Falta um mês: arquiteto do estádio do Atlético-MG relembra projeto e etapas até o "sonho concretizado"
Foi lá no distante novembro de 2013 que a ideia da casa própria do Atlético-MG chegou à mesa do arquiteto Bernardo Farkasvölgyi. Depois de longa espera e muito trabalho, desde a concepção do projeto do estádio de 46 mil lugares, e o processo de licenças públicas de construção, a Arena MRV é uma realidade. Falta exatamente um mês para o primeiro evento oficial do estádio.
Os eventos de inauguração da Arena MRV, chamados de BH Festival, tiveram datas alteradas para que pudesse haver o encaixe com uma atração musical internacional, bem como o time estrangeiro que irá fazer o amistoso oficial com o Galo. Mas o dia 25 de março está mantido no cronograma.
No dia em que comemora 115 anos, o Atlético irá receber cerca de 5 mil convidados para um "dia de testes" e solenidades da nova casa. Bernardo Farkasvölgyi, naturalmente, estará lá, na qualidade de arquiteto do empreendimento, e também como conselheiro do clube. Ainda falta muito trabalho a ser feito nas obras viárias, fundamentais para que o estádio opere de forma plena para os jogos de futebol.
Em entrevista ao 💥️ge, um dos líderes da nova casa do Atlético fala sobre detalhes do projeto, o impacto de vê-lo sair do papel e arranhar o horizonte da capital mineira com o mesmo visual dos primeiros desenhos à mão, os percalços de quase 10 anos de estruturação, os custos e contrapartidas do empreendimento, e a expectativa da inauguração.
1 de 11 Bernardo Farkasvölgy, arquiteto da Arena MRV, nova casa do Atlético — Foto: ReproduçãoBernardo Farkasvölgy, arquiteto da Arena MRV, nova casa do Atlético — Foto: Reprodução
💥️Como começou seu envolvimento no projeto?
- No dia 13 de novembro de 2013, eu fui convidado para ir à MRV para uma reunião. Não sabia o que era o assunto. Quem me recebeu foi o Hudson (vice-presidente da época), comentou que havia um projeto grandioso, um sonho para os proprietários da MRV. E queriam me convidar para fazer o projeto do estádio do Atlético. Eu quase enfartei (risos). Porque todo arquiteto, quando forma, tem o sonho de fazer esse projeto grandioso. No meu caso, era a paixão pelo Atlético e fazer um estádio do Galo. Eu frequentei o Mineirão na década de 1970. Inclusive, aquelas fitas brancas e pretas que ficavam amarradas na arquibancada superior até a geral é uma das inspirações para a nossa arena, hoje.
💥️E quais foram os procedimentos do arquiteto após esse convite?
- Eu fui visitar o terreno. Fui para a Europa e também fiz visitas guiadas a estádios por lá, aqui no Brasil também. Eu chegava cinco horas antes do jogo, acompanhava o credenciamento de pessoal, dos funcionários, e ficava cerca de 10 horas numa arena para aprender o passo a passo de um dia de operação.
- Mas o processo todo, fui para os desenhos após a visita aos terrenos. E há um fato engraçado. Eu estava na Via Expressa, do outro lado, observando o terreno. Fiquei lá quase duas horas para poder enxergar bem e colocar as informações visuais dentro da minha cabeça. Então, um carro de polícia passou uma, duas, três vezes. Até que chegou a mim e me abordou, achando que eu estava em atitude suspeita. Aí eu comentei: "Sou arquiteto, fui contratado para elaborar o estádio do Atlético, e vai ser nesse terreno aqui". Por sorte, os policiais eram atleticanos e começaram a comemorar.
2 de 11 Esboço Arena MRV, estádio do Atlético-MG — Foto: DivulgaçãoEsboço Arena MRV, estádio do Atlético-MG — Foto: Divulgação
💥️Estamos falando já no início de 2014? Houve a mudança de presidentes do Atlético...
