esquema de Vojvoda e passou a contribuir com gols, se firmando como uma das principais peças do Tricolor na temporada. Foram 21 jogos no ano passado e sete gols.

Nesta temporada, o bom momento se mantém. Galhardo fez sete jogos, três como titular e balançou as redes em três oportunidades. No primeiro Clássico-Rei do ano, o jogador deve estar entre os 11 iniciais mais uma vez. Será o segundo reencontro com o antigo clube, o Ceará. Galhardo destacou a importância de resultados positivos no Cearense e da briga pelo penta. Confira o papo exclusivo do jogador com o ge.

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- É o penta, né?! O penta que não é o do papel. Peguei essa história quando eu cheguei e entendi melhor agora que começou o ano, e Clássico já joguei em quase todos os estados. Já joguei no Norte, no Distrito Federal, no Sul, no Sudeste e joguei no Nordeste. Sabemos que são duas grandes torcidas e dois grandes times, a única vantagem que eles têm é o mando, gostei da decisão 60/40 no estádio, parabenizo as pessoas por isso e acho justo. Não lembro quando foi a última vez que teve um Clássico-Rei no Presidente Vargas e é um estádio muito charmoso, bom de se jogar, é um jogo que todos querem ganhar e quem ganha passa com moral, apesar de não mudar a questão de classificação. É um jogo que todo mundo quer força máxima e com a gente não seria diferente, porque estamos 100% no campeonato. Vamos tentar o título invicto novamente, nos dois últimos anos foram invictos e por que não tentar um tri? É uma coisa histórica e que marca o jogador.

Artilheiro do Fortaleza, Thiago Galhardo relembrou os principais momentos com o clube, comentou sobre a relação com a torcida e sobre interesses pessoais.

Thiago Galhardo, Fortaleza — Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC 1 de 3 Thiago Galhardo, Fortaleza — Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC

Thiago Galhardo, Fortaleza — Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC

💥️ge: Um dos caras principais na arrancada do Fortaleza, como foi passar por tudo isso e já chegar entrosado com o elenco?

- Quando eu cheguei, eu já conhecia o grande campeonato que eles tinham feito, eu estava na Espanha acompanhando e vi inclusive o mosaico que fizeram no último jogo... As torcidas no Nordeste são muito famosas pelo turbilhão de coisas que fazem no estádio, mas a do Fortaleza ficou muito marcada pela questão dos mosaicos. Quando recebi o convite para vir para cá, com toda situação que envolvia o Inter, eu não pensei duas vezes, até pelo esforço que a diretoria fez e pela qualidade do elenco. Eu não sabia ainda da saída do Pikachu, que hoje está conosco de volta. Mas eu acreditava muito no time. Quando eu cheguei, vi um grupo muito bom e qualificado, só que com autoestima baixa. A gente tomava muitos gols no fim dos jogos, eu passei por isso na minha estreia contra o Bragantino, nós fazíamos um excelente jogo e em um lance nos 47/48, o jogo mudou. Eu lembro que entrei no vestiário e vi o Titi revoltado e falei que não ia cair. Ali as coisas começaram a andar, um episódio muito marcante é o que o Paz fez no jogo contra o Cuiabá e já falei isso em entrevista, normalmente quando a fase não é boa vem a cobrança, o aponta dedo, e ele fez totalmente o contrário. Ali eu já tive ideia de que as coisas andariam. Eu fiquei uns bons jogos sem marcar, muita gente cobrando, e eu não estava preocupado, porque eu falei que no momento certo as coisas iam acontecer. Na reta final acabei fazendo os gols, mas se não fossem todos os outros companheiros, diretoria, comissão, torcedores que acreditaram e lotaram o Castelão, nós não teríamos conseguido.

💥️ge: Quando você chegou existia o peso da torcida.

- Grande… (risos)

💥️ge: Jogou no Ceará, muita cobrança, disseram que você “desagregaria” o elenco. Como você lidou com essa expectativa negativa e como reverteu esse pensamento?

