ChatGPT aprova na OAB, erra biografias: o que muda na escola?
Como se sabe,💥️ o estudante em questão é o ChatGPT, aplicativo de inteligência artificial (IA) de crescimento meteórico. Em apenas dois meses, alcançou 100 milhões de usuários - por comparação, o Facebook levou 4 anos e meio para atingir os mesmos números. Também é quente o debate sobre as implicações do uso da nova tecnologia, sobretudo no mercado de trabalho.
💥️A inteligência artificial vai substituir o trabalho humano? Enquanto a ameaça a parte das profissões parece uma possibilidade concreta - segundo o próprio ChatGPT, há cerca de 100 profissões sob risco, como jornalista, operador de telemarketing e analista de sistemas -, a adoção da IA no campo da educação ainda tem diagnóstico incerto. Em busca de pistas, a coluna ouviu dois especialistas em Educação e um em Tecnologia e Inovações para entender melhor o cenário.
Uma primeira dúvida diz respeito ao uso da tecnologia no dia a dia do ensino e da aprendizagem.💥️ O Chat GPT deve ser tolerado como ferramenta de trabalho? O💥️u ao contrário: é desejável - e possível - bani-lo da educação? Para a diretora-executiva do Instituto Crescer - instituição voltada à formação de professores e à qualificação profissional de jovens -, Luciana Allan, o💥️ recurso pode ser integrado às dinâmicas de estudo se for usado com "inteligência". O papel do professor para chegar lá é fundamental.
"Se o pedido de tarefa for o resumo de um livro, por exemplo, a chance de plágio será grande. Agora, se o docente pedir uma encenação teatral de uma determinada passagem do livro, o aluno provavelmente não vai poder contar com o ChatGPT e vai precisar ter lido a obra", ressalta ela, que também é doutora em Educação pela USP.
O coordenador de graduação de Pedagogia e Letras do Senac EAD e também doutor em Educação pela USP Caio Augusto Alves ressalta que caberá às escolas seguir fazendo o debate sobre autoria e sua relação com a aprendizagem, como já é feito hoje em relação aos trabalhos dissertativos e às provas: "O valor da autoria precisa ser discutido com alunos e com as comunidades escolares, porque ela se relaciona com a função da escola, que é a aprendizagem. Isso já é entendido dentro da escola há algum tempo: alunos que copiam trabalhos não aprendem e esse déficit será percebido facilmente, mais cedo ou mais tarde".
O especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências Arthur Igreja, mestre pela Universidade Georgetown, nos EUA, acredita que será necessário repensar as próprias tarefas escolares a partir dessas novas tecnologias. "Se for para fazer as tarefas da forma como historicamente elas sempre foram feitas, sim, o ChatGPT é claramente um destruidor. Me parece que isso demandará uma nova configuração dessas tarefas. Os trabalhos que eram demandados até então se tornaram insuficientes diante dessa nova geração de ferramentas tecnológicas. Bloquear o acesso será simplesmente tapar o Sol com a peneira, fazendo de conta que toda essa evolução monumental não aconteceu".
Um segundo aspecto diz respeito à formulação de questões adequadas ao Chat - uma necessidade para o bom uso da ferramenta. "O papel do professor é fundamental para levar os alunos a fazer boas perguntas ao ChatGPT", destaca Luciana. Para Igreja, esse processo precisa estar associado à própria formação de senso crítico por parte dos alunos. "Fazer testes, descobrir onde a IA funciona, quais são suas limitações, tentar entender como tirar mais da IA do que os alunos fazem com os buscadores. É o desenvolvimento dessa criticidade que vai ajudar a lidar com ela e aperfeiçoá-la".
Alves destaca que o ChatGPT e outras formas de IA podem atuar em duas metodologias de ensino diferentes: a aprendizagem por problemas ou a por projetos. "Provocar os alunos a conhecer melhor algumas questões para a elaboração de um projeto ou estratégias para solucionar problemas pode levá-los a fazer mais perguntas ao Chat e a aprender mais com ele. Agora que as respostas vêm mais rapidamente, será possível fazer mais perguntas e qualificá-las de forma exponencial".