- Era nessa transição. Eu estava desenhando a Arena. Qual a ideia? Fazer um estudo preliminar, estimativa de custos, e saber se era viável economicamente tocar o projeto. Apresentei o primeiro estudo em março de 2014. Depois que eu fui para a Europa visitar as arenas, em segundo passo, quando a coisa se tornou viável. Viável em que sentido? Na época, se orçou o projeto, mas não na ponta do lápis. Era uma ordem de grandeza. Em cima disso, já com o Daniel Nepomuceno pilotando. E o Daniel, para mim, é o pai da arena. É uma pessoa que tem um peso grande, tocou o projeto. Juntou um grupo com o Daniel, o Pedro Tavares, o próprio Rubens, Rafael, Ricardo Guimarães e eu. Começamos a fazer as possibilidades econômicas do estádio. Foi quando veio a ideia da venda do Diamond Mall e criar ativos da própria arena.
💥️No início, a Arena MRV tinha o custo de R$ 410 milhões. A conta fechava com 💥️💥️, a venda de 50,1% do Diamond, e o restante em vendas de cadeiras cativas e camarotes.
- Isso. Você tem o que foram fechados, na ocasião, por R$ 60 milhões em um período de 10 anos. Já foram vendidas cerca de 6 mil cadeiras na ordem de quase R$ 160 milhões, a venda de camarotes na casa dos R$ 110 milhões. Esses ativos foram importantíssimos para a elaboração do estádio. E o desafio era fazer um estádio bacana, confortável, mas sem luxo.
3 de 11 Obra da Arena MRV — Foto: Arthur William/Agência EspacialObra da Arena MRV — Foto: Arthur William/Agência Espacial
💥️Interessante isso. É uma arena que se baseia muito na tecnologia, mas sem luxo.
- Sim. É uma arena de muito conforto, mas sem luxo. Veja só: o piso é de concreto polido, as paredes são bloco com textura, sem argamassa. É aquela textura preta. As instalações são aparentes, com um ar mais industrial. O que facilita muito na manutenção. Você não precisa quebrar parede se tiver que mexer numa tubulação elétrica. Tudo aparente. Isso é excelente para o dia a dia. Aquilo que não aparece estão em . São vãos visitáveis onde passa as tubulações verticais, principalmente as que se conectam através de diferentes andares. Através de que está a parte da imprensa, no TV Compound. Você consegue puxar todos os cabos para os níveis da arena. Isso foi pensado nos mínimos detalhes. Não é só projeto de arquitetura, é de engenharia. E as visitas a outros estádios foram fundamentais, com pesquisas bibliográficas. O que encontramos de legal no mundo, trouxemos para a Arena MRV.
💥️E há algum aspecto do estádio do Atlético que seja inovador?
- Há sim. Vou te dar alguns exemplos: a rua interna que há no terceiro pavimento. Onde entra os ônibus (dos times) e os caminhões. Os caminhões podem entrar ao lado do campo e fazer montagem e desmontagem de palcos musicais em 24 horas. Eu posso ter um show na sexta-feira à noite e posso ter um jogo de futebol no domingo de manhã. As bocas de túnel e as entradas são bem grandes, largas e altas, exatamente com a intenção de entrar com as carretas.
4 de 11 Bernardo Farkasvolgyi, arquiteto responsável pelo projeto do estádio do Atlético-MG — Foto: Rodrigo FonsecaBernardo Farkasvolgyi, arquiteto responsável pelo projeto do estádio do Atlético-MG — Foto: Rodrigo Fonseca
💥️Voltando um pouco no começo. Houve um trabalho de convencimento de que o projeto era viável e benéfico ao Atlético, que precisaria abrir mão de parte do patrimônio do Diamond.
- Então foi um trabalho de formiguinha. Houve conversas individuais com conselheiros, depois em pequenos grupos, até que acontecesse reuniões maiores de apresentação do projeto. Não só a parte da arena, mas a estruturação financeira. Era criar um entendimento e depois iniciar a votação a favor da Arena MRV. Um trabalho que levou mais de dois anos com o time que eu comentei. E temos que parabenizar a postura de todos eles. O Pedrão (Pedro Tavares) é muito ativo com os conselheiros, o Rubens e o Rafael também. O sonho que irá se tornar realidade em 30 dias nasceu lá atrás, a partir do desejo dessas pessoas. E me sinto muito honrado de fazer parte dessa equipe. Um projeto que mexe com todos os atleticanos.
