Felipe Miranda: Poucas e boas sobre a carteira Empiricus

Bobby Fields mandou bem ao cortar a Selic em 50 pontos e sinalizar outras reduções à frente. Não sei se você se deu conta da dimensão da coisa — se não, cheque quanto o Ibovespa subia ontem até Donald Trump ir ao Twitter com sua ogiva nuclear de 140 caracteres. Bebida e rede social: uma combinação perigosíssima. Recomenda-se evitar. Já testei. É explosiva. Ao melhor estilo Suicide Solution, do Ozzy Osbourne: “Wine is fine, but whisky is faster”. Suicídio digital.

O juro básico brasileiro vai a 5 por cento ao ano e por lá, talvez até mais para baixo, ficará por um tempão. Isso vai transformar toda a estrutura e a natureza do mercado de capitais brasileiro. Não é uma coisa pontual ou circunstancial. Falo da constituição do caráter, daquilo que sempre caracterizou a essência do paraíso do CDI. Historicamente, o único produto realmente bom no Brasil foi o CDI — contrariando o livro-texto, em vários e vários momentos, o prêmio de risco de mercado por essas bandas foi negativo. Agora, meu caro, a gente vai precisar brincar de outra coisa.

Em outras palavras, neste exato momento passa bem à sua frente um elefante voando. Se você ainda não entendeu que ações são “the only game in town” (o único jogo da cidade), eu gostaria de insistir nesse ponto uma vez mais. Cíclicos domésticos, consumo, incorporadoras e durations longos em Bolsa… aí vamos nós! Falo mais disso daqui a pouco.

Escrevi duas vezes para o Beto pedindo uma agressividade adicional na redução da Selic. Eu nunca te pedi nada… “Felipe, você sempre fala isso.” Ah, fazer o quê? Seria pretensão ridícula achar que o presidente do Banco Central atendeu ao meu pedido. Eu, confesso, não me importo em ser ridículo. Lembro sempre de James Hillman: somos todos um grande escândalo. Mas tem limite até para ser ridículo, embora alguns o desconheçam. Obviamente, ele sequer está no trio de leitores desta newsletter.

Não esperava qualquer reciprocidade, mas, sabe, a vida é meio curiosa. Essa relação entre “pedido” e “Beto” parece ter preservado certo laço. Agora, porém, com inversão da seta. O Beto, não o Bobby Fields, nem o Axelrod… O nosso Beto, o maior gênio de conversão digital do Brasil, me pediu para entrar no Instagram, o que fiz ontem, com a devida autorização da Gabi — manda quem pode, obedece quem tem juízo. Aquela coisa, né? Happy wife, happy life.

Então, se você é uma das duas pessoas que gosta das ideias aqui colocadas, fica o convite para me seguir lá também: https://www.instagram.com/ofelipe_miranda/. Não quero ali deixar dicas pontuais do que comprar ou vender. Não é esse o propósito, embora uma vez ou outra elas até possam pintar por lá.

Também não faz meu estilo ficar ditando regra de investimentos e criticando métodos alheios — sabia que hoje uma forma conhecida de atrair seguidores e likes é entrar sistematicamente em perfis grandes e ficar criticando o terceiro de maneira severa? Assim, atrai-se a atenção do público do outro para si. É uma tática rasteira, obviamente, porém funciona. Eu não julgo, mas também não compactuo.

Gostaria apenas de passar lições e filosofias que funcionaram para mim, como investidor e também como empresário. Quem sabe elas também venham a servir para você?

Ali vai estar publicado a fundamentação teórica, metodológica e filosófica que acaba desembocando em termos pragmáticos na Carteira Empiricus, essa, sim, a minha (com a mais do que importante ajuda da equipe, em especial dos brilhantissíssimos João Piccioni e Fernando Ferrer) reunião sintetizada do que comprar, na prescrição de um portfólio que considero ideal para o investidor. Aquilo que eu estaria comprando para mim, nos mais variados mercados, em quais proporções e quais ativos em cada classe.

É dela que gostaria de falar nesta sexta-feira. Acaba sendo também um pouco do que você vai encontrar no meu Instagram.