- Na verdade isso foi por conta das minhas saídas conturbadas de alguns clubes. Quando você pega o pessoal no olho no olho, tanto jogadores como diretoria, é tudo mais fácil. Aqui no Fortaleza eu vi isso. Começa na recepção, na forma como eles falam da família, e pela questão que eu disse, são pequenos detalhes. Nunca fui recebido com as pessoas perguntando como estão os meus pais, como se chamam meus filhos, darem kit família, são detalhes que fazem toda diferença para que a gente fique feliz. Todo mundo vê na rede social, eu brinco, fico feliz. Apesar de me expor muito em campo, eu sou reservado, é pouco do dia a dia, mas quem convive comigo e sabe quem é o Thiago, nunca colocou em dúvida. No mundo do futebol as coisas são muito sujas, mas passe o tempo que passe, a verdade sempre vem à tona e isso é o mais importante. Eu nunca mudei por nada e por ninguém, e acho que isso é o mais importante. Sou esse cara em toda minha vida e em todos os clubes.

💥️ge: Quando você chegou, você brincou em uma coletiva que estavam “esperando polêmicas”. Nesse momento da vida você já está mais tranquilão? Você tem falado muito da palavra maturidade, não é?

- E vou voltar com ela. Maturidade. A questão de me tornar pai teve um significado muito grande, porque eu sei que eu sou espelho e inspiro meus filhos e crianças. Com 21 anos fui para o Botafogo e meu irmão tinha 15/16, então já inspirava ele. Tenho que ter muita responsabilidade, hoje tudo que fazemos e pode ser negativo é circulado muito rapidamente nas redes sociais. Então, penso muito nisso, tenho psicólogo, analista, coach, muita gente brinca que eu tenho um parafuso a menos, mas acho que todos nós temos e com isso precisamos nos conhecer mais. Agora antes de tomar qualquer decisão eu respiro, penso se vale a pena ou não e essa maturidade vem agregando. Mas todo bom rendimento vem de uma felicidade. Todos têm problemas fora de campo, fora do trabalho, qualquer pessoa, mas quando chega lá você consegue esquecer por ser um ambiente leve. Como eu falei, quando tenho um problema, o clube consegue entender. Vale citar o caso do Romero quando teve uma perda da sogra dele, o caso do Hércules quando a sobrinha dele nasceu e ele foi ajudar o irmão, são coisas pontuais que o clube está sempre preocupado com o lado humano, não só a cobrança de você ter que jogar. Isso faz toda diferença quando você olha para o clube e pensa que se precisar dele no dia de amanhã, ele vai estar contigo. Então, o mínimo é ser o mais profissional para retribuir isso.

Thiago Galhardo, Fortaleza — Foto: Bruno Oliveira/ Fortaleza EC 2 de 3 Thiago Galhardo, Fortaleza — Foto: Bruno Oliveira/ Fortaleza EC

Thiago Galhardo, Fortaleza — Foto: Bruno Oliveira/ Fortaleza EC

💥️ge: O Galhardo nessa segunda passagem pelo futebol cearense é um Galhardo melhor?

- Acho que o Galhardo ano após ano, em carreira, é um Galhardo melhor. Venho acumulando números melhores, é meu melhor início de temporada até hoje. Fui pesquisar os números do Inter e em 12 jogos eu tinha quatro gols, quatro assistências, mas demorei oito jogos para fazer o terceiro gol. Hoje já tenho três gols, tenho uma assistência e creio que se continuar nessa pegada as coisas vão melhorar, até pela confiança. Venho dizer que ano após ano eu consigo me ver melhor, a preparação, principalmente mental e física, tento me preocupar mais, porque a idade vai chegando e pesando, e você sente. O começo agora é tranquilo, mas depois que você pega Brasileiro, Libertadores, Copa do Brasil, dificulta mais e você tem que ter um cuidado especial por conta das viagens.

💥️ge: É um ano de muitas competições para o Fortaleza, muitos deslocamentos… O que você almeja para essa temporada?