💥️Foram longos anos, então, até que o projeto saísse do papel. Imagino que ele tenha sofrido alterações até chegar ao que conhecemos hoje de estádio do Atlético. Até mesmo o terreno foi um desafio, por ser área de preservação permanente (APP).
- Então, partimos para o projeto definitivo. A gente evoluiu na estrutura da arena. E sempre preocupado em fazer uma arena barata. O desenho avançou, mas ainda sem a parte de engenharia. Não havia o projeto estrutural, o projeto de instalação elétrica, hidráulica, ar-condicionado. Mas já iniciamos a etapa de orçamentos. E definição da construtora. Isso em 2017. Foi feito o trabalho de concorrência, e a Racional Engenharia ganhou. Nesse meio tempo, o processo de licenciamento não parou. Em um primeiro momento lá atrás, entramos com um projeto de licenciamento simplificado. O maior desafio era a questão do córrego no terreno. Existia uma definição de se canalizar o córrego, na legislação brasileira, de duas portas: utilidade pública ou interesse social.
- A utilidade pública foi criada para a construção dos estádios da Copa do Mundo de 2014. Então, utilizava-se esse recurso para acelerar no licenciamento em áreas onde há mata atlântica ou nascentes.
5 de 11 Novas imagens da Arena do Atlético-MG — Foto: Arena MRVNovas imagens da Arena do Atlético-MG — Foto: Arena MRV
💥️Lá na Arena MRV existe uma nascente. Isso até gerou cerca polêmica e dúvida se seria possível construir um empreendimento desses na APP.
- Há duas nascentes preservadas no raio de 50 metros. E isso caracteriza a Arena MRV ser o único estádio do mundo a ter uma Mata Atlântica com duas nascentes preservadas, numa marca de 30 mil metros quadrados. É outra característica exclusiva da arena. As nascentes foram tratadas. Elas brotam água, e toda a canalização foi feita de uma forma de engenharia de muita qualidade. É realmente fantástico.
💥️Você explicava da utilidade pública e interesse social.
- Pois bem. A utilidade pública é da Copa de 2014. Nos parece que algum advogado cruzeirense foi ao STF discordando que o estádio seria de utilidade pública, uma vez que a Copa já havia passado. O STF retirou o título de utilidade pública. E tivemos que repensar todo o processo de licenciamento da arena baseado no interesse social. Foi daí que veio a criação do Instituto Galo. É uma demanda que foi colocada e trouxe benefício enorme. Hoje, o Instituto Galo é uma força, uma instituição importante que ajuda muitas pessoas necessitadas, principalmente crianças e idosos. Trouxe um grande benefício para o Atlético, mas também para toda a nossa comunidade.
💥️O interesse social não havia sido um decreto do Governador?
- No último dia de governo de Fernando Pimentel, houve esse decreto. É preciso ter o aval do governador do Estado. Ele assinou esse documento, e conseguimos caracterizar a Arena MRV como de interesse social. E caminhamos. E já havíamos feito audiências públicas para a comunidade local. E já havia a discussão das contrapartidas junto ao município. Lá atrás, se falava em R$ 60 milhões, que são as contrapartidas essenciais ao trânsito. Costumo dizer: qualquer projeto grande no Brasil, a contrapartida gira em torno de 2%, 3% do valor total da obra. Então, a arena com valor de R$ 700 milhões, estaríamos falando de R$ 21 milhões. Mas os R$ 60 milhões lá atrás eram fundamentais para as modificações do trânsito, para a arena poder funcionar numa quarta-feira de jogo, com capacidade máxima de 46 mil torcedores, às 19h, tendo menos tráfego do que um horário de rush na sexta-feira. Isso era necessário.
6 de 11 Reserva Ecológica ao lado da Arena MRV — Foto: Fred RibeiroReserva Ecológica ao lado da Arena MRV — Foto: Fred Ribeiro
💥️Mas houve um aumento considerável das contrapartidas. Como explicar?
- Infelizmente, subiu demais. Passou da casa dos R$ 200 milhões. Há uma avaliação entre Arena MRV e o poder público. Acredito que teremos sucesso para reduzir um pouco esses custos aí.
