Felipe Miranda: Censura; 18 anos
💥️Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research
(Tirem as crianças da sala.)
As palavras a seguir descrevem cenas de sexo e nudez, além de desafiarem a cartilha montada para uma newsletter politicamente correta. Aviso: o texto também relata maus tratos a animais. Censura: 18 anos.
À frente dos discursos ditados para os temas de minorias sociais, igualdade de gênero e multiculturalismo, está, ao menos neste espaço, o interesse do investidor.
Esclarecimento que deveria ser desnecessário: é uma piada e uma metáfora, contada porque oferece uma imagem útil para nos ensinar uma importante lição subjacente para a gestão de recursos e construção patrimonial – nosso cérebro não é treinado para planilhas e equações, mas para imagens e boas histórias; por isso os mitos e as imagens são tão ricos. Não se pretende ofender ninguém. O pobre redator é um defensor dos animais e acha os camelos bichos bem fofinhos.
Aconteceu assim:
O sujeito estava há vários meses sozinho no deserto sob um calor escaldante. Montava um camelo dócil, sua única companhia naquela imensidão de areia. Devia estar uns 75 graus Celsius na sombra – isso é, se houvesse sombra.
Era um camarada precavido e, portanto, dispunha de água e comida. Não era esse seu problema. Mas o cara tinha hormônios à flor da pele. Sempre manteve uma vida sexual bastante ativa, de tal modo que a abstinência da troca de fluídos começava a lhe dar nos nervos. Mega-Sena acumulada e tal. O tempo foi passando e o sujeito estava subindo pelas paredes – isso é, se houvesse parede.
Ele não aguentava mais. Estava morrendo de tesão. Podia perceber a vasodilatação pulsando em miniespasmos repetidos em alta frequência. Sem mais conseguir esperar pelo encontro com alguma mulher (até o momento, se dizia 100 por cento heterossexual), resolveu: “Eu vou transar com este camelo”.
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Apeou, colocou os pés no chão e dirigiu-se para trás. Quando levantou o rabo do animal, o bicho caminhou alguns passos para frente. Tentou uma vez mais. Outra caminhada para frente. Desistiu. “Ah, deixa pra lá. Essa ideia era mesmo péssima. Onde já se viu querer transar com um camelo? Vou voltar para minha travessia quieto”.
Subiu no arreio e retomou a trajetória. Uma semana depois, voltou a ser perturbado por aquele calor interno insuportável. Fogachos intensos despertavam-lhe dores físicas na região da pélvis. “Quer saber? Eu vou pra cima deste camelo mesmo”.
Apeou de novo, foi para trás. Preparar, apontar… outra falha. Quando ia empenhar-se no ato, mais uma caminhada das corcovas (no plural, pois não era um dromedário) para a frente. Ele tentava iniciar o coito e o bicho andava. Não conseguia segurar o animal e seguir com os planos mirabolantes. “Ah, desisto. Isso não faz mesmo sentido”. Volta a se dirigir para o lado do camelo, monta de novo e retoma a travessia.
Passa uma semana e ele retoma aquela ideia fixa. De novo, acontece rigorosamente a mesma coisa. E de novo. E de novo.
Até que, na sua décima-quarta tentativa, no exato momento em que desce do camelo, olha para a frente e percebe 40 mulheres maravilhosas correndo em sua direção. Uau! Que visão. Seus problemas estão finalmente resolvidos. Ele está muito entusiasmado. O período de camelos magros está prestes a acabar. Então, vendo as mulheres lindamente se aproximando com cabelos esvoaçantes, ele solta um grito estridente: “Pelo amor de Deus, alguém segura este camelo!”.
Resumo da história: esse lance de foco é legal, mas não é tããão legal assim. É importante ter uma filosofia e um método de investimentos. Agora, sem que isso impeça olhar para os lados, reconhecer um novo cenário à frente e alterar a rota planejada conforme se apresentam outras oportunidades e outros desafios.
“Uma mãe suficientemente boa”, resume Freud para prescrever a maternidade desejada. Ser “boa” é adequado, mas ser “boa demais” forma filhos excessivamente mimados, insaciáveis e despreparados para as adversidades. Em investimentos, precisamos ser suficientemente focados.
A grande arte está em encontrar o equilíbrio entre as ambivalências: precisamos de convicção no método e nas teses, sem que isso se transforme em teimosia – havemos de ser flexíveis sem sermos “mãos-fracas”.
Já escreveram sobre a era dos extremos, a era da turbulência, a era da incerteza, a era da intolerância, até sobre a era da felicidade (eu adoro o Contardo Calligaris). Se eu tivesse de cravar uma qualificação para o sinal dos tempos, batizaria de a era da adaptabilidade.
Há tanta informação chegando e as coisas mudam tão rápido que o grande diferencial não é uma posição momentaneamente vantajosa, mas, sim, sua capacidade de adaptar-se ao novo. Se você quer aprender algo, aprenda a aprender.
Tudo se transforma muito rápido (uma empresa, um setor, uma tecnologia, um governo) e o vencedor, ao final do processo, não é o então líder de mercado, o mais inteligente, o detentor da atual melhor tecnologia, o incumbente. Nem mesmo aquele que chega com uma nova disrupção, porque o disruptor de hoje é o disruptado de amanhã – com o perdão do neologismo.
Como escolher investimentos num cenário cambiante assim?
Ações, por exemplo, são tipicamente instrumentos de longo prazo, pois representam uma pequena parcela do capital de uma empresa, e empresas obedecem, claro, a ciclos empresariais, cuja extensão difere da velocidade com que os up e downticks se alternam entre verde e vermelho na tela do seu home broker.
Agora pergunto: num mundo exponencial, em que tudo muda muito rapidamente e ninguém sabe qual será a próxima disrupção, como antever o que será o longo prazo? É uma impossibilidade lógica: se já soubéssemos qual será a disrupção de amanhã, nós mesmos a promoveríamos hoje.
Não há como saber. Ponto. Há aqueles que admitem não saber, os que erradamente acreditam saber e os que fingem ou mentem. O primeiro grupo é o menos pior.
Para mim, não há instrumental analítico pronto para analisar ações sob a ótica fundamentalista num mundo exponencial. Estamos em mares nunca dantes navegados. Comprar Mercado Livre a infinitas vezes lucros pode render ótimos resultados, mas é um exercício de fé, não de valuation – e tudo bem que seja assim; o ponto nevrálgico é que não se alinha à cartilha fundamentalista canônica.
Eu adoraria que houvesse um arcabouço técnico pronto para usarmos e sermos felizes, mas não há. É triste, mas é o que é.
O que nos resta? A diversificação, que, como diria Warren Buffett, o pai do instrumental analítico fundamentalista, é a arma daqueles que não sabem o que estão fazendo. Seja muito bem-vindo.
Em vez de tentar adivinhar qual a próxima dica quente, o investidor poderia reduzir o tamanho de suas posições, espalhando-as por outras ainda não presentes em sua carteira – se o puder fazer com ativos sem correlação ou com correlação negativa com os já detidos em seu portfólio, um tanto melhor.
No pré-carnaval, 40 homens e 40 mulheres podem correr em sua direção. Dê-lhes o destino apropriado.
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