Torcida organizada do Botafogo-SP é proibida de entrar nos estádios de SP até novembro de 2023
Faixa com a frase 'Sem anistia' motivou briga entre PM e torcedores organizados em Ribeirão Preto — Foto: Divulgação/Rede Social
A torcida do Botafogo-SP, “Botafogo Antifacista/Resistência Caipira”, está proibida pela FPF (Federação Paulista de Futebol) de entrar nos estádios de São Paulo desde o último dia 22 até o fim do Campeonato Brasileiro da Série B, que começa em abril e tem previsão e término em novembro deste ano.
A entidade acata ofício do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), na figura do 21º promotor, Paulo José Freire Teotônio, para evitar “quebra da ordem pública” por causa de uma faixa com a frase “Sem anistia”, exibida no estádio Santa Cruz no dia 19 de janeiro, no duelo entre Botafogo e Palmeiras, que venceu por 1 a 0.
Na ocasião, um torcedor foi detido por resistência pois, de acordo com a Polícia Militar, a faixa havia sido vetada na entrada do estádio. Ainda de acordo com a corporação, no momento em que um dos integrantes da torcida, Sérgio Augusto Leli, estava sendo conduzido até a Central de Polícia Judiciária por portar o objeto, outros membros passaram a “hostilizar e agredir os policiais”, onde houve “necessária ações das forças policiais de forma repressiva”.
De acordo com o pedido feito pelo promotor, justamente por esse desfecho de violência, Leli e os demais integrantes da torcida devem responder pelo artigo 39-A do Estatuto do Torcedor, que pune a torcida organizada que, “em um evento esportivo, promover tumulto; praticar ou incitar atos de violência” (leia o artigo todo abaixo).
“Tal confronto ocorreu durante uma ação da Polícia Militar que visava intermediar e impedir uma manifestação de cunho político que estava sendo praticada por essa torcida organizada e que estava gerando grande potencial de quebra da ordem pública, uma vez que portavam uma faixa com os dizeres "Sem Anistia" e entoavam cânticos provocativos também de cunho político, conforme relatado em boletim de ocorrência que segue em anexo”, diz o ofício.
2 de 2 Estádio Santa Cruz, partida Botafogo-SP e Palmeiras — Foto: ge
Estádio Santa Cruz, partida Botafogo-SP e Palmeiras — Foto: ge
Em contato com a reportagem, o promotor Teotônio explicou que não se trata de um veto por causa do posicionamento político, mas uma ação preventiva para evitar que qualquer manifestação de cunho político-partidário desencadeie atos de violência nos estádios.
- O que se quer evitar é que a torcida do próprio time passe a brigar entre eles por motivação política, algo nada a ver com futebol e, isso, possa prejudicar famílias, crianças. Evitar que afete até o rendimento do clube, que pode ter, eventualmente, estádio interditado, ninguém quer isso. Queremos que todos possam torcer pelo seu clube irmandados, independentemente de posição política, está difícil conviver no Brasil com essa divisão acentuada. Vamos fazer a motivação política em ambiente controlado, onde não se possa ter uma rebelião, várias pessoas serem feridas em virtude desta motivação – explicou o promotor.
💥️O que diz a torcida
O advogado Juarez Alves de Lima Júnior, que estava no estádio e representa o coletivo, negou que o grupo tenha causado tumulto com a faixa e tentado confronto com as forças policiais. Lima Júnior ainda negou que o pedido para entrar com a faixa anteriormente tenha sido negado.
- Tanto ele [Leli] quanto eu somos vítimas daquele episódio. O que a FPF determinou é acatação de um ofício da Promotoria. Ele solicitou esse ofício ao juizado criminal e, de imediato, de forma sumária, foi expedido esse ofício. Não é definitivo, não começou o processo, nem teve audiência inicial. O primeiro é que temos dois torcedores que abriram Boletim de Ocorrência contra ação da PM, essa está correndo no âmbito da Justiça Militar, escapa da comum. O outro é esse que a PM abriu contra um torcedor respondendo pelo crime de desobediência, que teria sido impedido de entrar com a faixa anteriormente, isso nunca existiu. A gente sempre ficou ali, e não havia nenhum clima de animosidade, filmagens tem aos montes, nenhuma possibilidade de tumulto, quem começou foi a própria Polícia Militar – justificou Lima Júnior.
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Para o advogado e torcedor, a sensação dos integrantes é de “censura”. Ele chamou a proibição de “vergonha” para o time que revelou Sócrates, atleta que teve a história marcada por posicionamentos políticos. O grupo pedia punição aos atos golpistas do dia 8 de janeiro, contra os Três Poderes, em Brasília.
- Extremamente censurados, até porque a Resistência Caipira sempre foi colocada nos estádios, sempre com autorização prévia do Comando da PM, sempre seguimos a orientação deles, nunca entramos em confronto. Eu sou espírita, o “Magrão” estaria com uma vergonha tremenda, se tivesse encarnado seria o primeiro a estar na nossa frente. Não fizemos nada de anormal, confronto, afronta, de forma alguma. Quando exigimos sem anistia para quem faz o que fez dia 8 de janeiro, tinha de ser aplaudido pelo estádio inteiro. Não houve hostilidade, transtorno, o que não se aceitou a forma pela qual a polícia já veio, não se preocupou se tinha criança, coisa grotesca – desabafou.
💥️Proposta para encerrar o processo
Ainda de acordo com o promotor, o torcedor acusado de entrar com a faixa no estádio recebeu uma proposta de benefício legal para prestar serviços na base da Polícia Militar duas horas antes e duas horas após cada jogo, para evitar a continuidade do processo penal. Uma audiência está marcada para o dia 8 de março.
- Há imputação e crime a um torcedor específico, aos demais está em apuração. A Federação não decidiu porque tem uma audiência marcada. Fizemos requerimento de urgência, o juiz prontamente, apesar do extraordinário volume de serviços que a Vara tem, algo desumano, ele conseguiu uma brecha para marcar essa audiência em tempo rápido, para que esse torcedor seja consultado sobre um benefício legal. Pode aceitar, ou não. Eu considero um senhor benefício que o legislador dá a alguns infratores da lei penal. Não aceitando, pode ser enquadrado neste crime específico ou em outras infrações penais que a PM pontuou. – disse o promotor.
💥️Predomínio de Ribeirão Preto entre as vetadas
Na "Relação de Torcidas Organizadas Punidas" emitida pela FPF, há um predomínio de entidades ligadas a clubes de Ribeirão Preto. Apesar de estarem relacionadas de forma distinta, "Resistência Caipira" e "Botafogo Antifascista" são as duas últimas incluídas no documento.
"Mancha Alvinegra", torcida organizada do Comercial, e "Kamikaze Tricolor", também do Botafogo-SP, completam a relação, que tem ainda "Ju Jovem" (Juventus da Mooca), "Gamor Força Jovem" (Paulista), "Serponte" e "Jovem Amor Maior" (Ponte Preta) e "Loucos de Barueri" (Grêmio Baureri).
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