Ela lançou primeiro chocolate indígena e do Xingu: Recuperando florestas

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Katyana desenvolveu o chocolate Sidjä Wahiü (que significa mulher forte), sendo o primeiro do Xingu e indígena. No texto de Katyana, reflexões sobre acesso e um olhar verdadeiro sobre questões que atravessam os povos indígenas.

Mais do que falar, ouvir. Por isso agora, com a palavra, Katyana Xipaya:

*

"Se eu tivesse uma forma de falar para o homem branco e para os povos indígenas, eu diria que todos temos sangue vermelho. Com meu olhar indígena, diria que não é mais aceitável que as etnias dividam tanto e, muitas vezes como inimigos, os habitantes do planeta Terra em vários povos distintos.

Diria que isso não pode estabelecer privilégios e nos credenciar na sociedade e que o DNA é uma molécula que define a cor da nossa pele e o tipo de cabelo, não as desigualdades sociais. Não podemos nascer com o destino comprometido por sermos indígenas ou negro ou pobres. Não aceito.

Depois de uma série de conversas com algumas pessoas não indígenas e de muita reflexão, eu hoje entendo o 'privilégio' do povo branco de forma diferente. Muitos não conseguem saber o que é ser como eu, uma indígena, embora quem eu seja, em parte é uma resposta a quem veio sendo o homem branco e o que meus ancestrais me contaram. Essa relação, por séculos, veio determinando muito do que é possível na minha vida e na vida de tantos povos indígenas.

💥️Contudo, se o mundo mudou e o homem branco continua sendo homem branco, por que a gente não pode evoluir junto e continuar sendo indígena? Por que não podemos ser indígena empreendedor, empresário, agricultor, universitário, professor, médico, advogado? Por que os governos, a Funai e o Ministério Público Federal não nos perguntam como os indígenas contemporâneos querem viver?

Podemos ter acesso às tecnologias e compartilhar dos objetos e hábitos típicos das culturas ocidentais e isso não significa que estamos anulando nossas crenças e heranças ancestrais e nossos saberes milenares.

💥️Por que tenho que plantar para subsistência? Como líder da Comunidade Jericoá 2, na região da Volta Grande do Xingu, em Altamira, no Pará, eu, indígena Katyana Xipaya, de 36 anos, sou hoje agricultora e empreendedora em ascensão da região amazônica. Plantei e colhi 17 mil pés de cacau e desidratei frutas utilizando técnicas ancestrais. Tinha uma ideia e pude ter acesso a oportunidades, a partir de uma ação do Centro de Empreendedorismo da Amazônia e da Usina Belo Monte.

Aprendi o tempo certo para colher o cacau e aproveitar todas as propriedades. Aprendi a burocracia para abrir e tocar uma empresa. O que quero chamar a atenção aqui é que meu olhar mudou quando eu permiti. E, na região onde eu atuo, também estou conseguindo mudar o olhar do homem branco sobre nós, indígenas - não índios.

Mas voltando ao cacau, e já falando como empreendedora, a melhor amêndoa do Brasil é oriunda do Pará e eu tinha toda a matéria prima no meu quintal. O chocolate Sidjä Wahiü (mulher forte) é hoje uma realidade. A minha realidade. O primeiro chocolate do Xingu e indígena do país.

💥️Além de ajudar a desenvolver economicamente meu povo, a produção sustentável de cacau feita por nós, indígenas, vem recuperando florestas degradadas na região amazônica, pois aplica sistemas agroflorestais combinando cultivos de banana, açaí, mandioca e cupuaçu.

Para meus parentes, para os povos indígenas, eu diria que olhem para esse exemplo. Temos muitos a ensinar para os povos não indígenas e muito a aprender com esses mesmos povos. Diria que temos que nadar e nadar muito, não boiar. Sabemos o caminho para desenvolver os povos e podemos ensinar a trabalhar as nossas riquezas sem destruir a nossa floresta - que precisamos proteger diariamente.

Esta é a missão que acredito. É por ela que o país deve seguir''.

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