A matemática do Flamengo não bate
Há torcedores do Flamengo e jornalistas que entendem que alguém dentro os quatro medalhões da frente precisa ir para o banco em troca de um esquema mais sólido defensivamente. Outros não admitem isso e entendem que Vitor Pereira deve fazer o que Zagallo fez na Copa de 1970: jogar com os melhores e se virar quando o time perde a bola. Não fico no muro, tendo a integrar o primeiro grupo, mesmo sabendo que essa mudança leva tempo, e o calendário específico de 2023 pedia soluções de curtíssimo prazo. Mas o problema não é qual é o sistema. O problema é que, reforçando a defesa ou privilegiando o ataque, as coisas não estão funcionando. A questão é básica, elementar: o time não consegue fazer mais gols do que o adversário nos jogos "pesados". Contra Palmeiras, Al Hilal, Al-Ahly e Independiente del Valle, o Flamengo fez 9 gol de levou 10. Se tiramos o jogo do Al-Ahly (que foi um prêmio de consolação), o placar negativo fica em 5 marcados e 8 sofridos.
Para cada derrota há uma "explicação". Ou time perdeu seu único marcador, João Gomes; ou Gérson voltou mal e deixa buracos; ou o gol do Palmeiras foi irregular; ou o time ficou com um a menos e em desvantagem; ou é a altitude, ou é... complete aqui a sua explicação. Mas em qualquer uma o Flamengo faz menos gols do que o adversário. A culpa não pode ser creditada, óbvio, a Vitor Pereira. Ele cometeu erros, sim. Não deveria ter sacado Arrascaeta e Éverton ao mesmo tempo na semifinal do Mundial. Hesita em implementar mudanças no time, mas ou volta à formação antiga ou insiste com novidades que não rendem (e aí a culpa não é dele, que pegou o elenco montado).
O comando do futebol, este sim, é responsável pela desnecessária crise que o Flamengo vive no primeiro mês de trabalho do português. Porque deu trocentos dias de férias após a conquista da Libertadores; porque não investiga o que está acontecendo no departamento de preparação física, que leva pelo menos metade do time a não conseguir correr e performar fisicamente num nível básico de competição; porque acha que Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Pedro/Bruno Henrique vão continuar carregando de maneira simultânea o time nas costas e que o tempo não passa para eles, eles não envelhecem; porque não admite algo que acontece em qualquer atividade humana, o erro, nomes como Vidal, Marinho, Gérson e Cebolinha (ao menos até agora) foram contratações que não deram certo - podem ainda virar titulares, podem dar show, mas até aqui não jogaram absolutamente coisa nenhuma com a camisa do Flamengo (ou se tem paciência com eles e aguenta a pressão por resultados, ou vende quem não está rendendo e contrata jogadores com o perfil do que quer Vitor Pereira, bons marcadores).
Mas nada disso estaria sendo discutido ou comentado se quando o Flamengo defende não sofresse gols e quando atacasse o "intocável" quarteto resolvesse como outrora. Se o 4 a 3 fosse a favor diante do Palmeiras, se o 3 a 2 fosse a favor diante do Al-Hilal (mesmo que tomasse um vareio do Real Madrid), o torcedor aceitaria até um empate diante do Del Valle. E no jogo do Equador, mesmo com os fracassos anteriores, o torcedor rubro-negro não estaria tão furibundo como está se, além de não tomar um gol de bola parada (que havia sido ensaiado no lance anterior), o time fizesse pelo menos um dos golzinhos que Gabigol perdeu.
Quanto a Vitor Pereira (que, fique claro, é o português que chegou ao Brasil com o melhor currículo, com um cartel de produção superior inclusive aos de Jorge Jesus e Abel Ferreira, e fez um baita trabalho no Corinthians), ele chegou ao Flamengo com o tanque cheio. Hoje, depois de Palmeiras, Al-Hilal e Del Valle, o tanque está no último quarto. Se perder Recopa e Estadual, ficará na reserva e com umas três rodadas do Brasileiro, ou Libertadores, para achar um posto para reabastecer. Ou comprar uma nova calculadora...
E, vem cá... se a diretoria do Flamengo concluir que deve em algum momento interromper o trabalho do português, não será que está na hora de pensar menos em Mundial e mais em Libertadores, Sul-Americana, Recopa, e trazer um argentino do nível de Coudet e Vojvoda?...
O que você está lendo é [A matemática do Flamengo não bate].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
Wonderful comments