💥️É possível essa redução?
- Sim. Já está sendo reduzido em alguns pontos. Há negociações importantes entre as duas partes. Algumas coisas estão sendo, realmente, reduzidas, para tentar realmente reajustar os valores. É um trabalho da Arena MRV, liderado pelo Bruno Muzzi, nosso CEO. Ele entrou no projeto depois, principalmente para a parte de licenciamentos. Ajudou a pilotar esse trabalho de forma perfeita e muito inteligente.
💥️Quando a Arena MRV ganha o status de "interesse social", o projeto final já estava na PBH?
- Estava protocolado. Mas mudou-se a forma de análise do projeto. Caiu o licenciamento urbano simplificado. A secretaria da época, Maria Caldas, ela entendeu que não caberia a operação urbana simplificada. Fomos analisar a legislação. São três zoneamentos naquele terreno. Fizemos uma média de cada zoneamento, pela mancha, e calculamos o potencial construtivo, taxa de impermeabilidade, taxa de ocupação e impulsão das médias. Por uma questão divina, o projeto passou.
7 de 11 Camarote da Arena MRV pode ser "pré-visualizado" no centro de experiências, aberto ao público — Foto: Bruno Cantini/Atlético-MGCamarote da Arena MRV pode ser "pré-visualizado" no centro de experiências, aberto ao público — Foto: Bruno Cantini/Atlético-MG
💥️Sobre "intervenção divina", há a história também que o posicionamento da Arena MRV se encaixou de forma perfeita, certo?
- Em função do raio de 50 metros das nascentes, a arena só se encaixava em uma direção no terreno. E o padrão Fifa exige que a diagonal do estádio tem que estar para norte. Era exatamente isso. Tinha que acontecer.
💥️Essa regra da Fifa é para a incidência de raios solares não atingirem os goleiros?
- Se você faz uma arena com insolação Leste-Oeste, o sol, em jogo às 16h, irá direto no goleiro. Normalmente, a diagonal tem que estar à norte, que é o melhor posicionamento. A nossa arena, por exemplo, jogo às 16h, a incidência solar irá para 35% do estádio. Quando for às 17h, a incidência é de 10%. Eu queria ter colocado a torcida adversária na faixa onde irá bater sol, mas infelizmente não pude colocar, pois as cabines de televisão irão mostrar essa parte onde há o sol, e tivemos que colocar o setor visitante ao lado das cabines de TV.
💥️Então será mais ou menos igual ao Mineirão, quando o sol pega no setor vermelho, que é o que fica do outro lado das cabines de TV.
- No Mineirão, a incidência solar dele é maior. Às 16h, o sol pega cerca de 60% do campo. É uma faixa inteira da lateral do campo. Na Arena MRV, será apenas um pedaço. Isso é interessante.
8 de 11 Maquete da Arena do Atlético-MG — Foto: DivulgaçãoMaquete da Arena do Atlético-MG — Foto: Divulgação
💥️Fale um pouco também da parte de shows da Arena MRV.
- Com isso tudo, veio a questão da contratação da empresa de eventos, que é a Bravo. Ela entrou no projeto, visitamos vários lugares, e houve mais alterações no projeto para adequação. Costumamos dizer que a Arena MRV é multiuso, na qual serão 42 dias de eventos esportivos, que são os jogos do Atlético. Posso ter shows para 5 mil pessoas até 70 mil. Posso montar uma feira com estandes na arquibancada inferior. Posso fazer eventos corporativos nos , seja na sala de imprensa que será adaptada. Consigo atrair muita coisa de eventos e é um trabalho que está sendo feito, pensando em receitas para o Atlético.
💥️O licenciamento ambiental foi uma verdadeira luta. Foi a etapa mais penosa de todo o projeto?
- O licenciamento de instalação saiu no fim de 2023. É um projeto grande, de impacto importante na vizinhança. Mas, na minha opinião, foi uma demora exagerada. A gente conseguiu a licença de terraplenagem em abril de 2023, e só conseguimos o alvará de construção em agosto de 2023. O primeiro protocolo que fizemos foi em 2014. Estamos falando de seis anos. Na minha visão, é uma demora considerável. Não estou do outro lado para fazer a avaliação, mas pela importância do projeto, poderia ter acontecido uma agilidade maior. Se demorou, imagino que o poder público tenha seus motivos.
