Com uso de resíduos, projeto emprega detentas na costura

💥️Ao longo dos nove meses em que esteve presa, a paulistana Shirley Teixeira de Oliveira, 25, se via atormentada por uma questão: como superar o preconceito da detenção e conseguir um novo emprego?

Após conseguir a liberdade, ela conheceu o Movimento Eu Visto O Bem, iniciativa que emprega, na costura, mulheres egressas ou que ainda estão dentro do sistema penitenciário de São Paulo (SP).

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De arrematadeira, ela logo foi promovida a auxiliar de almoxarifado e, então, pôde realizar o que mais duvidava: ter um emprego com carteira assinada.

"Fiquei uns três meses no arremate, embalando, passando, e subi de cargo depois. A gente vai aprendendo aos poucos. Hoje eu cuido do estoque, da entrada e saída dos cortes, bordados [...] quando vai para a penitenciária e volta, tenho o controle. Tenho chances de crescer aqui", conta a jovem, mãe de uma menina de 9 anos.

💥️Além de dar apoio a egressas como Shirley no recomeço de sua carreira, o projeto tem como alvo a reciclagem de resíduos da indústria têxtil, garantindo que os tecidos usados para confecção retornem para a economia.

Como conta Roberta Negrini, fundadora e CEO do Movimento Eu Visto O Bem, a ideia surgiu de um incômodo com o desperdício e a desigualdade salarial no mercado da moda. "Eu pensava se não seria possível desenvolver um modelo de negócio, uma empresa mesmo, que crescesse economicamente e gerasse impacto positivo para o meio ambiente e as pessoas", lembra,

Uma nova chance para as 'invisíveis'

Após conhecer o Segunda Chance, projeto da organização não governamental AfroReggae, que emprega pessoas que deixaram o sistema prisional, Roberta percebeu que também poderia fazer a diferença junto a esse público.

"Conheci ali uma mulher que estava desesperada para reaver a guarda dos filhos e, para isso, precisaria de trabalho e endereço fixo. Ela chorava copiosamente e aquilo me chamou muita atenção. 💥️São mulheres consideradas invisíveis, pessoas que não nos damos conta que existem", diz.

Divulgação/Movimento Eu Visto O Bem - Divulgação/Movimento Eu Visto O Bem - Divulgação/Movimento Eu Visto O Bem Com uma capacidade produtiva de até 20 mil peças por mês, hoje os tecidos são 100% provenientes de economia circular, seja por meio da reciclagem de garrafas PET ou via desfibrador de algodão. - Divulgação/Movimento Eu Visto O Bem - Divulgação/Movimento Eu Visto O Bem Com uma capacidade produtiva de até 20 mil peças por mês, hoje os tecidos são 100% provenientes de economia circular, seja por meio da reciclagem de garrafas PET ou via desfibrador de algodão.

Dar emprego e salvar o meio ambiente

Com sede em São Paulo, o Movimento Eu Visto O Bem conta com três núcleos produtivos, dois deles na Penitenciária Feminina Sant'Ana, na zona norte da capital, e outro em um galpão na Vila Leopoldina, zona oeste da cidade. Nesse último espaço, trabalham mulheres que já conseguiram a liberdade e mulheres liberadas diariamente para a atividade com uso de tornozeleira eletrônica. A organização ensina costura do nível básico ao avançado para as colaboradoras.

Enquanto as egressas são contratadas em regime CLT, as mulheres que ainda estão cumprindo pena recebem o salário em uma conta pecúlio, podendo utilizar os valores para suprir pequenas despesas pessoais, como itens de higiene, ou enviá-los a familiares.

Os salários variam de função para função, mas todas recebem, no mínimo, o piso na área de costura em São Paulo, de R$ 1.280. Roberta calcula que mais de 600 mulheres já passaram pelo negócio, sendo que, atualmente, há 50 mulheres cumprindo pena e nove egressas em atuação.

💥️Num contexto de crise climática e forte desigualdade de gênero no mundo do trabalho, o Movimento Eu Visto O Bem propõe soluções que combinam produtividade com impacto social. "É a solução para o descarte de resíduos e, ao mesmo tempo, para gerar oportunidade à mulher que não tem empregabilidade no mercado de trabalho. São produtos que merecem existir", finaliza Roberta.

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