Jesus e os direitos humanos: um livro que cabe bem na nossa semana

Durante a Conferência de Estoril, em 2011, o escritor moçambicano Mia Couto fez um discurso ao qual recorro de tempos em tempos. Suas palavras me ajudam a explicar muita coisa, por mais diferentes que sejam entre si. Vou trazê-las para a conversa de hoje. O texto chama-se Murar o Medo.

Fazendo um passeio pela história de seu país, do período colonial até os tempos atuais, Mia constrói didaticamente uma imagem de como o medo é uma poderosa aliada na construção de sociedades baseadas na violenta ideia de que existe um certo jeito certo de ser e se estar no mundo: o seu. E que a simples existência de algo, ou alguém, que não seja parecido comigo é, por si só, uma ameaça. Logo, precisa ser eliminada.

Não tem qualquer sentido, mas foi vendida assim: tudo que não sou eu, merece todas as formas da violência. Da palavra às vias de fato. E isso tem se instalado nas sociedades. Diz um trecho do discurso, e acho que combina bem com o que aconteceu nos últimos dias: há quem tenha medo de que o medo um dia acabe.

A espiritualidade é importante, todas as formas de se manifestar no mundo. E precisamos lutar para que as pessoas tenham seu direito a ela assegurado, até para que possam escolher acreditar em coisa alguma. O que precisamos evidenciar com urgência é a diferença entre um discurso de fé e um discurso ódio. O primeiro engradece o espírito, o segundo banaliza a barbárie e autoriza a morte. Me lembrei do MC Marechal, um dos compositores de Favela Vive 5, quando ele canta: cuidado com aqueles que falam em nome de Deus, o que Deus nunca disse.

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