Cientistas intrigados com bactéria que transforma sangue...
Uma equipa de investigadores afirma ter encontrado uma bactéria comum que pode facilmente manipular as enzimas presentes no sangue para o transformar num tipo de dador universal. Esta poderá ser uma descoberta de enorme importância para a humanidade.
Estaremos mais perto de um "sangue universal"
Este processo, se for alargado para utilização clínica, poderá ter consequências médicas e sociais significativas. As reservas de sangue a nível mundial são sempre escassas, em especial nos países de baixos rendimentos - uma situação que se tornará ainda mais grave devido ao rápido envelhecimento da população.
De um modo geral, os grupos sanguíneos são determinados pela presença de antigénios A e B nos glóbulos vermelhos. Os tipos do grupo O não têm nenhum destes antigénios.
Os profissionais de saúde têm de ser extremamente cuidadosos no que diz respeito aos tipos de sangue, uma vez que a transfusão do tipo errado pode levar o sistema imunitário a atacar as novas células sanguíneas, o que pode ser fatal.
Investigadores da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) e da Universidade de Lund, na Suécia, que investigavam uma solução, descobriram que enzimas específicas produzidas por 💥️bactérias intestinais comuns eram capazes de remover os antigénios A e B, abrindo potencialmente o caminho para garantir um fornecimento constante de sangue de dadores universais.
Pela primeira vez, os novos cocktails de enzimas não só removem os antigénios A e B bem descritos, mas também variantes alargadas anteriormente não reconhecidas como problemáticas para a segurança da transfusão.
Afirmou Maher Abou Hachem, investigador da DTU e principal autor de um novo artigo sobre as descobertas publicado na revista Nature Microbiology, em comunicado.
Akkermansia muciniphila é uma bactéria degradadora descoberta em 2004. Está presente no intestino humano.
Enzima comum no intestino humano
A ideia de remover o par de enzimas existe há mais de 40 anos. Apesar dos esforços dos cientistas, ninguém tinha encontrado uma forma de produzir sangue de dador universal sem correr o risco de reações imunitárias, o que impediu que a ideia fosse utilizada em clínicas.
Mas agora, Abou Hachem e a sua equipa descobriram que uma enzima comum no intestino humano, chamada Akkermansia muciniphila, é extremamente eficiente na decomposição dos antigénios A e B, uma vez que se assemelham muito ao muco abundante que consome no intestino para se alimentar.
O que é especial na mucosa é que as bactérias, que são capazes de viver neste material, têm frequentemente enzimas feitas à medida para quebrar as estruturas de açúcar da mucosa, que incluem os antigénios ABO do grupo sanguíneo. Esta hipótese revelou-se correta.
Explicou Abou Hachem.
Um tipo de sangue universal fiável e seguro teria vantagens consideráveis.
O sangue universal permitirá uma utilização mais eficiente do sangue dos dadores e evitará também a administração de transfusões ABO incompatíveis por engano, o que pode ter consequências potencialmente fatais para o recetor.
Quando conseguirmos criar sangue de dador ABO-universal, simplificaremos a logística do transporte e administração de produtos sanguíneos seguros, ao mesmo tempo que minimizamos o desperdício de sangue.
Afirmou Martin Olsson, professor de hematologia da Universidade de Lund e principal autor do estudo, no comunicado.
No entanto, ainda é muito cedo para dizer se o novo processo pode efetivamente revolucionar as transfusões de sangue. A equipa espera agora testar o seu novo processo em ensaios clínicos, mas mesmo que se prove o seu sucesso - o que está longe de ser uma garantia - qualquer produção comercial deverá estar ainda a muitos anos de distância.
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