Boia fria até os 19 anos, José Sarmento acaba de publicar seu 13º romance

"Ela usava uma palmatória, era muito severa. Mas como eu estava interessado em aprender a ler corrido, não cheguei a causar e tomar pancadas na mão aberta", conta. Foram quatro anos assim, e o Zé se enfiando todo dia mais em tudo quanto era livro que brotasse em sua vila que era maior que o mundo, pra ele. "A leitura começou a me atrasar para todo tipo de diversão, até para jogar bola".

Para conseguir sustentar os estudos até a oitava série, José precisou arrumar rápido um trabalho, virou bóia fria como tantos outros que conhecia. Essa parte até lembra o Darcy Ribeiro: a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto.

Zé Sarmento autografando livro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Como nasce um livro? E um escritor?

"Num domingo à tardinha de fevereiro de 2008, eu estava na sala da minha casa zapeando entre Faustão e Gugu, quando dei um pulo pra cima da TV e gritei: amanhã volto a estudar. Minha família se assustou", se diverte. Zé é pai de quatro filhos, todos criados.

"No outro dia fui até a Presidente Kennedy, escola aqui do Campo Limpo, procurar saber sobre a modalidade de ensino EJA - Educação de Jovens e Adultos. Tiro e queda. Tem documento aí? Tenho, tome. Preencha essa ficha, assinado. Começa tal dia, senhor José. Obrigado, por nada". Um ano e meio depois ele, enfim, encerrava um ciclo que começou quatro décadas antes. Estava, enfim, formado no ensino médio.

Zé Sarmento em sua formatura - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Existem muitas maneiras de contar uma história, poucas pessoas sabem isso tão bem quanto o José Sarmento. Essa foi a nossa maneira, que nasceu da nossa conversa. E de cada conversa nova com ele nascerá outra, e outra, e outra. Que ele seja contado muitas outras vezes, que mais pessoas o leiam e saibam que ele existe, que a sua literatura existe. A sua literatura operária, do aperreio, como diz.

Zé Sarmento em sala de aula - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal Zé Sarmento em sala de aula

"Me considero resistente como o cacto da caatinga, a aroeira, o angico. Feito um pé de umbu", encerra. Que não precise, José. Que o Brasil do futuro cuide melhor dos seus filhos e filhas, que a elas e eles sejam dadas todas as condições para apenas serem o que vieram ser no mundo: talento esparramado em cada página. Feito você.

O que você está lendo é [Boia fria até os 19 anos, José Sarmento acaba de publicar seu 13º romance].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...