BBCE prevê ter até outubro aval para operar com derivativos de energia elétrica
Segundo Ratto, a BBCE tem sido sondada por pelo menos três bancos que têm demonstrado interesse em operar com os derivativos de energia (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)
A plataforma eletrônica de negociação de contratos de energia elétrica BBCE espera obter até outubro um aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para atuar como operadora de mercado de balcão organizado, o que permitirá oferecer a clientes negociações com derivativos de energia, disse à Reuters o presidente da empresa, Carlos Ratto.
Operações com derivativos de energia, nas quais investidores podem na prática realizar apostas na evolução dos preços ou buscar proteção contra sua variação, já têm sido realizadas entre agentes e registradas na bolsa B3, mas a ideia da BBCE é oferecer negociações em tela desses contratos.
A diferença entre essas operações e os negócios tradicionais de compra e venda de energia, registrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), é que elas são puramente financeiras, e não envolvem a entrega física de eletricidade ao comprador.
Com isso, os agentes que pretendem operar com os derivativos não precisam aderir à CCEE e participar do mercado físico de energia, o que deverá abrir espaço para a entrada de outros agentes nas transações, como bancos e fundos de investimento, disse Ratto.
“Entramos com o pedido junto à CVM em meados de fevereiro… em setembro ou outubro esperamos obter essa licença. É o primeiro pedido desse tipo feito depois da criação da Cetip. Desde então não houve nenhuma outra autorização”, destacou o executivo, que foi diretor da Cetip e da B3 antes de ser contratado para a BBCE neste ano.
“Meu setor é o financeiro, e o que queremos agora é essa aproximação do mercado de energia com o financeiro, esses são os planos”, disse ele.
Segundo Ratto, a BBCE tem sido sondada por pelo menos três bancos que têm demonstrado interesse em operar com os derivativos de energia, com expectativas de que fundos e empresas do setor elétrico também façam negócios.
“A gente já percebe uma ou outra comercializadora (de energia) fazendo, mas hoje eles só conseguem registrar na B3. Já começamos a ver (demanda), e vamos encorpar isso. Estamos até pensando em no início possibilitar ‘trading’ sem cobrar, provavelmente”, afirmou ele, destacando que a ideia é criar volume nas operações.
Os contratos negociados na BBCE deverão ser a princípio semanais e mensais, envolvendo sempre liquidação contra o preço spot da energia, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), calculado semanalmente pela CCEE e utilizado como referência também em negociações no mercado físico.
Inicialmente, o risco de crédito das operações será bilateral, mas a ideia é evoluir em algum momento no futuro para um mercado de bolsa, no qual a BBCE seria contraparte central de todas as transações, que seriam garantidas por uma clearing house.
Ainda não é possível dizer, no entanto, em quanto tempo seria possível avançar para esse mercado, uma vez que isso dependeria tanto da liquidez das operações quanto de evoluções regulatórias no setor elétrico, disse Ratto.
“Não quero travar uma data… mas acredito muito que vamos chegar (algum dia) a um mercado (de energia) de bolsa, como em outros países”, apontou ele.
Entre os desafios nesse caminho, no entanto, estão a grande volatilidade e a complexidade de formação dos preços spot da eletricidade, que poderiam exigir cobranças “absurdas” junto aos agentes para viabilizar operações garantidas por uma clearing.
“Não adianta querer criar uma bolsa agora & o mercado não está preparado, está num estágio de liquidez, de metodologia de precificação, que tem que evoluir até você poder implantar”.
Além das operações com eletricidade, o BBCE pretende negociar também derivativos associados à energia, como de gás, biodiesel, biomassa e etanol.
“O horizonte não é só energia elétrica”, disse Ratto.
Criada em 2012, a BBCE tem como sócias dezenas de comercializadoras, incluindo empresas das gigantes Enel e EDP.
A busca da BBCE por autorização para operar um mercado de derivativos de energia vem em momento em que o governo discute uma reforma regulatória no setor elétrico que envolveria a evolução rumo a um mercado com “bolsa de energia associada a uma clearing house”, segundo documento do Ministério de Minas e Energia sobre os planos de modernização.
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