Sidnei Nehme: Tendência de corte de 0,25% pelo FED poderá inibir COPOM, foco no câmbio afeta!

Colunista faz análise sobre o câmbio diante das decisões do FED

Face à leitura preliminar do Bureau de Análises Econômicas que indicou que a economia americana cresceu no 2º trimestre deste ano 2,1%, ante o consenso de 1,8% dos analistas, constata-se que o nível de crescimento é o mais baixo em 2 anos, visto que no 1º trimestre apresentou crescimento de 3,1%.

A desaceleração que ocorre, como salienta análise da ysoke.br, em meio a uma expansão econômica de 10 anos, a mais longa da história, é em parte reflexo da gestão de estoques em torno da introdução de novas tarifas sobre importações chinesas, ilustração mais nítida do conflito comercial que atingiu o crescimento global.

Esse cenário, segundo a ysoke.br, alimentou as expectativas de que o FED proceda no dia 31 a um corte de 0,25% na taxa de juro americana. Houvesse um número pior do que o esperado seria favorável a um corte maior e então, o impacto no mercado acionário seria relevante.

O Brasil está com um fluxo cambial negativo e não é possível vislumbrar no curto prazo reversão desta tendência, muito pelo contrário, e este fato em conjunto com o estreitamento da diferença entre a taxa de juro interna e externa poderá ter forte impacto no custo do cupom cambial.

Este sinal comportamental do mercado já foi detectado algumas vezes.

Na quinta feira o BC anunciou leilão de linha de financiamento em moeda estrangeira com recompra, no montante de US$ 1,0 Bi, para a sexta-feira, consequente da pressão do fluxo cambial seguir negativo e exercer pressões no preço do câmbio no mercado à vista tendente a disfuncionalidade em relação a taxa do mercado futuro, que provocou reflexos imediatos na taxa do cupom cambial.

Então, um estreitamento mais severo entre a taxa de juro interna e a externa com o fluxo cambial mantendo-se negativo poderá provocar disfuncionalidade considerável na formação da taxa do cupom cambial, obrigando até, em último recurso, o BC ter que oferecer não linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, mas efetivamente oferta de moeda do estoque de reservas cambiais definitiva.

Este cenário, nem sempre observado por setores um tanto quanto alheios aos meandros do mercado de câmbio, poderá inibir uma decisão mais aguda do COPOM na redução da taxa SELIC, anseio de mais ou menos 50% do mercado financeiro, considerando a forte tendência do recrudescimento da inflação, consequente da inércia da atividade econômica.

Já temos ressaltado nossa percepção de que não vemos como a economia brasileira ganhar tração efetiva com a Reforma da Previdência e mesmo adicionalmente com a Reforma Tributária, o que leva a perspectiva de retomada já para pós 2º semestre deste ano, ou seja, 1º semestre de 2023, com a condicionante de o governo conseguir fazer prosperar seu programa de privatizações, para o qual é possível antever forte resistência de corporativistas, travestidos de nacionalistas, exercendo todo tipo de protelações.

Este quadro de forte estreitamento do juro interno e externo é impeditivo a qualquer perspectiva de fluxos externos de capitais especulativos para o Brasil, fato costumeiro quando havia intervalo bastante entre estas taxas de juros e que permitiam a formulação de operações de “carry trade” para incursões especulativas no mercado brasileiro.

Desta forma o nosso mercado de juro perde atratividade, da mesma forma que devem ser atenuadas as perspectivas mais favoráveis imediatas para a Bovespa, e isto tudo impacta no fluxo cambial.

Eventual movimento de aversão ao Brasil, não devido ao risco já que o CDS 5 anos está em 123 pontos, mas por falta de atratividade momentânea, a taxa cambial à vista poderá até ficar tendente a disfuncionalidade em relação a taxa futura, e este fato pressionando a taxa do cupom cambial, pode tornar bastante complexo o cenário do câmbio e sua formação de taxa.

Não há, portanto, como se esperar um corte maior do que 0,25% na taxa SELIC, esperando que o FED proceda de forma idêntica, para que as repercussões sejam mínimas.

Não seria descabido, do ponto de vista do câmbio e não do contexto inflacionário e da inércia da atividade econômica, que o COPOM até não sancionasse nenhuma mudança na taxa SELIC, utilizando um subterfúgio de que aguardará o Senado aprovar a Reforma da Previdência, mas tendo como causa efetiva evitar disfuncionalidade maior no câmbio.

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