Talvez a coisa mais fundamental da Carteira Empiricus, que permeia tudo ali dentro e que inclusive a diferencia de qualquer outro produto por aí, é o rigoroso ceticismo sobre si mesmo. Não acredito em portfólio perfeito ou ótimo. Admito usar o termo “ideal” apenas no sentido de que se refere a uma boa ideia, não na concepção de otimização, certeza ou perfeição. O perfeccionismo é uma falsa virtude, pois é paralisante. Se você busca ser perfeito, acaba não tentando nada. Não se exponha a várias e várias situações que poderiam ser boas. Você tenta pouco. E o investimento é um processo como a própria vida, que se manifesta em sua completude por tentativa e erro. Life is long gamma.

Duvido de mim mesmo. Não acho que possa tecer teses políticas, econômicas ou empresariais melhor do que ninguém. Mesmo porque, a cada tese, eu mesmo proponho, imediatamente, a sua antítese. E como sabemos que os embates dialéticos não são vencidos por superação positiva (nem sempre ganha o debate a melhor teoria, mas apenas aquela com as melhores regras de retórica; ler Persio Arida e Deirdre McCloskey para se aprofundar no tema, ou até mesmo Schopenhauer, em “Como Vencer Um Debate Sem Precisar Ter Razão”), as sínteses encontradas muitas vezes são inapropriadas.

Por mais que conte com uma equipe grande e muito inteligente, a verdade é que há muita gente inteligente por aí. O mercado é muito eficiente, principalmente do ponto de vista informacional. É muito difícil você saber mais do que esse cara.

O resultado prático disso é um portfólio com muita diversificação, nenhuma ou pouquíssima alavancagem e uma porção de proteções. Warren Buffett já disse que a diversificação é a arma daqueles que não sabem o que fazem. O problema é que normalmente nós não sabemos mesmo.

Você precisa ter coisas ali que desafiem suas próprias convicções, que se relacionem de forma negativa, para você sobreviver aos seus próprios erros. Esses são os tais ganhos da diversificação que renderam um prêmio Nobel a Harry Markowitz. Ou aquilo que faz Ray Dalio, o maior gestor do mundo, chamar a diversificação de o Santo Graal dos Investimentos. Nunca pense em qual o ativo certo para comprar. Sempre pense em qual a diversificação certa para o momento. Selecionando algo acima de dez ativos (corretamente, claro), você pode ter uma dramática redução de risco de seu portfólio, sem abrir mão de retorno potencial.

Se você dispõe de algo assim na mão, tem algo parecido com o que Ray Dalio chama de All Weather Portfolio, uma carteira para todos os climas, todos os tipos de mercado. Na proposição dele, esse portfólio teria 40 por cento em bonds (títulos de renda fixa) de longo prazo, 15 por cento em bonds de vencimento intermediário, 30 por cento em ações, 7,5 por cento em ouro e 7,5 por cento em commodities. A Carteira Empiricus não está exatamente assim, mas preserva boa semelhança.

Se temos um portfólio para qualquer mercado, podemos abraçar tudo o que o destino vier a nos reservar. Não se reclama. Há trabalho e enfrentamento da realidade, tal como ela é. A prática dos investimentos requer o Amor Fati de Nietzsche, no que coincidentemente concordamos, eu e Mark Spitznagel.

Voltando ao ponto central, se não sabemos o que vai acontecer (de fato, não sabemos; desconfie muito fortemente dos que sabem), precisamos sempre nos perguntar: o que aconteceria comigo (e com meu portfólio) caso se materializasse um cenário muito negativo? E caso fosse algo muito positivo? Você compra aquilo que lhe fere pouco no caso ruim, e paga muito no caso bom. O nome disso é convexidade.

Por isso, você não vê na Carteira Empiricus crédito privado e sempre vê alguns pozinhos, sejam eles na forma de opções fora do dinheiro ou de algumas ações fora do dinheiro — Helbor (HBOR3) e Oi (OIBR3) são os nome do momento. Aposte centavos para ganhar dólares, nunca aposte dólares para ganhar centavos.

No asset allocation, minhas principais apostas são juro longo e Bolsa, com foco em small caps. Fique claro: protegidas com dólar, ouro e algumas puts (opções de venda).

Por que ainda ter juro longo? Na minha opinião, as pessoas ainda não entenderam o caráter estrutural dessa história de juros baixos no mundo. Não se trata de uma conjuntura, de contingências pontuais ou circunstâncias. Ora, veja o seguinte: o juro é baixo ou até mesmo negativo, fundamentalmente, por demografia e tecnologia. Esses são elementos concretamente deflacionários e, claro, estruturais, não conjunturais.

