As raízes históricas da crítica machista à tia dos gatos
Nenhum outro animal definiu a sexualidade feminina sob a perspectiva masculina ocidental como os gatos. Mulheres bonitas e atraentes são chamadas de "gatas"; e não é raro ouvir que são "felinas" —sexualmente provocantes.
O outro lado deste estereótipo é o clichê desprovido de sexualidade da "mulher solteira que vive com gatos". E como os comentários feitos em 2023 pelo companheiro de chapa de Donald Trump, J.D. Vance, vieram à tona novamente recentemente, parece que a alegoria da "tia dos gatos" está bastante viva.
Mas, afinal, qual a origem deste criticismo sexista?
O estereótipo da "tia dos gatos" (ou ✅cat lady, em inglês) é baseado na "solteirona"; uma mulher sem um homem, ou uma abreviação para lésbica. Em sua forma mais comum, ela é retratada como uma mulher reclusa de óculos e casaquinho —e que possui pelo menos um gato, se não vários.
Como Alice Maddicott, autora de "✅Cat Women: An Exploration of Feline Friendships and Lingering Superstitions" ("Mulheres-gato: uma exploração de amizades felinas e superstições remanescentes", em tradução livre), diz à BBC, os vínculos históricos entre mulheres e gatos têm origem em muito tempo atrás, e são acompanhados por uma dicotomia persistente entre o hipersexual e o não-sexual.
A mulher de Bath, personagem dos contos de Geoffrey Chaucer, por exemplo, foi chamada de gata "para insultá-la e sugerir que era promíscua", explica Maddicott. Em outras palavras, "ser uma 'tia dos gatos' faz você perder a sexualidade, mas o gato também pode ser usado como um insulto referindo-se à promiscuidade e à luxúria".
Não é algo tão impensável; basta lembrar do termo contemporâneo em inglês ✅cougar —que significa "puma"—, usado para descrever mulheres que namoram homens mais jovens.
A associação entre mulheres e gatos é mais antiga e mais difundida. No antigo Egito, onde os gatos foram domesticados há quase 10 mil anos, uma deusa metade gato, metade humana, Bastet, era reverenciada como a deusa da domesticidade, da fertilidade e do parto.
Ela protegia a casa de espíritos malignos e doenças e, como acontecia com a maioria das divindades egípcias, também desempenhava um papel na vida após a morte como guia e ajudante dos mortos. Na época greco-romana, surgiram interpretações de Bastet como Ártemis (Grécia) e Diana (Roma), sendo sua ligação com os gatos ainda visível, embora em menor grau.
Elas assumiram formas humanas, com Ártemis ainda intimamente ligada aos gatos, e Diana se transformando em gato (especificamente no poema "Metamorfoses"✅, de Ovídio, quando os deuses romanos fugiram para o Egito).
Na Europa, talvez o exemplo mais proeminente esteja na mitologia nórdica: Freyja, a deusa da fertilidade, do amor e da sorte, andava numa carruagem levada por dois gatos machos.
Na China antiga, o controle de pragas e a fertilidade eram atribuídos à deusa-gata, Li Shou.
Mas, afinal, quando foi que a associação entre mulheres e gatos —sobretudo no Ocidente— se tornou mais negativa e controversa?
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