Sidnei Nehme: Precipitação em precificação impõe ajustes nos desajustes
💥️Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
“A pressa é inimiga da perfeição” diz o velho ditado, assim o que se tem visto na prática no mercado financeiro brasileiro nada mais é do que a confirmação deste fato, o que fica evidenciado pela falta de tendência sustentável nos inúmeros segmentos, face ao contexto binário presente nas expectativas que se alicerçam predominantemente nos anseios e num otimismo, neste momento, exacerbado.
A qualquer fato novo que possa induzir para um contexto provavelmente melhor ou pior, as reações são imediatas como se estivessem tratando de fatos consumados e não somente prognosticados ainda que sem base fundamentalista, mas querendo precipitar a consumação dos fatos e seus efeitos acaba por demonstrar as fragilidades em posturas mais ancoradas em “emoção do que na razão”.
Simples assim, facilmente perceptível, e, o pior, no Brasil tem se tornado ocorrência repetitiva e contumaz, enganosamente sinérgica com situações ainda sem fundamentos concretos ou críveis.
A Reforma da Previdência, necessidade imperiosa para que o governo busque equacionar, ainda que parcialmente, o severo quadro negativo da crise fiscal com a qual convive o país e que lhe inibe o ambicionado deslanchar da atividade econômica e o alcance de todas as benesses consequentes, tem centralizado as atenções.
E desta forma qualquer movimento ou manifestação concreta por parte do governo acerca da Reforma da Previdência, prioritária entre tantas necessárias, ocorrem movimentos precipitados nos ativos como se a relação causa-efeito fosse imediata, ignorando, no primeiro momento, o longo período de tramitação em perspectiva e o grau de dificuldades relevantes que certamente haverão na trajetória do embate e debates acerca da matéria nos mais diversos níveis e que poderão provocar forte diluição dos pontos objetivados.
Então, ocorre o que já denominamos “Cai a ficha” e ocorre o ajuste dos desajustes e isto tem ocorrido de forma pontual ocasionando a volatilidade e movimentos mutantes consideráveis na correção.
Pode-se atribuir o fato à ansiedade presente, mas há também um movimento “especulativo oportunista” que procura se ancorar, no primeiro momento, numa linha que leva a se supor que haja fundamentos sustentáveis, o que quando ocorre mais rigorosa reflexão acaba sendo revertido e exaurido por insustentável.
O Brasil precisa da Reforma da Previdência de maneira vital, se assim podemos qualificar, por ser de extrema importância e necessidade, mas haverá debates e embates de longa duração no entorno da questão e a mesma poderá sofrer até alguma diluição no seu contexto inicial.
A nossa economia real continua a mesma, a demora intransponível para consumação das diretrizes governamentais focando a retomada da atividade econômica já conduz à correção as projeções de melhora considerável do crescimento do PIB neste ano.
Os demais fundamentos como contas externas, reservas cambiais, déficit em transações correntes, inflação e juro estão “prontos” para conviver com fatos novos que determinem a superação da crise fiscal e recoloquem o país na trajetória do crescimento.
Mas o imponderável, o tempo para que se conquistem os meios de equacionamento da crise fiscal se evidencia muito superior à efetiva necessidade do país, e isto, sem fazer retroagir o otimismo prevalecente, fortalece a ansiedade ante um quadro de muitas incertezas e poucas certezas neste momento.
Então, a ansiedade proporciona este movimento volátil no comportamento dos mercados, e provoca a retração dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, contrariando as otimistas previsões de grande afluxo de recursos ao país.
Certamente, ainda serão necessários alguns meses para que se tenha um quadro mais evidente do que será e como será possível a Reforma da Previdência, e até lá obviamente continuarão surgindo novas colocações acerca da gama de problemas com que se defronta o país, mas sem que se viabilize a questão central para a crise fiscal, qual seja a Reforma da Previdência, tudo o mais não terá a dinâmica e a rapidez ambicionada.
A partir de amanhã, quando está programada a apresentação do texto da Reforma Previdenciária, o país estará com suas atenções centradas no andamento da mesma e a cada lance poderão ocorrer reações as mais diversas, o que sugere que ainda teremos muita volatilidade antes que se conquistem tendências fundamentadas e críveis.
Contudo, será imprescindível que não se confunda movimentos nesta fase de indefinição e muita expectativa como tendência, o que talvez somente seja possível a partir de junho ou julho quando, espera-se, haverá melhor evidências do que resultará em suas linhas efetivas a Reforma da Previdência.
É muito provável que o país mantenha seus indicadores como contas externas, reservas cambiais, déficit em transações correntes, inflação em linha de estabilidade, devendo ocorrer, contudo, revisão para pior do crescimento do PIB e, muito provável, redução da taxa SELIC, face a inércia da atividade econômica neste período de transição.
Será um grande teste para o novo governo que deverá mostrar a sua capacidade de superar a estagnação decorrente da lentidão da Reforma da Previdência, com iniciativas concretas em outras áreas visando complementarmente também a desoneração fiscal do País, tais como as privatizações que poderão atrair capitais estrangeiros ao país.
No nosso entender ainda haverá um considerável período para que o dólar descole do seu ponto de equilíbrio entre R$ 3,70/3,75 de forma sustentável e como tendência para preço menor, e, da mesma forma, a Bovespa possa galgar índices acima de 100 mil pontos.
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