O carrossel de São Bernardo

Comentei nesta quarta-feira o jogo atrasado da oitava rodada do Paulistão entre Ituano e São Bernardo. O time da casa começava a ganhar uma organização com Gilmar Dal Pozzo e vinha de sua melhor atuação no ano na vitória sobre o Santo André - embora ainda corresse (e continue correndo) risco de degola. Mas o que se viu no Novelli Júnior foi mais uma prova de que, depois do Trio de Ferro da capital, o São Bernardo é, de longe, o melhor time do Estado. O time comandado desde outubro de 2023 por Márcio Zanardi vive um momento tão especial que até quando não pode usar sua dupla de ataque titular, os eficientíssimos João Carlos e Léo Jabá, o técnico monta um esquema sem centroavante, que funciona tal qual um carrossel (se não o holandês, mas, vá lá, o de São Bernardo), e simplesmente atropela o Ituano na casa dele. Foi 2 a 0, mas se fosse 5 a 0 não haveria qualquer exagero.

Mesmo sem fôlego para grandes contratações (os nomes mais midiáticos do "carrossel" são Léo Jabá e o zagueiro Rafael Vaz, ex-Vasco e Flamengo), o São Bernardo é sempre forte no meio-campo (onde se decidem os jogos). Com os intocáveis três zagueiro, o Bernô tem Alex Reinaldo na direita e Arthur Henrique como autênticos alas. No jogo em Itu, além da dupla de frente, Zanardi não tinha seu termômetro no meio, Rodrigo. Mas quem disse que isso é problema? O treinador entrou com os dois laterais, mais Johnny Douglas, o regente Vitinho, Felipe Marques e o quase corintiano Chrystian Barletta na armação. E, sem posição fixa, confundindo inteiramente a marcação do Ituano, o rápido Matheus Régis.

Com uma movimentação bem ensaiada, o São Bernardo fechava o meio, roubava bolas e achava Matheus sempre livre. O Ituano estava completamente tonto e dominado, não conseguia sair jogando. Aos 8 minutos, foi exatamente depois de um bote na saída errada do Ituano que a bola chegou aos pés de Matheus Régis que abriu o placar. E mesmo em desvantagem, o time da casa não conseguia fazer a bola chegar ao atacante Rafael Ramos. Com essa tarefa estava Yago (arisco, tentando forçar o jogo pela direita, mas sempre marcado no mínimo por dois), Eduardo Person no meio (também sempre cercado) e Paulo Victor na esquerda (sempre em dúvida se tentava o fundo ou se marcava Alex Reinaldo.

O Ituano não tinha a menor segurança para atacar também porque sabia que quando a bola estava com o São Bernardo era sempre um perigo. Como aos 23 minutos, quando Vitinho dominou no meio e rolou, limpa e macia, para Matheus Régis. Que girou sobre Raí Ramos e tocou de primeira para fazer 2 a 0. E o carrossel de São Bernardo não parava. Pouco depois, Matheus Régis fez mais um, mas foi bem anulado, o atacante partiu um segundo antes e estava impedido. Volta e meia, a câmera buscava as reações de um incrédulo Dal Pozzo - ora exaltado com as dificuldades de seu time, ora resignado no banco.

Na volta do intervalo, imaginava-se que o treinador do Ituano conseguiria pelo menos voltar ao jogo, incomodar o São Bernardo, quem sabe até diminuir o placar e entrar no jogo. Nada... O time de Márcio Zanardi continuou passeando em campo. Bola de pé em pé, construção a partir do campo defensivo, até a bola chegar à zona de definição. Se duas bolas que ali chegaram nos pés de Felipe Marques tivessem chegado a Matheus ou Barletta, o São Bernardo teria hoje de maneira isolada o melhor ataque do Paulista - que mesmo com o 2 a 0 ainda o tem, 20 gols, mas empatado com o São Paulo. Vale ainda a menção honrosa à bela atuação do goleiro do Ituano, Jefferson Paulino, que pegou pelo menos duas bolas dificílimas.

Ficou barato o placar. Mas a atuação do São Bernardo foi uma das mais caras que vi recentemente, um futebol de encher os olhos. O Ituano, por uma das ironias do regulamento do Paulista, pode se classificar como segundo de seu grupo (que tem ainda São Bento e Ferroviária, que como o time de Itu tanto podem avançar ao mata-mata com o Corinthians como podem ser rebaixados, ou um deles com a Portuguesa). O São Bernardo tem grandes desafios pela frente. Não perderei por nada os duelos que faltam na primeira fase - contra o São Paulo e contra o Água Santa (de Tiago Carpini, outro time que anda gastando a bola).

E depois, um duelo de gigantes contra o Palmeiras, que não deveria ser nas quartas, mas bem mais à frente...

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