💥️As obras estão praticamente finalizadas na parte interna. Foram pouco menos de três anos. Explique a complexidade do empreendimento, por favor.
- É uma arena de 180 mil metros quadrados, com toda a sua complexidade. São 32 disciplinas de engenharia, que nós compatibilizamos com arquitetura: desde estrutura metálica, elétrica, hidráulica, lógica, pressurização, ar-condicionado, drenagem, paisagismo. É uma penca. Um trabalho que foi feito por nós da Farkasvölgyi Arquitetura, junto com a Arena MRV, a Racional e a Reta Engenharia, que faz o gerenciamento da obra. É uma obra impecável. Fui fazer visita na semana passada, e a execução é muito bem-feita. O que nós estamos vendo hoje é a concretização desse sonho que começou lá em 2013.
💥️Há alguns aspectos da arena que chamam a atenção. Proximidade das cadeiras, até mesmo o visual zebrado dela. A cobertura recebeu modificações, certo?
- Sou suspeito para falar, mas a arena está um caldeirão mesmo, cadeiras próximas ao campo. Inicialmente, o cinza da cobertura seria mais claro. Mas não agradava, porque a cobertura seria feita com manta PVC da Firestone. Mas nos estudos de segurança e incêndio, feitos em Londres, se percebeu que um fogo de artifício poderia abrir um orifício na cobertura. Então, voltamos com a ideia da telha zipada, que foi um investimento de R$ 25 milhões a mais. Depois de muita discussão, optamos realmente para fazer essa migração. E conseguimos um cinza mais escuro que fica mais caracterizado com as cores do clube.
9 de 11 Arena MRV, estádio do Atlético-MG, poderá ser usada para eventos e grandes shows — Foto: Reprodução/Farkasvölgyi ArquiteturaArena MRV, estádio do Atlético-MG, poderá ser usada para eventos e grandes shows — Foto: Reprodução/Farkasvölgyi Arquitetura
💥️Você citou o custo da telha zipada. Houve outros fatores que implicaram no aumento do orçamento.
- O que era R$ 410 milhões lá atrás, em 2017 para 2018, obviamente precisou ser atualizado. Se transformou em R$ 700 milhões. Há inflação, aumento de custo de construção civil, principalmente na pandemia (aço e cimento). Citei a telha zipada, a questão do plano de tecnologia é um incremento do custo, mas é uma ideia fantástica. É uma experiência para o torcedor. Do meu celular, posso comprar meu ticket, meu acesso ao estacionamento, minha cerveja, meu feijão tropeiro. Com o código de barra, eu apresento e pego, ou peço para alguém levar na minha cadeira. Isso custou caro. A iluminação da arena teve acréscimo de preço. Se eu tenho show de rock, a arena pisca no ritmo da música. Se há música clássica, a arena cria listras de luz que caminham.
💥️Hoje, talvez o maior desafio seja as obras viárias da arena. Poderia falar desse procedimento?
- A questão do projeto viário é importante. A arena está criando um viaduto de retorno de veículos e pedestres. São quatro faixas de acesso à frente do estádio. Ela irá fazer a alça da via expressa com o anel rodoviário. Vai duplicar a alça da via expressa com a BR 040, entre outros. Tudo para que o trânsito possa fluir bem, independentemente de ser um jogo no meio de semana. Todos os estudos que fizemos mostraram isso. Estamos na reta final. A arena em si está praticamente pronta. As obras viárias não vão ficar prontas daqui a um mês, mas boa parte sim para que as pessoas que irão começar a frequentar os eventos do BH Festival, possam entrar com segurança e conforto.
💥️As obras viárias são contrapartidas. Surgiu uma dúvida. A Arena MRV só teria a Licença de Operação após 100% de conclusão das obras viárias? Ou seja, o Atlético só poderá receber jogos oficiais de futebol com a arena operando com total capacidade após a conclusão de todas as obras?
