Inebrie-se pelo bom humor dos mercados financeiros
(Imagem: Pixabay)
Por Fernanda Consorte
Para quem senta atrás de telas de cotações financeiras, este mês tem sido de otimismo e comemoração. O motivo (justo, embora talvez pontual) foi a votação da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados em primeiro turno, a qual mostrou um quórum altíssimo para um período pré-férias e um placar de vitória avassaladora para o “sim”. O mercado financeiro abraçou o modo de sistema “quase-parlamentarista” que estamos vivendo e seguiu a vida em festa.
De fato, segundo uma pesquisa recente de uma grande instituição financeira, houve um vertiginoso crescimento na confiança com o cenário político-econômico. Notem, porém, que a pesquisa se restringiu aos agentes do mercado financeiro, e foi realidade entre 11 e 12/julho. A avaliação boa ou ótima do governo Bolsonaro foi de 55% nessa data, vindo de míseros 14% em maio, quando tínhamos muita incerteza em relação ao processo de aprovação da Reforma da Previdência.
E não à toa, as expectativas em relação ao governo Bolsonaro também registraram alta entre os agentes econômicos: o resultado foi de os mesmos 55% de avaliações positivas; em maio, a taxa foi de 27%. Porém, o destaque da pesquisa, na minha opinião, foi o índice de avaliação positiva do Congresso, que alcançou 86% (!!!!), quando a média dessa informação roda a 30%. Que isso, hein, Presidente Rodrigo Maia?
Diante desses números, meus amigos leitores devem estar se perguntando: “Bacana, Av. Faria Lima, mas e eu com isso?”. Bom, já venho repetindo em diversos textos e vídeos a importância da confiança dos agentes, que incluem principalmente os empresários e os consumidores. A força motora da recuperação econômica virá desses vetores, e não somente do mercado financeiro. Então, meus amigos, inebriem-se com o bom humor dos mercados financeiros dessas últimas semanas, é isso que estamos esperando.
Embora os livros-texto sugiram que o mercado financeiro costuma antecipar movimentos da economia real, caso não se concretizem, o ajuste dos preços dos ativos pode vir a galope. Em português claro, do mesmo jeito que vimos a taxa de câmbio baixar dos R$/US$ 4,10 aos R$/US$ 3,80 rapidamente quando o presidente Rodrigo Maia demonstrou forte intenção de aprovação da reforma, a não efetivação de aumento da confiança dos empresários e consumidores pode frustrar o mercado (de novo) na questão de retomada de crescimento, e daí, já viram… voltaremos ao cenário ruim (worst-case scenario, no economês chegado no inglês) que vimos em meados de maio, quando o câmbio alcançou patamares acima de R$/US$ 4,00.
Quero mesmo acreditar que o otimismo seja contagioso. Vira essa boca para lá se o Senado encrespar no texto da Reforma; a outra possível PEC de Reforma de Estados e Municípios não acontecer; se acabar a lua de mel com o Brasil “quase-parlamentarista” e começarmos a nos frustrar com o andamento do governo Bolsonaro. E nem me fale se a confiança dos empresários não aumentar; se os gringos não resolverem investir no Brasil; se de novo não crescermos nem 1% em 2023. Sai para lá, pessimismo; quero me inebriar junto com o mercado.
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