Sustentabilidade: o impacto das ações pequenas e consistentes &
Muitas vezes damos connosco a pensar que os temas de ESG (Environmental, Social and Governance; em português: Ambiente, Social e Governação) são só para grandes empresas, que são obrigadas a reportar e dispõem de grandes orçamentos. Ou, então, que são para as pessoas e as organizações totalmente focadas nas alterações climáticas.
Pensamos que qualquer medida de mitigação das alterações climáticas é sempre baseada em tecnologia avançada, dispendiosa e só acessível a um pequeno grupo de organizações; que tem que ser feita em grande escala, que nunca conseguiremos ser 100% sustentáveis e, por isso, nem vale a pena tentar; que são mudanças difíceis, demoram tempo, não aumentam a produtividade das empresas, não são valorizadas pelos clientes e não compensam o esforço que exige.
No entanto, isso não corresponde à realidade. Na verdade, todos, mesmo todos, podemos fazer algo para sermos mais sustentáveis.
Todos os dias podemos tomar decisões e fazer pequenas alterações que nos vão ajudar a fazer o caminho da sustentabilidade, mesmo que o façamos devagar. Se todos os dias fizermos alguma coisa, uma ação ou uma mudança, então no final de um ano, teremos feito 365 pequenas coisas.
Sabemos que as organizações mais pequenas são mais ágeis e conseguem implementar medidas de forma mais célere e eficiente. Conseguem ser mais flexíveis na adoção de novas tecnologias e na adaptação a novos contextos. Em Portugal, as PME representam 99,9% do tecido empresarial português, por isso, as mudanças feitas nestas organizações terão sempre muito impacto. Na Europa, implementar uma economia circular em sectores como a construção, transportes e alimentos pode gerar 900 mil milhões de euros por ano a mais até 2030, valor que resulta das economias de custos e dos benefícios gerados para a sociedade e para o meio ambiente.
No que diz respeito ao Ambiente, existem algumas atitudes simples e rápidas de implementar, tais como a valorização de resíduos (o que é considerado resíduo para uma indústria pode ser uma matéria-prima para outra), a seleção de matérias-primas com origem em fontes renováveis, a alteração de iluminação para lâmpadas LED (gastam dez vezes menos do que as incandescentes e duram até cinco vezes mais), a colocação de redutores de caudal nas torneiras e autoclismos.
A indústria alimentar tem muitas oportunidades para esta circularidade. Globalmente, um terço dos alimentos são perdidos e o desperdício alimentar é responsável por 10% das emissões globais de gases de efeito de estufa. 22% desta perda ocorre entre a produção e a chegada às lojas. Existem alguns projetos em Portugal que actuam desta forma, utilizando desperdícios da agrícolas (por exemplo hortofrutícolas frescas com defeitos que não conseguem ser vendidos ao público) e utilizando-os como matéria-prima para produtos alimentares diferenciados e de valor acrescentado.
Há, também, mudanças mais complexas que podem ser efetuadas nas próprias instalações, tais como: a instalação de mais janelas ou telhas transparentes, para que entre mais luz natural; a colocação de isolamentos, que melhoram o conforto térmico; a instalação de painéis solares ou fotovoltaicos, apesar do investimento inicial, existem vários apoios para este efeito (ex: IAPMEI ou Fundo Ambiental) e a longo prazo tem muitos benefícios.
Também a nível Social, existem ações concretas que ajudam as organizações a cumprir os critérios de sustentabilidade, nomeadamente as políticas de contratação, a igualdade salarial, igualdade de género, programas de formação e capacitação dos colaboradores, medidas de conciliação entre vida pessoal e profissional e também redes e parcerias locais e apoio à comunidade. Há vários exemplos em Portugal de empresas que, podendo ter custos operacionais mais baixos noutras geografias, optaram por ficar em Portugal, dando ainda mais força à etiqueta “Made in Portugal” (sobretudo no sector da Moda e da Decoração), ao mesmo tempo que apoiam as comunidades locais não apenas pela dinâmica empresarial, mas também sendo mecenas de projetos comunitários e fazendo parte de todo um ecossistema de cooperação.
Por último, no âmbito da Governação, as PME têm um bom conhecimento da sua estrutura, da sua cadeia de abastecimento e conseguem estabelecer fortes parcerias com os seus fornecedores, construindo relações de transparência, confiança e apoio mútuo. É importante identificar pessoas chave na organização e criar equipas focadas, motivadas e com a responsabilidade da promoção sistemática destas sinergias e implementação de dinâmicas entre as organizações, que as motivem a parar, olhar para o que fazem como se fosse a primeira vez e, em conjunto, aprender, partilhar ideias e perceber como podem simplificar processos. Quando a empresa precisa de algo, nem sempre a única solução é comprar. Deve haver o espírito de questionamento: É possível reparar? Podemos partilhar espaços, ferramentas, equipamentos? Qualquer alteração, de processos lineares e não otimizados, no sentido da economia circular, terá sempre muito impacto.
Existem diversas entidades que disponibilizam, ou estão em vias de disponibilizar, ferramentas para ajudar as PME no seu caminho rumo à sustentabilidade:
O IAPMEI tem uma ferramenta de autodiagnóstico ESG para PME que pode ser utilizado para obter, de forma rápida, informação sobre o estádio de desenvolvimento em que se encontram, face às exigências e expectativas do mercado.
A ADENE dispõe do sistema de classificação eCIRCULAR, através da qual as empresas podem solicitar avaliação, por auditores qualificados, e, no final, obtêm uma classificação de A+ (a melhor) a F (a pior) e a indicação de possíveis melhorias. O sistema eCIRCULAR permite às organizações dinamizarem ações e obterem resultados práticos e evolutivos ao nível da economia circular, ajudando a acelerar a transição para uma economia circular.
A EFRAG (European Financial Reporting Advisory Group), estrutura de peritos da UE responsável pelo desenvolvimento dos standards de reporte europeus para a sustentabilidade, está também a trabalhar numa proposta de normas para relato voluntário dirigida ao universo de PME que, para já, não estão obrigadas ao reporte CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive; em português: Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa).
Nunca devemos esquecer que a sustentabilidade perfeita não existe, todos os esforços são válidos e feito é melhor que perfeito!
Acima de tudo, não deixemos que os mitos limitem as nossas ações. Nem para nos paralisar por sentirmos que são pouco impactantes, mas também não esperar que uma ação isolada tenha um impacto gigante. Há tantas coisas que podemos fazer que é uma pena se ficarmos só por uma!
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