Terceiro ponto: a partir de qual idade o recurso pode ser utilizado em sala? Luciana defende o uso precoce, argumentando que a adoção dos sites buscadores, como Google e Yahoo, em algumas escolas foi tardia, sendo adotada no Fundamental 2 ou depois. "Quanto mais cedo os alunos puderem ter acesso às ferramentas de pesquisa na Internet, mais rápido aprenderão como pesquisar de forma mais assertiva e assimilararão metodologias para fazer uma pesquisa mais rica e que atinja bons resultados". Ela destaca ainda que a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ao tratar de computação em sala de aula, recomenda a sua adoção nos anos iniciais de formação.
Tanto Igreja quanto Alves também não veem grandes impeditivos ao uso de IA pelos pequenos, desde que sempre acompanhados de uma supervisão responsável - entenda-se, o professor. "É claro que o uso feito pelos alunos precisa ser adequado e pensado de modo crítico, visto que, dependendo da faixa etária, eles podem não estar preparados para fazer solicitações mais assertivas à IA. Um professor pode fazer esses ajustes a depender da qualidade de sua formação e de seu conhecimento sobre IA", acredita Alves.
"É bem difícil estabelecer essa linha de corte, pois depende do tipo de IA que será utilizado. Se nós, por exemplo, enquadrarmos o ChatGPT como IA de texto, seria só depois da alfabetização, embora não seja o que está acontecendo, pois as crianças já interagem com determinadas interfaces, com jogos e atividades, antes mesmo da alfabetização. Então, seja por voz, por joguinhos, desafios, vejo que a IA pode fazer isso desde as atividades mais elementares, com o apoio de um educador, ou mesmo em atividades diretas com as crianças. Dá para usar a partir de qualquer idade, desde que, claro, com supervisão e todos os cuidados necessários", diz Igreja.
Já a ameaça de substituição do trabalho docente pela IA não parece estar no horizonte. Para Luciana, a chave é a formação adequada para tarefas que o Chat GPT não consegue fazer: "Orientar pesquisas, propor reflexões e encontrar as melhores estratégias pedagógicas para desenvolver as habilidades dos alunos", enumera.
Igreja e Alves concordam e também apontam a necessidade de reinvenção dos professores e das próprias escolas, priorizando uma atuação realmente indispensável e intransferível ao gênero humano. "Não substitui o professor nem a sala de aula, não substitui absolutamente ninguém e pode ser uma belíssima ferramenta de estudo, de forma complementar. Pode ajudar a fazer pesquisas, principalmente com as novas possibilidades oferecidas pelo ChatGPT4, diferentemente do ChatGPT 3.5, que ainda tem falhas gigantescas nesse sentido", explica Igreja.
"Se a função da escola for apenas transmitir conteúdos e a do professor, dar aula e avaliar tudo ao final com uma lista de exercícios, então, a inteligência artificial pode substituir tudo isso com certa facilidade. Porém, se a função da escola for produzir aprendizagem e competências, sendo o professor o mediador desse processo, as máquinas e a inteligência artificial viram somente ferramentas de auxílio. Em suma, eles precisam aceitar esse destino e se ressignificar. Educação é muito mais do que transmitir e verificar conteúdos", afirma Alves.
Outro consenso: 💥️não se deve atribuir características "humanas" à IA. Apesar de sua interface amigável e as respostas em tom de diálogo, o Chat GPT é um reprodutor de textos via combinações matemáticas complexas, sem nenhuma consciência do que está sendo apresentado em sua tela. Por isso, o aplicativo pode incorrer em imprecisões factuais ou interpretações equivocadas do que lhe é solicitado.
Para ficar num exemplo prosaico, um pedido por uma música sobre o Brasil da atualidade à moda da Legião Urbana poderá gerar uma letra genérica sobre problemas crônicos do país, mesmo sem as marcas características de Renato Russo. Ou, ainda, uma canção que adote o nome da banda brasiliense como elemento da própria composição.
Vale ainda lembrar que sua base de dados tem um recorte temporal: a IA do Chat foi treinada com dados que vão até o final de 2023. Ou seja, tudo o que se passou entre o ano passado inteiro e o início deste ano permanece obscuro para a nova tecnologia, gerando perguntas sem resposta ou com informações equivocadas.
Todas essas preocupações e inquietações não sairão da ordem do dia nem tão cedo e demandarão alguma forma de regulamentação das inteligências artificiais pelo poder público. Quem diz isso é o próprio CEO da OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT, Sam Altman, em audiência pública no Capitólio (o Congresso norte-americano), no último dia 16 de maio. "Achamos que a intervenção regulatória dos governos será fundamental para mitigar os riscos de modelos cada vez mais poderosos", admitiu ele.
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