- O que ocorre? Antes dos eventos com capacidade total (46 mil torcedores), vai se licenciar evento a evento. Será analisada as etapas das obras viárias. A obra viária chegou em tal estágio? Então consegue a licença para 10, 20, 30 mil pessoas. Isso vai acontecer. Agora, a capacidade total eu acho que, realmente, para jogos de futebol, só com a LO e o "abits" da prefeitura.
- No que eu participei das reuniões de fato, parece que será licenciamento evento a evento. O Mineirão está sem LO. Cada show que é feito no Mineirão, é licenciamento individual. Imagino que para os jogos de futebol também. A licença de obras públicas foi liberada em setembro de 2022. Poderia ter começado as obras antes. Mas só saiu ano passado. Você entender um processo de licenciamento de um projeto desse tamanho, não só da parte privada, mas tem obras públicas. É uma loucura o trabalho que dá. E estou falando não só de Belo Horizonte, estou falando do Brasil. É preciso acelerar os processos de licenciamento como um todo. Isso não iria impactar ninguém. Tem que haver uma forma de simplificar o processo.
10 de 11 Arena MRV, futuro estádio próprio do Atlético-MG — Foto: Divulgação/AtléticoArena MRV, futuro estádio próprio do Atlético-MG — Foto: Divulgação/Atlético
💥️Todas essas licenças são emitidas pelo Comam, certo?
- No caso de BH, sim, pelo Conselho Municipal de Meio-Ambiente. O Comam é um conselho, mas o licenciamento é conjunto, com impactos ambientais e urbanísticos. Só que o ambiental sobrepõe. Na realidade, se formos pensar, o projeto desse porte pega tudo: meio-ambiente, política urbana, mobilidade, políticas públicas, de patrimônio. Mas vem um lado de satisfação grande. Lá em 2013, quando fizemos os primeiros rabiscos e desenhos, e chegar à Arena MRV pronta e impecavelmente fiel ao projeto... É um motivo de muito orgulho. Cada vez que vou lá, não tem como não ficar emocionado.
💥️O Atlético precisa cumprir as 55 condicionantes da LI para obter a LO, correto?
- Na realidade, a LI foi dada em dezembro de 2023. Com a LI, conseguiu-se a licença de terraplenagem em abril. A LO é o cumprimento de todas as contrapartidas definidas pela LI. Se trata do mesmo tema.
💥️Qual foi a etapa mais difícil desse sonho da Arena MRV?
- O licenciamento com certeza é uma delas. Mas a implantação do projeto dentro do terreno também foi difícil. Na terraplenagem, movimentamos mais de 400 mil metros cúbicos de terra. E não houve muito bota-fora. Todo o trabalho que fizemos lá atrás foi fazer movimento de terra interno. Onde eu cortei, eu aterrei. Esse trabalho foi o mais difícil em termos de concepção de projeto. A diferença da Via Expressa para a Rua Margarida Assis é de 55 metros de altura. Então, se eu coloco a Arena MRV muito baixa, não teria acesso pelas ruas, teria muita contenção. Se fosse muito alta, poderia ficar "voando", e criaria uma escadaria sem fim para a via expressa. Como a gente trabalha no BIM (Modelagem de Informação da Construção), uma plataforma para modelar o projeto em 3D, com todos os parâmetros lá dentro, todos os insumos e informações. Com esse modelo, eu pegava a arena, e arredava para cima e para baixo no terreno, para sentir aquilo que eu estava cortando e aterrando. Foi o ponto mais sensível. A decisão é na sensibilidade. É algo intangível. É a decisão que tomamos por estar seguro e corrente. Foi uma decisão bem acertada, está tudo encaixado. Nível de esplanada liga direto na rua lateral, onde há o centro de experiência, a torcida adversária entrando do outro lado. Está tudo encaixado. E há o impacto visual de quem passa pela região, a grandeza do estádio.
💥️O Centro de Experiências foi uma ideia bem legal. Ele irá continuar após a inauguração do estádio?
- A ideia é mantê-lo. Estamos trabalhando na nova aprovação do projeto, algo mais simples, para manter as atividades do Centro. Foi um espaço super marcante. Leva o torcedor a conhecer a obra, além de trazer receitas para o projeto. Então, o espaço será mantido para seguir recebendo visitas, teremos a loja lá, o espaço de convivência, o deck com vista panorâmica. Foi uma ideia que deu muito certo.