- O clube traçou metas, nós temos que ter o mesmo pensamento: final de Cearense, final de Copa do Nordeste, avançar até umas quartas de Copa do Brasil, temos que ser realistas com os planejamentos do Fortaleza. Cada ano que passa o time cresce muito, hoje o principal objetivo é entrar na fase de grupos da Libertadores, mas isso já é primeiro e segundo semestre. Tem o mata-mata agora e as fases finais de Cearense e Copa do Nordeste. Temos que ir por etapas, todo mundo quer o penta e vamos ser cobrados por isso se não ganhar. Todo mundo quer ser o bi da Copa do Nordeste, todo mundo quer entrar na fase de grupos da Libertadores, todo mundo quer avançar de fase na Copa do Brasil e fazer um Brasileirão bom, mas são cinco competições e inúmeros times disputando. Tudo muito disputado e nivelado, então temos que ir na mesma linha da diretoria. Conseguir ir o mais adiante possível, lembrando que o primeiro semestre é entrar na fase de grupos da Libertadores e tentar ser campeão das outras competições.

💥️ge: Quando você chegou no Fortaleza passou alguns jogos sem balançar as redes, você falou na época que sentia essa pressão por gols. Hoje você cita que vive a melhor temporada. Como tem sido essa mudança?

- Na verdade eu não me preocupo mais com gols. Antes eu tinha essa preocupação de ter que fazer o gol para dar resposta para a diretoria, para os meus companheiros, para o torcedor. Hoje acho que as coisas acontecem naturalmente. Muita gente me perguntou do passe de calcanhar, mas, cara, ali muita gente poderia virar batendo por ser o nove, mas eu tenho um companheiro melhor colocado, então vou passar a bola. Acho que isso está em todos nós, seja o Pikachu para o Romarinho, o Pedro Rocha, ou quem quer que seja. Quem está na frente sempre está procurando o melhor companheiro e isso é muito bom, mostra o grupo, mostra que tem tido rotatividade e não tem caído de produção. Todos os jogadores estão sendo importantes. O momento é só chegar, eu não desaprendi a fazer gol da noite para o dia e tudo é questão de momento. Talvez a questão do entrosamento, o retorno da Europa para cá, a readaptação, o calor… a questão da maturidade de esperar também. Quando os gols estão saindo não é porque está fazendo x e, quando não estava, estava fazendo y. Não funciona assim. Estou fazendo x porque acredito no meu trabalho, no trabalho que vem sendo desenvolvido, acredito nos meus companheiros e as coisas vão fluir. É sempre bom começar o ano da forma que começamos, com as vitórias e fazendo gols.

💥️ge: Como é a relação contra o Vojvoda?

- Sempre falei bem dele, apesar de aparecer em poucas coletivas para evitar gerar polêmicas, mas ele é um paizão. Não só para mim, mas para muitos jogadores. Tem alguns que ele está trabalhando desde que chegou e ele faz questão de enfatizar o dia a dia, o treino, a cobrança igual para todos. Acho isso muito legal e ele de fato é um paizão. Eu não posso reclamar de nada porque sempre teve o olho no olho. Claro que nós, os jogadores, queremos todos jogar todos os jogos. Quando eu fico de fora, eu fico louco, eu quero estar em campo e ajudar, mas tem que ser assim. É uma briga sadia do dia a dia e acho que só quem ganha é o elenco e ele, que fica mais difícil de quebrar a cabeça pelo lado positivo.

💥️ge: O seu bom começo de temporada te credencia para ser titular por um bom tempo?

- Por um bom tempo não, porque no futebol tudo muda muito rápido. Eu terminei o ano bem, comecei o ano bem, acredito que os jogadores que terminaram o ano e começaram no mesmo nível vão ter uma oportunidade a mais. Todos estão chegando buscando seu espaço, com muito respeito, treinando a cada dia. Mas imagino que aqueles que terminaram bem vão ter um olhar especial e obviamente se começarem a temporada bem dentro do que o Vojvoda planeja e tem olhado, vão ter oportunidade. Por muito tempo é pesado, porque você joga a cada três dias e a cada três dias você pode estar tão bem ou tão mal que pode precisar de um revezamento. Seja ele físico ou técnico, mental.

💥️ge: Você já jogou em tantos lugares e equipes, qual o diferencial do Clássico-Rei?

