Seres humanos x tubarões: Quem é que mais come quem nessa história?
Não há diferença entre cação e tubarão, mas a nossa experiência mostra que fica muito mais fácil de engolir, literalmente, quando se usa um outro nome.
Mas a relação de nós, brasileiros, com um dos animais mais temidos do mar nem sempre foi assim.
Apesar de os tubarões serem pescados e consumidos há muito tempo pelas comunidades tradicionais, o interesse comercial e em grande escala é recente, vem de poucas décadas. Em grande parte, impulsionado pelo mercado internacional. E é aí que a gente entra em uma história cada vez mais sinistra.
É possível que uma outra notícia envolvendo tubarões tenha passado despercebida: No mês passado, 💥️o Ibama apreendeu 28,7 toneladas de nadadeiras, a maior apreensão da história, sendo a maior parte em Santa Catarina (27,6 ton) e uma pequena fração em São Paulo (1,1 ton). A quem interessa tantas toneladas de nadadeiras de tubarão?
Pescar apenas as nadadeiras é bem mais interessante comercialmente, não só por elas valerem mais, mas por pesarem menos, liberando mais espaço no barco.
Mas e o corpo do tubarão? O animal mutilado é devolvido ao mar. E como esses animais precisam nadar constantemente para a água passar por suas brânquias e respirarem, eles acabam morrendo sufocados.
E o que fazer com toda essa carne? Vender para os poucos países que consomem o animal, casos do Brasil e do México. 💥️E foi assim que nos tornamos não só o maior consumidor de carne de tubarão do mundo, mas também o maior importador.
O próprio carregamento recorde que virou notícia não foi apreendido por se tratar de nadadeiras, já que isso não é um crime em si, mas sim por uma série de outras ilegalidades que vão de espécies ameaçadas de extinção a ausência das licenças necessárias.
💥️As quase 29 toneladas de nadadeiras correspondem a mais de 10 mil tubarões mortos: pode parecer muito, mas, mundialmente, estima-se que sejamos responsáveis por matar 11 mil tubarões por hora, e 100 milhões de tubarões por ano.
Nós brasileiros contribuímos para essa estatística toda vez que consumimos cação, ainda que na grande maioria das vezes desavisados e até pensando fazer uma boa escolha, já que é "peixe é mais saudável".
E nem isso é verdade, no caso, nem para nós nem para a natureza, já que a carne de cação (tubarão) possui altas concentrações de metais pesados como arsênio e mercúrio, ambos altamente prejudiciais à saúde humana e ligados à câncer e sérias consequências neurológicas. Afinal, havia de ter algo estranho para países de "primeiro mundo" não terem interesse nessa carne toda de tubarão, não é?!
💥️No fim, tubarões são responsáveis por apenas 10 mortes humanas por ano na média, um número muito menor que outros animais selvagens, como crocodilos (cerca de 1000 mortes/ano) e hipopótamos (500 mortes/ano), e exponencialmente menor do que os 100 milhões de tubarões que nós matamos.
Talvez por culpa dos filmes hollywoodianos ou por sabermos ser tão ineficientes na água, é fato que os tubarões dominam nosso imaginário. Mas, ao olhar racionalmente para os números, fica bem claro quem come quem.
✅*Beatriz Mattiuzzo é oceanógrafa, mestranda em Práticas de Desenvolvimento Sustentável, instrutora de mergulho e cofundadora da Marulho, negócio socioambiental que intercepta redes de pesca junto a pescadores locais em Angra dos Reis.
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