O uso de força desproporcional na vida, na guerra e nas eleições

Muitos de nós, na vida pessoal, já reagimos a uma situação adversa com força desproporcional, atingindo gente querida, amigos ou colegas de trabalho. Neste caso, o impacto se restringe a nosso núcleo mais próximo, o que nos dá a oportunidade de rever comportamentos, aprender e pedir desculpas.

Já na vida em sociedade, os danos são de outra ordem e passam mensagens para um grande número de pessoas.

Por isso, é necessário que as respostas sejam rápidas e contundentes. Caso contrário, colocamos em risco a base de valores da sociedade e, então, flertamos com o caos. Embora muitos defendam que já estamos nele.

No caso das eleições municipais de São Paulo, ao permitir que Pablo Marçal faça ataques misóginos, acuse sem provas e xingue seus oponentes, as redes que promovem os debates — e seus mediadores mostram-se coniventes com este comportamento. Marçal deveria ter sido advertido e, na reincidência, excluído do debate.

Em São Luiz, no Maranhão, o candidato à reeleição, irritado com uma pergunta de seu opositor, simplesmente desferiu-lhe uma cabeçada, ao vivo. Deveria ter recebido o cartão vermelho na hora, sem apelação. Nos dois casos, a exclusão seria um exemplo de conduta e mostraria que há limites civilizados para as discussões. Seria também uma mensagem para reduzir a violência política entre grupos e amigos: há limites de respeito e de convivência que estão acima de nossas diferenças políticas.

O pedido de resposta não dá conta das baixarias perpetradas por candidatos oportunistas. Nestes casos, o infrator é beneficiado porque utiliza-se de recortes de suas falas para vendê-las como verdade nas redes sociais. Cenas deprimentes como estas afastam as pessoas da política. E quanto mais as pessoas se desinteressam pela política, maior é o terreno fértil para oportunistas que se utilizam da democracia como trampolim para a defesa de projetos pessoais e dos grupos econômicos que defendem. Nestes episódios, chama a atenção a falta de resposta dos mediadores ao comportamento violento dos candidatos. Não há pico de audiência que justifique esta leniência, pois algo maior está em jogo: a valorização da política e a defesa da democracia.

No campo da tecnologia, o poder das big techs está redesenhando o mundo. A seu bel prazer. Ou dos cinco homens poderosos que as dirigem. O que pensam da vida? Qual a sua visão de mundo? Quais seus objetivos? Na realidade, defendem seus interesses imediatos. E que se dane o impacto negativo que produzem na sociedade. Elon Musk os personifica. Neste caso, a força desproporcional está em utilizarem-se de suas empresas para moldar e manipular a mente de bilhões de pessoas, fortalecendo projetos políticos que defendem seus interesses.

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