Diversidade e pluriculturalidade: qual caminho devemos seguir?

No Brasil, o número de pessoas que se autodeclaram negras e pardas é crescente. No último censo do IBGE (2021) representava 56,1% da população em contraposição ao crescente declínio de autodeclarações de pessoas brancas (43%). Porém, nas lideranças essa representatividade não se apresenta desde os cargos de diretoria e gerência ocupados por 95% de pessoas brancas (G1 2023), assim como na educação, em que somente 3% das universidades têm equidade racial entre professores (Jornal de Brasilia 2023).

Segundo o Instituto Identidades do Brasil (2023), nós demoraríamos 150 anos para equipararmos esta realidade se tomarmos agora ações propositivas para viabilizar uma mudança.

💥️Se a maioria das pessoas não sabe fazer da diversidade uma realidade, como agir diferente?

O discurso da diversidade "entrou na moda" e corre um grande risco de ser meramente teórico e retórico, se não aprofundarmos este debate. O grande filósofo e pensador de nosso tempo, Ailton Krenak, já foi indagado se as sociedades indígenas conseguirão resistir aos constantes massacres. Ele nos lembra que os povos originários já vêm resistindo há 523 anos às biopolíticas de extermínio, e nos devolve a indagação: os não-indígenas conseguirão sobreviver ao autoritarismo implementado em suas sociedades?

No documentário Guerras do Brasil.doc, Ailton nos lembra que "quando os brancos chegaram, eles foram admitidos como mais um na diferença. Se os brancos tivessem educação, eles poderiam ter continuado vivendo aqui no meio daqueles povos e produzido outro tipo de experiência..."

💥️Mais que diversa, nossa existência deve ser pluricultural

💥️A coexistência e o bem viver entre pessoas e culturas diversas é uma prática estabelecida dentro das sociedades pluriculturais. A legitimação da diferença é uma característica da pluriculturalidade que representa o caminho de enriquecimento que precisamos compreender, quando buscamos alcançar a diversidade.

Aprender a viver em meio a diferença é a chave para o fim do racismo e da intolerância nas sociedades modernas. A prática da diversidade e inclusão vem reunindo pessoas diversas em um mesmo espaço, "controladas" pelas práticas hegemônicas de forma a favorecer a continuidade dos processos de opressão que exterminam a própria diversidade.

💥️A educação é apontada como saída para aprender a desaprender. Ser diverso em uma sociedade racista e ultra capitalista não é uma realidade. É preciso se abrir para novas práticas sociais e desaprender velhos hábitos coloniais. Aceitar o mundo do outro, que é diferente do seu, é aprender sobre sistemas de organização de sociedades pluriculturais, a convivência mediante às diversas formas de governança, línguas e culturas que preservam as diferenças e se articulam em vida ecossistêmica. Cuidando de nossas diferenças em um espaço comum onde natureza e humanidade são indissociáveis.

💥️Para agirmos como diversos, precisamos aprofundar o debate sobre diversidade

Nos reeducar e mudar nossas formas de pensar é complexo e próspero. Convido cada um de vocês a vivenciar novos mundos para cocriarmos espaços de inclusão plurais. Sair da superfície e beber na fonte. Respeitar o outro que é diferente de você e não reproduzir práticas universalizantes e essencialistas.

Há um caminho de existência que poderá libertar nossa sociedade dos caminhos de extermínio e de luta pela sobrevivência. A diversidade não deve ser mais uma "lavagem" discursiva, e para isso devemos abrir os olhos, mentes e sentidos para a pluriculturalidade como possibilidade de consolidação de caminhos sustentáveis em meio a diferença.

*Julia Vidal é neta de paraense, filha de baiana e nascida no Rio de Janeiro. É designer estratégica, educadora e consultora. Idealizadora da Escola Consultoria Pluricultural Ewà Poranga. Com um grupo de mestres negros e indígenas, desenvolve um programa de educação corporativa que implementa práticas de diversidade e educação pluricultural para negócios e empreendimentos. Finalista do Prêmio ECOA na Categoria Negócios que Impactam.

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