O mundo vai ficar cada vez mais velho e tecnológico. Não tem volta. É como uma linha do tempo. Só anda numa direção. Então, a pressão tende a ser justamente cada vez mais deflacionária, a empurrar os juros ainda mais para o campo negativo. Logo vamos discutir um processo de catching-up dos emergentes para os desenvolvidos não somente em crescimento, mas também em juros — podemos ter juros reais zerados nos emergentes, sim. Esse debate vai ganhar vida nos próximos anos, quem sabe meses. Uma NTN-B pagando mais de 3,7 por cento de juro real ainda é uma extraordinária oportunidade, pois o ordinário agora é o juro zerado mesmo.

E Bolsa por uma razão um tanto simples: ação, no fim do dia, anda com aumento dos lucros. Isso ainda não aconteceu. Até agora, foi só compressão dos prêmios de risco e queda das taxas de desconto por conta do juro mais baixo (lembre que o juro vem ainda mais para baixo). Ninguém tem ações brasileiras ainda (nem pessoa física, nem institucional macro, nem gringo) e isso está barato.

Para mim, banco vai voltar a andar uma hora — grande e poderoso demais para ser ignorado, a despeito das ameaças de disrupção. O único problema de banco é que dá lucro demais e nego está preferindo entrar no papo descolado de fintech que dá prejuízo, mas cresce base de cliente muito rápido. Paletas mexicanas cresciam a base de cliente muito rápido. Tem muita coisa legal em elétricas também. Consumo e incorporadoras vão com juro e melhora do affordability. Outro tema bacana até o final do ano pode ser normalização da malha aérea depois dos problemas com a Avianca no primeiro semestre — CVC (CVCB3) e Smiles (SMLS3) podem ser cavalos bacanas; sobre Smiles, do mesmo jeito que tem limite para ser ridículo, há também limite para roubo e desalinhamento com minoritários (ação absurdamente barata nesses níveis).

Se a Guerra Comercial poderia ser um problema? Claro que poderia. Tudo pode. Mas, sinceramente, não é meu cenário-base. Contraintuitivamente, pode até ser um driver positivo por vias indiretas. Jerome Powell será obrigado a cortar mais uma vez os juros nos EUA e isso é driver claro para emergentes. Veja o quanto esses mercados andaram a partir de uma mudança de sinalização do Fed para algo mais brando.

Em resumo, essa é minha cabeça para a Carteira Empiricus.

No filme “Poucas e Boas”, do gênio Woody Allen, Emmet Ray (Sean Penn), entorpecido pela vaidade, pelos vícios imorais e pela infidelidade, demora a perceber o quanto foi tolo ao deixar Hattie (Samantha Morton), uma humilde e simples mulher. Com efeito, a simplicidade é a maior das sofisticações.

Encerro hoje com um convite para uma atitude simples, mas que se desdobra para um portfólio altamente sofisticado para pessoa física, para que ela jogue a Champions League dos investimentos. Foi para isso que fundei a Empiricus, para dar uma pequena contribuição na redução do gap entre as famílias ultrarricas e o cidadão comum em finanças. E é por isso que emprestamos o nome da nossa empresa a esta publicação — com muito orgulho, a Carteira Empiricus oferece uma rentabilidade teórica, devidamente medida e publicada, de 240 por cento do CDI desde sua criação, há cinco anos.

Eu gostaria de convidar você para assinar a Carteira, aproveitando a condição mais do que especial do Empiricus Day. Hoje batemos 350 mil assinantes. Essa é uma pequena retribuição aos leitores por toda a confiança.

E se você gostou da ideia, mas não necessariamente quer assinar hoje, pode se expor à mesma filosofia e aos mesmos preceitos investindo no fundo Carteira Universa , da Vitreo Gestão, que foi criado justamente para perseguir a Carteira Empiricus fidedignamente, após uma segunda diligência da própria equipe de gestão. Segundo informação da Vitreo, o fundo deve passar hoje de 250 milhões de reais de patrimônio — como ele será fechado para novas captações ao atingir 300 milhões de reais, fica a indicação de você aproveitar essa janela de oportunidade enquanto estiver aberta. Ela deve se encerrar em pouquíssimos dias.

O que você está lendo é [Felipe Miranda: Poucas e boas sobre a carteira Empiricus].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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