Argentina joga mais sombra sobre panorama para investimentos na América Latina
Os investidores podem estar mais inclinados a correr para se proteger, em vez de enfrentar a tempestade (Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian)
O clima para investimentos na América Latina está se deteriorando gradualmente, com receios de recessão pela região ganhando força em meio à turbulência do mercado diante da guerra comercial EUA-China e agora também com o súbito choque de instabilidade política na Argentina.
Uma derrota arrasadora do presidente Mauricio Macri nas eleições primárias de domingo desencadeou uma queda histórica nos ativos locais na segunda-feira, e os temores foram sentidos em toda a região, cujas fundações econômicas já pareciam inseguras ultimamente.
O quão profundas e amplas serão as repercussões ainda é incerto, e é preciso argumentar que, como a Venezuela, a turbulência política interna na Argentina não deve ser muito prejudicial para outras economias e mercados da região.
Mas com a perspectiva já começando a se tornar negativa, os investidores podem estar mais inclinados a correr para se proteger, em vez de enfrentar a tempestade.
O aprofundamento do conflito comercial entre os Estados Unidos e China já havia começado a expor as fraquezas das economias e dos mercados financeiros latino-americanos. A China é a maior parceira comercial de muitos países da região que são dependentes dos preços das commodities sensíveis ao comércio.
Dados oficiais nas próximas semanas confirmarão se o Brasil e o México, as duas potências econômicas da região, entraram em recessão no primeiro semestre deste ano. A Venezuela está atolada em crise econômica, e a Argentina agora parece pronta para dar uma guinada no mesmo sentido.
“A confiança dos investidores é um importante canal de contágio, afetando a região”, disse Martin Castellano, chefe da pesquisa da América Latina do Instituto de Finanças Internacionais, em Washington.
“A política tem sido um fator crítico para o sentimento dos investidores desde o início do ano passado… e uma eventual mudança na direção política na Argentina poderia afetar os esforços recentes para promover o comércio intrarregional, o investimento e a coordenação política”, disse Castellano, observando que os países com maior exposição à Argentina via comércio e investimentos, como o Brasil, seriam os mais afetados.
O peso argentino abriu em queda de mais de 4% nesta terça-feira, ampliando sua queda de 15% na sessão anterior. Na segunda-feira, o índice acionário argentino caiu 30% e os rendimentos da dívida soberana do país subiram com investidores preocupados com a possibilidade de inadimplência.
De acordo com estrategistas do Bank of America Merrill Lynch, a América Latina já era a região emergente mais ameaçada pela escalada da guerra comercial EUA-China e queda do iuan para um mínimo de 11 anos antes da surpresa na Argentina.
Colômbia, Argentina e México estão entre os países mais vulneráveis, disseram, graças a uma combinação de amplos déficits no balanço de pagamentos, exposição a fatores econômicos globais e fundamentos domésticos relativamente fracos.
Os orçamentos apertados de governos em países como o Brasil e o México dificultam o uso da política fiscal no combate à desaceleração ou contração do crescimento. Os bancos centrais ficarão cautelosos em reduzir as taxas de juros em demasia, por medo de enfraquecer o câmbio, gerando riscos inflacionários.
“A América Latina aparece como a região mais vulnerável não apenas devido à alta exposição à China e aos preços das commodities (e, portanto, ao agravamento da desaceleração global), mas também porque as ferramentas disponíveis para implementar políticas monetárias anticíclicas são mais limitadas” disseram estrategistas do Merrill Lynch em uma nota na segunda-feira.
Analistas do Citi disseram que o contágio para o resto da América Latina deve ser “razoavelmente ordenado”, mas alertaram que o crédito de alto rendimento é particularmente vulnerável, enquanto México e Colômbia parecem menos resilientes a choques devido a um perfil de crédito enfraquecido e a preços de petróleo mais baixos, respectivamente.
A perspectiva sombria segue a recente explosão de otimismo dos investidores de que o Federal Reserve dos Estados Unidos embarcará em um ciclo de corte de juros que, isoladamente, seria um desenvolvimento positivo para a América Latina, dando mais espaço aos bancos centrais locais para afrouxar a política monetária.
Fundos e especuladores no mercado futuro dos EUA têm aumentado suas apostas no peso mexicano e no real brasileiro nas últimas semanas, segundo dados da U.S. Commodity Futures Trading Commission (CFTC), que regula mercados futuros nos EUA.
Mas temores sobre crescimento estão pressionando duramente as moedas dos mercados emergentes e essas são agora apostas menos atraentes, que os investidores podem ficar tentados a reduzir ainda mais.
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