Sidnei Nehme: Fatos evidenciam “foco do Brasil é o Brasil”, o “demais” tem efeito só marginal!

Brasil está refém da sua própria situação e “assiste” o que se desenrola no cenário mundial

💥️Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Os fatos recentes deixaram inconteste que o nosso mercado financeiro tem repercutido em linha nos seus segmentos, sem afastar inclusive uma intensificação mais especulativa neste ou naquele segmento, o “status quo” do Brasil e, fundamentalmente, a sua crise fiscal, que se não equacionada inviabilizará a governabilidade do novo governo, e isto faz com que a Reforma da Previdência seja o ponto central das abordagens e tensões, ou seja, evento maior.

Tudo o mais, como problemas China-USA, Brexit, União Européia, etc.. etc.., são fatos que circundam a economia global são ocorrências meramente marginais, aos quais se tem o hábito de atribuir influência na formação dos preços dos nossos ativos e tendências muito maiores do que efetivamente detém capacidade ou importância neste momento.

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O Brasil, no momento, está refém da sua própria situação e “assiste” o que se desenrola no cenário mundial, mas está efetivamente um tanto quanto alheio dado a situação extremamente “binária” de suas perspectivas gerais, o que o deixa na situação de que enquanto não viabilizar-se e superar seus próprios desafios não será protagonista do contexto mundial, meramente estará envolvido em si próprio.

A fortíssima reação dos principais ativos do nosso mercado financeiro, em especial dólar e Bovespa, mixando reações emocionais e intempestivas, afastando-se da racionalidade, deixa evidente o quanto o país está sensível a todo o contexto de fatores que cercam a tramitação da Reforma da Previdência.

O ambiente no Brasil envolve descompassos políticos, jurídicos e de foco na questão central, e havendo uma intensidade absolutamente inconsequente de ruídos em torno dos inúmeros vetores, ocorre um sentimento de balbúrdia “no sense”.

Não acreditamos que os desarranjos ocorridos no mercado financeiro decorram das medidas jurídicas envolvendo o ex-Presidente Temer, meramente um fato coincidente num momento nefasto das discussões em torno dos alinhamentos em torno da tramitação da Reforma da Previdência.

Muitas falas, muitos ruídos, muitos egos, enfim falta de foco efetivo no principal e uma desconexão quase geral coloca em risco a evolução do que é principal.

Há claramente um embate entre o Executivo e o Legislativo quanto a forma de condução da tramitação da Reforma da Previdência. O Legislativo reivindica maior ação de articulação política por parte do Governo, do Executivo, enquanto este não quer abrir conversações que ensejem o “tradicional toma lá dá cá” e atribui a responsabilidade doravante de condução da matéria ao Congresso. Esta nos parece a questão, simples assim.

Contudo, as falas inapropriadas de todas as partes tumultuam cada vez mais o ambiente que circunda as discussões da Reforma e assim afloram os egos e os impasses tornam obscuras as perspectivas em torno da matéria.

O país, por assim dizer, está num “corner” e se não avançar na questão que já causava efeitos revisionais nas perspectivas econômicas mais imediatas, com ênfase ao crescimento do PIB, geração de emprego, renda e consumo, poderá colher danos maiores.

Então, embora alarmistas e até exacerbadas sejam naturais as reações no comportamento da Bovespa, principalmente, e muito relativas em torno do dólar, já que o país tem uma situação de conforto neste quesito, mas é natural que a “emoção predomine sobre a razão” nestes momentos, causando prejuízos a muitos e com o passar do tempo sejam reposicionados a suas efetivas realidades.

Volatilidade deve ser o perfil de todos os segmentos, mas no caso do dólar entendemos que o BC deva meramente observar e não intervir, até porque o país tem uma situação bastante confortável neste segmento, com contas externas em ordem, déficit em transações correntes equilibrado, reservas cambiais robustas, BC dispondo de estratégias operacionais, se necessárias, adequadas e não havendo sinais de saída de recursos estrangeiros do mercado em nível preocupante.

Os fatos presentes certamente provocarão retardamento ainda maior do esperado fluxo de investimentos estrangeiros, podendo até inibir de forma mais expressiva as expectativas ainda remanescentes para este ano.

O conjunto de fatos negativos e preocupantes presentes, certamente, a partir dos fundamentos, deverá ter maior sustentabilidade na inibição da alta na Bovespa e menor no preço do dólar, tido sempre como principal termômetro em crises, mas o país, diferentemente de oportunidades anteriores, não tem vulnerabilidade neste ativo.

Por enquanto, o ambiente nefasto e desgastante entre os Poderes do País deverá persistir fazendo o emocional predominar, pois há muitos desacertos de todas as partes.

Volatilidade!

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