💥️Sobre Museu e Sede, há espaços reservadas na Arena MRV. A ida deles para lá está decidida?
- Temos a ideia de levar a sede para a arena. Não está 100% definido ainda. Mas foi estudado em termos de projeto de arquitetura. Há essa alternativa. Independentemente de a sede ir ou não, teremos um museu com 1,100 m², e uma loja com aproximadamente 500 m². A loja irá sair na Esplanada. Isso vai para a Arena, e estamos definindo se irá levar a sede ou não. Se levar, já teremos o espaço estruturado para isso.
11 de 11 Primeiros croquis da Arena MRV, desenhados pelo arquiteto Bernardo Farkasvölgiy — Foto: Acervo PessoalPrimeiros croquis da Arena MRV, desenhados pelo arquiteto Bernardo Farkasvölgiy — Foto: Acervo Pessoal
💥️O custo total das obras da Arena MRV está batendo R$ 1 bilhão, com um contrato de Preço Máximo Garantido com a Racional, mas as contrapartidas não entram no PMG. Pode explicar como é a divisão?
- O custo é na casa de R$ 940, 950 milhões. Olha, hoje deve ser algo em torno de R$ 720 milhões a obra, e R$ 220-230 milhões nas contrapartidas, na minha análise. Isso é aquilo que comentamos: alterações no projeto que foram feitas, até mesmo em relação aos eventos. Alterações como a cobertura, inovações de tecnologia e iluminação, além de inflação, reajuste de materiais de construção civil. O aço subiu mais de 40% em 2023. Então é um aumento natural. A questão das contrapartidas foi aumentando no andar da carruagem. Mas acredito que possa cair nas negociações.
- Obviamente, há contingências nesse contrato. São fatores que não estavam previstos e abraçados na época da assinatura do contrato com a construtora. Mas o PMG é isso: se ficou mais caro, a construtora banca. Se ficar mais barato, o lucro é dividido.
💥️Você falou do sistema de iluminação. Ele já foi todo instalado?
- Os letreiros, os símbolos do Atlético, já estão instalados com a iluminação. A iluminação da própria Arena MRV está sendo feita. Mas boa parte dela está pronta.
💥️Você visitou os estádios da Europa. Queria que você falasse quais foram as grandes inspirações para a Arena MRV, e também se o estádio do Atlético já serviu de inspiração para algum outro clube.
- De tudo que a gente visitou, o estádio que mais me chamou a atenção lá fora foi a da Juventus, no que diz respeito à qualidade de uma arena realmente multiuso. E aqui no Brasil foi o Allianz Parque (Palmeiras). Com relação à novas arenas, a gente conversa com o Botafogo, eles têm interesse de fazer um do Nilton Santos. O São Paulo nos procurou também, para requalificação do Morumbi. São times com mais proximidade do Atlético.
- Porque se o Flamengo ou Corinthians baterem na minha porta, eu nem abro (risos). Nem cito o Cruzeiro... Arquitetura é paixão, e jamais faria. O resultado da Arena MRV, em termos de valor de cadeira, pelo porte, arena coberta, é uma das mais baratas do mundo. Isso realmente atrai outros clubes para bater papo. Semana passada o presidente do Conselho do São Paulo nos visitou. Ele disse que ficou 14 anos na Europa, que conhecia praticamente todos os estádios do mundo, e que ficou bastante impactado. Palavras do Olten (Ayres), presidente do Conselho do São Paulo. Algo que nos enche de orgulho.
💥️E como será a vida da Arena MRV em dias sem jogos e eventos? Como ele funciona como equipamento social?
- A ideia é abrir a Esplanada para a comunidade usufruir. Podemos realizar ações globais, eventos esportivos, por exemplo, adesivar quadras de vôlei, futebol, esplanada. Teremos um centro de línguas, que é contrapartida do Instituto Galo, que ficará abaixo do TV Compound. Quer dizer, é basicamente um espaço sem fim para atividades, ações e eventos sociais, esportivos, comunitários.
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