Por que ocorrem invernos extremos se o planeta está aquecendo?
Não é à toa, portanto, que os recordes globais de calor superem os de frio. Nos Estados Unidos, por exemplo, país que tem as estações do ano mais bem definidas do que o Brasil, os picos de altas temperaturas têm acontecido com duas vezes mais frequência do que os de baixa entre 1999 e 2023 (período analisado em um levantamento feito pela agência de notícias Associated Press).
Dito isso, vale lembrar que a 💥️principal manifestação das mudanças climáticas - causadas pelo aquecimento do planeta - é o aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos.
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Aquecimento global e mudanças climáticas são a mesma coisa?
"Quando injetamos energia - aquecimento global - num sistema que tem um padrão de equilíbrio bastante sensível, podemos gerar instabilidades, que fazem com que esses eventos extremos se tornem não só mais frequentes como também mais energéticos, mais poderosos", afirma Edmo Campos, professor emérito do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo).
Aqui no Brasil, temos sentido na pele as ondas de calor. Nos países do Hemisfério Norte, de clima mais temperado, além dos verões mais quentes, também têm ocorrido ondas de frio extremo, muitas vezes com rajadas de neve.
Os invernos do hemisfério Norte estão mais frios?
Apesar das ondas de frio extremo, os invernos em diversas regiões do hemisfério Norte estão, na verdade, mais quentes.
Uma análise feita pelo Climate Central, um grupo norte-americano de cientistas e comunicadores independentes, mostrou que, em 233 locais dos Estados Unidos, os invernos esquentaram em média 3,8 graus Fahrenheit (2,1 ºC) entre 1970 e 2022.
Há diversos outros exemplos no hemisfério Norte: em 2022 e 2023, a Europa registrou seu segundo período de inverno e outono mais quente da história, de acordo com o Copernicus Climate Change Service, o serviço da União Europeia que estuda as mudanças climáticas. Em janeiro de 2023, grande parte do continente registrou temperaturas até 5 ºC acima da média.
Este ano, no Japão, a temperatura média no inverno (entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024) foi 1,27 ºC acima do normal - a segunda média mais quente já registrada desde que as estatísticas começaram a ser feitas, em 1898, perdendo apenas para a temporada de 2023, de acordo a agência meteorológica local.
Quais são as causas das ondas de frio extremo?
Os cientistas apontam o Ártico como possível origem desses episódios. O aquecimento da região, que ocorre de forma quatro vezes mais rápida que o resto do planeta, altera o vórtice polar, um cinturão de ventos fortes que circunda o ar frio acima do polo Norte.
Em condições normais, o vórtice polar mantém o ar frio contido. Mas, com o aquecimento do planeta e, especialmente do Ártico, ele se torna menos estável e se expande, influenciando o caminho da corrente de jato, que fica mais abaixo na atmosfera e é responsável pelo nosso clima, empurrando, então, o ar frio do Ártico para o sul.
"Isso faz com que o ar muito gelado do polo Norte adentre no Canadá, nos Estados Unidos e na Europa", diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física e coordenador do CEAS (Centro de Estudos Amazônia Sustentável), ambos da USP.
Além disso, as alterações climáticas também podem influenciar as tempestades de inverno, já que a atmosfera esquentada retém mais umidade, provocando chuvas ou nevascas mais intensas.
O Brasil também pode ter ondas de frio?
Até pode e provavelmente acontecerá algumas vezes, mas não serão tão intensas como as observadas no hemisfério Norte.
"Afinal, a nossa distância em relação à Antártica é muito maior do que a distância do Canadá e dos EUA em relação ao polo Norte", lembra Artaxo.
Além disso, nossos invernos são naturalmente mais amenos por estarmos em uma zona de clima tropical.
"O planeta é uma esfera, e o calor do Sol não é distribuído uniformemente por ele: nas latitudes médias, as temperaturas são maiores, enquanto, nas regiões polares, elas são mais baixas", explica Campos.
Fonte: ✅Edmo Campos, professor emérito do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo); Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física e coordenador do CEAS (Centro de Estudos Amazonia Sustentável), ambos da USP; Agência Meteorológica do Japão; Associated Press; Climate Central; Copernicus Climate Change Service; Nasa
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