- Olha, joguei muitos e falo que aqui, no Norte, foram dois Re x Pa e aqui o Clássico-Rei, são Clássicos que o torcedor para, talvez por ter menos Clássicos e menos conflito, até por ser menos encontros. A diferença daqui é a questão da torcida, dos mosaicos, da alegria que se leva para o estádio. Sempre uma torcida sai muito feliz e a outra sai muito triste. A festa na arquibancada, para nós que estamos de dentro, é muito impressionante. Sempre tem muita cobrança, na semana de Clássico é bom evitar um restaurante. Obviamente se ganha está liberado fazer tudo, se perde precisa se resguardar por um tempo para depois tentar reverter isso.

💥️ge: Sua maturidade já trouxe esse entendimento de como são as coisas por aqui, né?

- Não só por aqui, mas temos que ter essa malemolência de entender essas questões da vida e Clássico para uma equipe como Fortaleza e Ceará você tem que ter a capacidade mental de entender que se ganhar está liberado fazer tudo e se perder é bom esperar acalmar até a próxima oportunidade, não só contra o Ceará, mas o próximo jogo.

Thiago Galhardo, Caio Alexandre, Fortaleza — Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC 3 de 3 Thiago Galhardo, Caio Alexandre, Fortaleza — Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC

Thiago Galhardo, Caio Alexandre, Fortaleza — Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC

💥️ge: Como tem sido o tratamento da torcida com você? O povo te para na rua? Você acha que supriu a desconfiança que o povo tinha?

- Acho que sim. A chegada aqui foi engraçada, até citei que quando fui ser apresentado uma senhora de 65 anos, devia ter idade para ser minha avó, comentou “eu te odiava, mas agora eu te amo” e me deu um abraço. Eu não tinha nem jogado ainda, nem feito nada, apenas sido apresentado. Creio que é muito isso. Hoje eu paro para olhar um comentário ou outro, não é muito comum eu parar, mas é engraçado. Eles colocam “Ele tem um plano”, “O rachador de elenco tá on” e isso eu acho engraçado. Consegui adquirir não pelas palavras, mas pelas atuações e o respeito é mútuo. Tento respeitar, agradar.

💥️ge: Se você tem um plano, qual o plano para essa temporada?

- O plano está bolado na minha cabeça, mas é etapa por etapa. Tenho um objetivo final, mas ele é dividido em etapas. Eu tenho meu plano individual, tenho meu plano coletivo e muitas pessoas dentro do clube sabem do individual e do coletivo. Acho que quando for chegando, vamos podendo dizer. Espero que o de 2023 seja tão bom quanto o de 2022. Está tudo anotado no celular, no fim do ano eu conto.

💥️ge: Quando está em casa, você está ensaiando dancinha para a comemoração dos gols? Todo jogo tem uma novidade…

- (Risos) Na verdade é o Crispim que faz isso. Eu gosto de dançar, tenho a marca registrada da mãozinha, mas quando ele chegou nós nos juntamos. Já somos amigos há um tempo, nos conhecemos há nove anos e deu muito certo. Apesar de não olhar o Tiktok, são músicas que ficam na cabeça e a gente leva a música do momento. Os gols vão saindo… Coloquei o Boeck para dançar, um cara super sério, e no último jogo dele como profissional foi muito legal. Em casa eu não danço, a última dancinha com o Caio Alexandre foi ensaiada no vestiário. Em casa eu estou sempre estudando, lendo um livro, jogando CS.

💥️ge: Faz faculdade de quê?

- De educação física, estou quase me formando.

💥️ge: Estamos presenciando o surgimento de alguém dos bastidores do futebol também?

- Todo mundo pergunta isso (risos). Na verdade, a finalidade de me formar é para ser exemplo para os meus filhos, meus pais queriam que eu me formasse e nunca entendi o porquê. Quando meus filhos nasceram pensei que não quero que meus filhos tenham argumentos para mim também. Sou jogador ex-concursado, vou ter concluído o superior. Se eles falarem que querem jogar bola, beleza, também joguei e estudei. É por esse pensamento.

💥️ge: Como conciliar com toda rotina de jogos?

- Só se eu fosse muito cara de pau para dizer que não tenho tempo. A gente está sempre viajando em concentração. Claro que o foco naquele momento é o jogo, mas consegue tirar uma hora, uma hora e meia. Isso é mais uma desculpa.

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